� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
O Estado empreendedor
A coluna passada destacou que a atua��o do Estado -ao tomar e diluir riscos que a iniciativa privada n�o � capaz de aceitar- condiciona decisivamente o desempenho das empresas. Hoje, o objetivo � discutir casos recentes de intera��o p�blico-privada em inova��es.
No livro "The Entrepeneurial State", a professora da Sussex University Mariana Mazzucato mostra que o Estado tem um papel no processo inovativo que vai al�m do de corrigir falhas de mercado, seja como regulador, por exemplo, ao impor cuidados ambientais que as firmas n�o teriam sob a press�o de reduzir custos, como patrocinador da pesquisa b�sica ou dando benef�cios tribut�rios ao P&D.
Nos EUA, o Estado tem um papel de lideran�a, definindo objetivos e tomando riscos, em desafios que costumam exigir 20 anos para dar frutos de mercado.
Por exemplo, no sucesso da Apple, houve o g�nio de Steve Jobs e sua equipe em criar belos designs ou em obter a fina sintonia que caracteriza a integra��o dos produtos da empresa. Mas os gastos p�blicos, civis e militares est�o por tr�s de tecnologias -de comunica��o, internet, GPS, telas sens�veis ao toque etc- sem as quais o empreendedorismo privado n�o teria criado a Apple ou o Google.
O Brasil tem bons exemplos nos �ltimos anos. H� as grandes opera��es de renda vari�vel do BNDES. Essa atua��o foi mal denominada de "pol�tica escolha dos campe�es nacionais", sugerindo que ela envolve benef�cios indevidos a grupos privados. Mas o BNDES h� d�cadas participa de fus�es e aquisi��es sem provocar grande alarde. A novidade recente foi que parte delas teve um objetivo nobre, a internacionaliza��o de grupos nacionais.
A internacionaliza��o � uma inova��o desafiadora, pois, visando obter novos espa�os de valoriza��o (China, EUA, �frica), exige que um grupo domine cadeias globais e se exponha a uma dura concorr�ncia.
A promessa � obter lucros, empregos, divisas e competitividade. Mas os riscos s�o altos e os retornos, de longo prazo. Por isso, o uso da renda vari�vel � desej�vel, permitindo ao Estado compartilhar os lucros.
No campo tecnol�gico, na d�cada passada foram ampliadas significativamente as fontes de recursos para inova��o, via Lei do Bem, Lei da Inova��o e linhas da Finep e do BNDES. A oferta de recursos, por�m, n�o necessariamente significa maior demanda das empresas por ampliar as atividades inovadoras.
Nesse sentido, outra iniciativa � o Inova Empresa. Seu avan�o est� em o Estado, por meio de chamadas p�blicas, definir os desafios -como o carro el�trico na energia, os medicamentos de base biotecnol�gica em f�rmacos e o etanol de segunda gera��o- para que as empresas se organizem para buscar os recursos de subven��o e financiamento privilegiados da Finep e do BNDES.
Os projetos poderiam ter sido apresentados anteriormente, pois as linhas j� existiam. Por�m a sinaliza��o do Estado ajudou a alinhar as iniciativas privadas.
Contudo, essas foram a��es relativamente conservadoras. As opera��es de fus�es do BNDES partiram de iniciativas do mercado e ocorreram em setores tradicionais, como o de carnes, em que o pa�s j� tinha grupos competitivos. A exig�ncia de maturidade � uma limita��o das grandes opera��es de renda vari�vel, que visam mais ao lucro do projeto e n�o da carteira, ainda que num horizonte mais largo do que os dois ou tr�s anos exigidos pelos fundos privados de "equity".
No Inova Empresa, o caso mais bem sucedido � o da produ��o de etanol a partir do baga�o da cana. Claro, o pa�s j� era competitivo no setor em raz�o de um esfor�o tecnol�gico p�blico de longa data.
Em casos mais incipientes, o modelo do Inova Empresa ajuda, mas pode n�o ser suficiente. Como destacou Ozires Silva, fundador da Embraer, em entrevista recente � Folha, o Brasil pode estar perdendo a chance de criar uma montadora nacional a partir de investimentos nas tecnologias do carro el�trico.
O problema � que existe um forte vi�s ideol�gico contra a atua��o do Estado, que sem d�vida envolve riscos, tanto de mercado quanto de captura dos recursos p�blicos por iniciativas que visam apenas a extrair rendas inapropriadas.
No entanto, � preciso enfrentar tais riscos e tal vi�s, pois a articula��o p�blico-privada � crucial para o sucesso de mercado no capitalismo.
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