� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Que ind�stria?
Estive de f�rias em 2012 no Vietn�. Numa loja de Han�i, onde tinha comprado gravatas de seda por US$ 5 cada uma, uma vendedora disse a minha mulher que, se tivesse unidades de grife, bastaria trazer para que copiassem. Sem interesse, ela deu a desculpa de que ir�amos embora no dia seguinte. Mas a vendedora retrucou: "Fazemos para amanh�, temos 24 pessoas trabalhando no andar de cima".
A hist�ria ilustra o deslocamento (em ingl�s, "crowding out") que a emerg�ncia da China, trazendo junto outros pa�ses asi�ticos, representou nas �ltimas d�cadas para o mercado industrial em todo o mundo. Para que produzir localmente bens intensivos em trabalho em vez de compr�-los da �sia?
Claro, a ind�stria � a principal geradora e difusora de inova��es. A China mostra que um ambiente industrial robusto -mesmo em setores maduros, explorando m�o de obra barata e fazendo das c�pias um instrumento de inova��o- amplia as possibilidades de desenvolver cadeias produtivas intensivas em tecnologia.
� isso que explica a estrat�gia novo-desenvolvimentista, discutida na coluna de 24/10/2013. Uma deprecia��o cambial acentuada � uma forma de reduzir o custo salarial no Brasil. De in�cio, os trabalhadores s�o sacrificados, por�m a din�mica industrial propiciaria um crescimento sustentado e competitivo, ben�fico a todos.
O problema � o alto custo desse sacrif�cio para um pa�s que j� tem uma renda per capita m�dia, como o Brasil. O n�vel de deprecia��o cambial -e de achatamento
dos sal�rios reais- para fazer frente � concorr�ncia asi�tica teria que ser brutal.
Pior, a experi�ncia da Argentina na �ltima d�cada indica que n�o h� garantia de sucesso. A partir de certo n�vel, os efeitos da deprecia��o s�o predominantemente inflacion�rios, n�o de crescimento. Al�m disso, apesar das altas taxas de expans�o do PIB no per�odo dos Kirchner, isso n�o propiciou uma "mudan�a estrutural" (sofistica��o) da ind�stria do pa�s vizinho.
Mas, para sustentar o crescimento inclusivo e o equil�brio de transa��es correntes (a balan�a comercial e a de servi�os, incluindo as remessas de lucros pelas transnacionais), n�o bastam as exporta��es agropecu�rias e da ind�stria extrativa.
Ent�o, qual � o desenho poss�vel para a ind�stria de transforma��o?
O Brasil tem um conjunto relativamente bem conhecido de setores a desenvolver. Por exemplo, um estudo da Fiesp de 2013 selecionou 12, que n�o se resumem � ind�stria de transforma��o. Entre os vetores do crescimento est�o petr�leo e g�s, infraestrutura, qu�mica, prote�nas animais, automobil�stica, a��car e etanol, complexo de gr�os e constru��o imobili�ria. Entre os setores dinamizados est�o bens de capital, ind�stria naval, siderurgia e fertilizantes.
Para tanto, as diretrizes s�o conhecidas: ter planejamento e previsibilidade nas encomendas de setores de maior conte�do tecnol�gico, bem como aperfei�oar o poder de compra do
Estado e desenvolver a engenharia de projetos nacional. Um sistema tribut�rio menos confuso, um c�mbio menos apreciado e o financiamento de longo prazo em reais s�o itens de alto impacto horizontal.
Por exemplo, a perspectiva de um horizonte est�vel de demanda teve sucesso na �ltima d�cada ao recriar a ind�stria naval brasileira.
Sob um c�mbio menos valorizado, ser� mais f�cil fazer ajustes necess�rios em pol�ticas como as de conte�do local e de uso do poder de compra do Estado.
Esse � um caminho que pode ser bem-sucedido, em especial se o petr�leo do pr�-sal conseguir n�o apenas elevar as vendas de produtos naturais como desenvolver uma cadeia de fornecedores densa e competitiva no Brasil.
Isso significa desenvolver uma ind�stria em torno de setores em que o pa�s tem competitividade global, como tamb�m � o caso dos fertilizantes (insumo agr�cola), ou no qual a exist�ncia de um mercado interno amplo seja um fator decisivo para a localiza��o de plantas produtivas de transnacionais, como na automobil�stica.
Por�m fica um gosto amargo na boca: isso pode n�o ser suficiente para o pa�s ganhar autonomia tecnol�gica e superar as restri��es externas ao crescimento. � poss�vel ter outras configura��es para a ind�stria nacional? Voltarei ao tema.
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