� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Ajustes e conflitos
� consenso neste in�cio de ano eleitoral que a pol�tica econ�mica brasileira precisa passar por um ajuste, se n�o agora, pelo menos em 2015. Mesmo discordando do pessimismo de quem olha para indicadores artificiais, como a meta central de infla��o e a de superavit prim�rio, sigo a avalia��o.
A piora do saldo do balan�o de pagamentos brasileiro e a redu��o dos est�mulos monet�rios nos EUA, que tendem a apreciar o d�lar, provavelmente aprofundar�o a desvaloriza��o do real por um bom per�odo.
Na d�cada passada, a aprecia��o cambial permitiu distribuir renda, crescer e manter a infla��o baixa. Foi poss�vel ao PT conjugar sua prioridade pol�tica, melhorar a vida dos mais pobres para tornar o pa�s mais igualit�rio (e rico), com o aumento de renda em todas as camadas sociais. Sem grandes conflitos distributivos, portanto.
A desvaloriza��o em curso � ruim porque significa perda para os sal�rios reais. Mas tamb�m � boa porque favorece a competitividade da produ��o local, criando melhores condi��es para alinhar o crescimento do consumo gerado pela inclus�o ao da produ��o. Para tanto, ajustes s�o necess�rios. Resta saber quais.
O liberalismo econ�mico tem sua receita: elevar juros e cortar despesas p�blicas -ou fazer ajuste fiscal, mesmo que pelo aumento da carga tribut�ria- para conter a infla��o e recuperar a confian�a do investidor.
Quem j� tem renda alta e, assim, � capaz de poupar tende a apoiar esse ajuste. Os juros altos significam ter de volta aplica��es financeiras seguras e rent�veis em t�tulos p�blicos. Ademais, a princ�pio, todos gostamos de infla��o baixa.
O problema � que esse tipo de ajuste tende a significar uma recess�o, o golpe que faltava para que, diante da deprecia��o cambial, seja revertida a trajet�ria de aumento dos sal�rios reais, pe�a fundamental do esfor�o inclusivo.
A taxa de c�mbio mais depreciada n�o ser� suficiente para provocar a retomada. Afinal, tal como os juros, um c�mbio mais favor�vel � importante para normalizar as condi��es de produzir localmente, mas por si s� n�o oferece a demanda, o componente central para as decis�es de investimento no capitalismo.
Sem as boas condi��es de balan�o de pagamentos do governo Lula, a aplica��o r�gida do "trip� da pol�tica econ�mica" seria letal para as prioridades do PT. Essa � uma express�o de um conflito distributivo que se avizinha no pa�s.
A alternativa � insistir em suas prioridades, refor�ando o investimento em geral em infraestrutura e os gastos nas pol�ticas p�blicas, com destaque para mobilidade urbana, sa�de e educa��o. Para tanto, um outro tipo de ajuste � necess�rio.
Ser� preciso aceitar que a infla��o anual pode ser maior que 4,5% e at� que 6,5%. N�o se trata de deixar, como na Argentina, que se crie uma espiral entre pre�os e c�mbio. Por�m, para os mais pobres e os assalariados, durante o ajuste cambial, � melhor ter dois ou tr�s pontos percentuais a mais de infla��o, como ocorreu na deprecia��o de 2002, do que dois ou um ponto percentual a menos de crescimento.
Desde o fim do c�mbio fixo, em 1999, a regra � que a meta de infla��o n�o � cumprida quando h� deprecia��o real da moeda brasileira. Os anos de 2012 e 2013 foram exce��es, explicadas pelas desonera��es e outras a��es com impacto fiscal.
Outra possibilidade � mudar as metas de superavit prim�rio, que poderia se tornar uma banda, em vez de um piso fixo. As condi��es fiscais brasileiras, com d�vida p�blica baixa para os padr�es internacionais, permitem tal relaxamento.
Numa op��o por um certo conservadorismo, h� algumas fontes de ganho fiscal, que enfrentam conflitos mais localizados e, por isso, mais diretamente dolorosos.
A mais evidente � cortar grande parte das desonera��es, que recomp�s margens de lucro, por�m sem trazer crescimento, e se tornou desnecess�ria com a deprecia��o cambial. H� ainda
medidas como a conten��o salarial de servidores federais bem remunerados e a elimina��o de grandes focos de problemas, como o seguro-desemprego, cujos disp�ndios t�m sido crescentes mesmo com o emprego em alta.
Dada a histeria que costuma pautar o debate em torno do trip�, ser� dif�cil faz�-lo em base racional durante a elei��o. Nesse sentido, uma boa contribui��o do jornalismo econ�mico seria buscar melhor entender essa discuss�o, tornando-a mais plural e bem especificada. � o tema da semana que vem.
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