� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Ainda o debate com a direita
A coluna passada tentou caracterizar concord�ncias (pol�ticas) e discord�ncias (econ�micas) de uma vis�o de esquerda com a direita liberal-conservadora. Como parte do trabalho, fui ler colunas de Luiz Felipe Pond�, que tinha chamado a esquerda a debater o Brasil. Seus textos s�o repletos de quest�es que fazem parte do debate entre a direita e a esquerda no pa�s. Hoje, discuto algumas delas.
Uma reclama��o comum da direita � a de que a esquerda monopoliza a academia brasileira nas ci�ncias humanas. Tendo a concordar, ao menos em parte.
Embora minorit�rio, h� espa�o para o pensamento conservador na universidade. Problema maior � que na escola b�sica o ensino de ci�ncias humanas tem um dom�nio de um marxismo pedestre. Quando fiz o gin�sio, nos anos 1980, "ensinavam-se" coisas como "a renda per capita n�o � bom indicador de riqueza", "no Paraguai do s�culo 19, antes da guerra com a tr�plice alian�a, n�o havia analfabetos". De l� para c�, o dom�nio parece ter se consolidado.
Embora a disputa ideol�gica sempre v� existir, os curr�culos escolares de hist�ria, geografia e filosofia precisam ser mais equilibrados (e melhores) para que n�o virem repeti��es de mistifica��es � esquerda ou � direita.
Al�m de aprender as fundamenta��es dos distintos c�nones do pensamento, as crian�as precisam assimilar que o debate exige uma dose de pragmatismo e flexibilidade. Assim, � poss�vel mudar de opini�o sem abandonar valores pessoais.
Por exemplo, a esquerda defende a educa��o p�blica gratuita. Entretanto, a possibilidade de a universidade p�blica ser paga, uma proposta t�pica da direita, � algo a ser considerado, j� que libera recursos para a escola b�sica. Isso n�o � t�o diferente da situa��o de quem defende o passe livre de �nibus e ficar� satisfeito se os subs�dios forem pesados sem que se deixe de cobrar uma tarifa.
Esses s�o exemplos de coisas que a esquerda deve considerar para que o debate seja proveitoso. Contudo, essa tarefa tamb�m precisa ser feita pela direita. Trato hoje de duas acusa��es que costumam fazer parte do discurso direitista: o Bolsa Fam�lia � uma esmola e a esquerda brasileira desrespeita a democracia.
Para a esquerda, o Bolsa Fam�lia � uma iniciativa que faz parte dos direitos b�sicos dos cidad�os associados ao Estado de bem-estar social, al�m de promover a distribui��o de renda, o que ajuda a sustentar o crescimento econ�mico.
Na origem, por�m, a renda m�nima foi defendida pela direita, que usa o conceito de Imposto de Renda negativo como alternativa ao Estado de bem-estar social. Al�m disso, como n�o h� capitalismo sem moeda, o Bolsa Fam�lia, ao lev�-la a lugares de economia n�o monet�ria, foi iniciativa altamente capitalista.
Quanto � democracia, � por demais �bvio que existem ditaduras de esquerda e de direita. � �bvio tamb�m que o Brasil � uma democracia cada vez mais s�lida.
No entanto, a direita parece querer caracterizar como autorit�rias coisas que s�o apenas diverg�ncias, naturais numa democracia. Por exemplo, enxergam racismo nas cotas raciais ou julgam que controlar a venda de rem�dios � fascista.
Da mesma forma que � insofism�vel a exist�ncia de racismo no Brasil, � claro que quem condena as cotas n�o se torna um racista por conta disso. � leg�timo que algu�m acredite que a educa��o � suficiente para resolver todos os problemas sociais e raciais do Brasil (nem que isso demore 200 anos).
Contudo, as a��es afirmativas, cuja origem vem da mais longa e est�vel democracia da hist�ria, os EUA, fundamentam-se numa tentativa de criar condi��es concretas para o exerc�cio dos direitos civis. Ningu�m hoje � culpado pela escravid�o, mas seus efeitos n�o se esgotaram com a aboli��o. Se discordam, tudo bem. Mas sem apelar, caracterizando-as como fruto do autoritarismo.
Outro exemplo � achar que a Anvisa, por controlar a venda de rem�dios, � fascista. Mesmo discordando, sou capaz de entender a l�gica de quem reprova qualquer restri��o �s escolhas individuais, desde que n�o provoquem um dano direto a outras pessoas. Mas � demais chamar de fascista quaisquer iniciativa que se preocupe com o bem coletivo, como s�o as de sa�de p�blica.
No debate p�blico, � preciso se esfor�ar para entender --e n�o desqualificar-- as raz�es alheias.
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