� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Voca��o para o crescimento
Gosto da palavra "voca��o". Em sua acep��o mais usual, quer dizer "ser talhado para algo". Mas sua etimologia indica um outro sentido original, o de atender a um chamado. A associa��o entre uma coisa e outra tem origem religiosa: voca��o significa atender a um chamado interno, que revela a inclina��o para o sacerd�cio.
Um pa�s continental e populoso, como o Brasil, que ainda tem renda m�dia e mal distribu�da, tem "voca��o para o crescimento" porque crescer n�o apenas � algo que deve ser relativamente f�cil de acontecer como tamb�m � um chamado que precisa ser atendido para transform�-lo num lugar melhor de viver.
A import�ncia do crescimento foi tratada na coluna "Crescer � se desenvolver", de 11/10/2012. Hoje o objetivo � discutir as possibilidades e os limites desse objetivo.
Crescer deve ser f�cil porque o Brasil depende primordialmente de seu mercado dom�stico para colocar isso em pr�tica. Basicamente, o gasto p�blico -tanto em investimento em infraestrutura quanto em despesas correntes associadas ao estado de bem-estar social- � capaz de promover um mecanismo de multiplica��o da renda que gera demanda -por TVs, computadores e outros itens b�sicos do consumo moderno que nem sempre toda a popula��o tem acesso- e, por consequ�ncia, tamb�m empregos no setor privado.
Esse crescimento impulsiona o investimento, que faz a produtividade se elevar para fazer a produ��o atender ao maior n�vel de demanda, mesmo a pleno emprego. Conhecido como lei Kaldor-Verdoorn, tal mecanismo aponta a produtividade como vari�vel pr�-c�clica, isto �, aumenta como resultado do crescimento do PIB.
Isso n�o significa que o gasto p�blico criou o moto-cont�nuo. Nos termos do xadrez, a moeda fiduci�ria (sem lastro) conferiu ao Estado o poder de "jogar com as brancas". Claro, o gasto p�blico deve ser direcionado para itens que favore�am os aumentos de produtividade, como para a infraestrutura, para o Estado de bem-estar social e para apoiar o sistema nacional de inova��o.
Mais importante � que, num pa�s em desenvolvimento, a autonomia do gasto p�blico � particularmente poderosa porque a disponibilidade local e global de equipamentos e tecnologias mais eficientes que as utilizadas por grande parte de suas empresas torna mais f�cil a obten��o dos ganhos de produtividade. N�o � toa, a limita��o ao crescimento, como historicamente aconteceu no Brasil, � dada pela disponibilidade de divisas internacionais necess�rias para financiar os investimentos.
Por�m, com o n�vel de reservas cambiais brasileiras, esse n�o � hoje um obst�culo t�o grande, mesmo com o crescimento recente do deficit em transa��es correntes. O problema � que os mesmos est�mulos que permitiram o ac�mulo de reservas tamb�m levaram � aprecia��o do real, afetando a competitividade da ind�stria, que n�o tem absorvido plenamente os est�mulos da forma��o do mercado de consumo massivo. A recente deprecia��o cambial deve ajudar a corrigir o problema.
Entretanto, um c�mbio mais bem posicionado n�o � suficiente. O Brasil precisa retomar o processo de industrializa��o, investindo nos itens que mais geram deficit comerciais: qu�mica, bens de capital e tecnologias de informa��o e comunica��o.
A tarefa � dura e envolve riscos. Empreend�-la n�o significa repetir exatamente o que foi feito no s�culo 20. Por exemplo, o papel indutor do Estado seguir� relevante, mas com menor presen�a de estatais. Embora o mercado externo n�o v� ser o principal vetor do desenvolvimento, ele deve ter um papel mais atuante, pois � o melhor par�metro de competitividade.
A industrializa��o brasileira no s�culo 20 n�o foi totalmente bem-sucedida, pois o pa�s n�o foi capaz de tornar aut�nomo seu desenvolvimento industrial, fazendo a inova��o ser instrumento crucial da busca do lucro pelas empresas nacionais.
No entanto, houve, sim, transforma��o estrutural, o que � fundamental para a sustenta��o do crescimento e a gera��o de mais e melhores empregos.
Hoje, a novidade � que a inclus�o social tem ajudado a resolver problemas que marcaram a industrializa��o no s�culo, como os de escalas produtivas incompat�veis com tamanho do mercado interno.
Crescimento, inclus�o social e industrializa��o s�o faces de uma mesma voca��o que o Brasil precisa atender.
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