� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Mercado mais Estado
A coluna passada terminou questionando se � poss�vel ter no Brasil uma ind�stria de transforma��o que n�o se restrinja ao adensamento das atividades em torno de recursos naturais nos quais o pa�s tem alta competitividade, casos de fertilizantes e dos fornecedores da cadeia de petr�leo e g�s, ou no qual o mercado interno � fator decisivo para a localiza��o por transnacionais de plantas de montagem de bens dur�veis, casos da automobil�stica e de outros bens de consumo.
Para tentar responder, recorro a outro epis�dio no Vietn� em 2012. Ao conversar com um turista americano, me queixei das dificuldades da ind�stria no Brasil. Ele estranhou: "Eu me canso de voar em avi�es brasileiros nos EUA".
A Embraer � um exemplo algo raro, mas n�o �nico, de empresa de capital nacional que atua num setor de alta tecnologia da ind�stria de transforma��o conquistando mercados mundo a fora. O que falta para o Brasil ter mais casos de sucesso?
A estrat�gia liberal recomenda aumentar o grau de abertura � importa��o para que a maior press�o competitiva selecione as empresas mais capazes. Para que os grupos econ�micos locais possam enfrentar a situa��o, deveria haver um esfor�o para reduzir o chamado "custo Brasil".
Se num �mpeto as "reformas" fossem colocadas em pr�tica e acabassem com o "custo Brasil", ser� que as empresas brasileiras estariam prontas para responder bem a uma abertura comercial e conquistar mercados internacionais?
Ningu�m � contra reduzir a burocracia, melhorar a infraestrutura, diminuir os juros etc. Essas s�o coisas que atrapalham produzir e viver no Brasil. Dar respostas a tais problemas � desej�vel, embora nem sempre seja f�cil faz�-lo.
No entanto, � isso que faz a diferen�a decisiva?
Vale constatar que o sucesso dos setores associados aos recursos naturais ocorre a despeito das dificuldades de produzir num pa�s em desenvolvimento. O caso da Embraer � ainda mais not�vel, pois seu desempenho nem sequer se baseia no acesso a dota��es privilegiadas de recursos naturais.
A empresa decolou depois de privatizada, mostrando que a iniciativa privada tem virtudes como a de dar foco de mercado a suas a��es. Mas n�o s�o s� os financiamentos do BNDES, chaves para o sucesso no mercado global de aeronaves, que mostram a import�ncia do Estado para a firma. N�o tivesse nascido empresa p�blica, se beneficiado da m�o de obra e do conhecimento produzidos no ITA e da demanda da Aeron�utica, a Embraer n�o existiria.
Esse � um exemplo de que a articula��o entre as iniciativas p�blica e privada n�o tem o car�ter contradit�rio que usualmente se faz parecer. Essa � a chave para discutir como � poss�vel ter uma ind�stria mais sofisticada no Brasil.
Estado e mercado s�o formas de organiza��o coletiva. � certo que enfatizam tipos opostos de intera��o humana, coopera��o e competi��o, por�m isso n�o significa que devam existir dicotomicamente.
Pelo contr�rio, � desej�vel que concorr�ncia e coopera��o se articulem num sistema de pesos e contrapesos. Na democracia, o acesso ao poder do Estado � decidido pelo mecanismo competitivo das elei��es. No mercado, a competi��o induz efici�ncia de custos, mas � not�rio que o setor privado valoriza sobremaneira a liquidez e n�o aceita tomar riscos por horizontes muito longos.
Por isso, as inova��es mais radicais -em termos tecnol�gicos, como nos casos que ocorrem nas ind�strias farmac�utica e de defesa, ou mercadol�gicos, como nos de ind�strias nascentes, em que as economias de escala representam altos riscos, ou na busca de internacionaliza��o- s�o patrocinadas e mesmo lideradas pelo Estado, via cria��o de estatais, garantia de encomendas ou financiamento. A coopera��o e os or�amentos p�blicos s�o formas de diluir os riscos elevados que a iniciativa privada n�o aceita tomar.
A atua��o empreendedora do Estado condiciona fortemente o desempenho do setor privado. Tal articula��o � mais importante do que a agenda convencional que confere ao setor p�blico a tarefa lateral de reduzir o "custo Brasil".
Mais que isso, se torna poss�vel n�o depender de manter um c�mbio brutalmente depreciado, o que puniria por demais a renda real dos trabalhadores, para dar competitividade � produ��o industrial brasileira.
A pr�xima coluna discutir� exemplos recentes de a��o indutora do Estado.
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