� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Debate com a direita
Luiz Felipe Pond�, em sua coluna na Folha de 08/07/2013, convida a esquerda a discutir o Brasil com os conservadores, parando com os xingamentos m�tuos. Com um certo atraso, aceito o convite.
Pond� se define como liberal-conservador. Vale tentar explicar o sentido do termo, algo contraintuitivo.
O liberalismo � pol�tico, com destaque para os direitos individuais: liberdades de express�o e religiosa, pluralismo moral, emancipa��o feminina, direitos gays etc.
O conservadorismo se refere, entre outras coisas, � economia, caracterizada por um outro liberalismo, o econ�mico, em que o mercado tem um papel central e extremo, dado pela m�xima "v�cios privados, virtudes p�blicas", que sintetiza a cren�a na livre iniciativa como o vetor do desenvolvimento: n�o se culpe por agir visando seu estrito interesse pr�prio, pois o resultado � bom para todos.
Estamos de acordo quanto �s garantias civis como parte essencial da democracia e para que o pa�s seja um lugar mais legal de viver.
As bandeiras libert�rias foram no Brasil historicamente levantadas pela esquerda. Talvez isso se deva ao fato de a direita brasileira ter sua raiz num conservadorismo agr�rio pr�-capitalista.
Isso n�o significa que essas bandeiras sejam exclusivas da esquerda e tampouco que todos nela sejam politicamente liberais. Al�m disso, � ineg�vel que as liberdades individuais foram inventadas pelas revolu��es burguesas.
As diferen�as surgem na economia. A vis�o conservadora prega o Estado m�nimo, que prov� s� servi�os essenciais, como educa��o e seguran�a, para equalizar as oportunidades a partir das quais os indiv�duos buscar�o seu interesse. Profissionais liberais e pequenos empres�rios seriam a for�a do capitalismo.
O problema � que, apesar de boas sacadas quanto ao poder da competi��o e da busca do lucro, n�o � assim que o capitalismo funciona melhor.
Por exemplo, grandes empresas s�o mais eficientes. O poder de mercado torna mais f�cil acumular recursos para inovar. Como dizia Schumpeter, um carro pode correr porque tem freios.
O Estado tamb�m tem papel central na economia. Os gastos p�blicos estabilizam o capitalismo, criando uma demanda que impulsiona o investimento e, as sim, a produtividade. Al�m disso, para a esquerda, distribuir renda n�o � somente um valor moral, mas tamb�m uma forma de acelerar o crescimento: pobres consomem mais os ganhos adicionais que obt�m.
A principal diferen�a entre direita e esquerda est� na �nfase que cada uma respectivamente d� � competi��o e � coopera��o.
Essas s�o formas de intera��o em alguma medida sempre presentes nas rela��es humanas. Exagerar na �nfase numa ou outra dire��o cria problemas. Sem coopera��o, a for�a inovadora do capitalismo � desagregadora, como ocorreu at� a crise de 29. Sem competi��o, o comunismo foi pouco din�mico e repressor.
O Estado de bem-estar social foi uma inova��o p�blica que consolidou a for�a do capitalismo ao torn�-lo mais equilibrado, mas exageros cooperativos tamb�m ocorrem. Por exemplo, h� casos de seguro-desemprego na Europa em que � demasiadamente pequena a diferen�a entre trabalhar ou n�o.
Claro, a dosagem entre competi��o e coopera��o n�o tem receita pronta, abrindo espa�o para debates e experimenta��es.
Por fim, uma boa quest�o levantada pelo liberal-conservadorismo � se haveria uma contradi��o entre o intervencionismo econ�mico e as liberdades individuais.
N�o creio. Defender o Estado de bem-estar social � de meu interesse individual. N�o sou a favor de distribuir renda por ser bonzinho, e, sim, porque � o melhor jeito de tornar o Brasil mais rico e porque uma sociedade mais equilibrada � boa para mim. Afinal, viver em meio a uma grande pobreza me p�e sob risco.
O bem comum atende a interesses pr�prios menos imediatos. Um exemplo banal � o das regras de tr�nsito. Furar o sinal vermelho faz a pessoa chegar mais r�pido ao destino. O risco de acidente � baixo. Por�m basta dirigir no Rio para verificar que a busca de um interesse pr�prio estrito pode ser pior para todos.
Al�m disso, a economia � s� um meio de criar as condi��es da liberdade. A liberdade das sarjetas tem seu charme, mas � para poucos. Para ser livre, � preciso contar com itens de consumo b�sicos da modernidade -geladeira, TV-, al�m de educa��o, viajar etc. O capitalismo regulado � a melhor maneira de propiciar essas coisas a todos.
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