� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
O problema � o crescimento
A press�o pol�tica em torno da infla��o est� se saindo vitoriosa. O Banco Central tem subido os juros desde abril e um novo aperto fiscal est� sendo aprontado, ainda que a rela��o d�vida p�blica/PIB esteja em modestos 35% pelo conceito l�quido e 60% pelo indicador bruto, al�m de o deficit fiscal nominal ter sido, em 2012, de 2,5% do PIB, baixo para o padr�o internacional.
Algo mudou em rela��o a agosto de 2011, quando o BC reduziu a taxa de juros, contrariando a expectativa do mercado, que, mesmo com a estagna��o externa batendo � porta, apostava numa eleva��o em raz�o da "infla��o preocupante".
Muitos dizem que o problema � a infla��o "resistentemente alta". No entanto, a estimativa do IPCA para 2013, segundo a mediana dos "top 5" do boletim Focus do dia 12, � de 5,73%. Em 5 de abril, antes de o BC come�ar a subir os juros, tal estimativa era ligeiramente superior, 5,77%.
A infla��o esperada para 2013 e o IPCA do ano passado (5,84%) est�o dentro do padr�o que vigora desde 1999, quando o c�mbio passou a flutuar: em 15 anos, s� em tr�s (2006, 2007 e 2009) a infla��o foi menor que tais valores; em 2005, o IPCA de 5,7% foi bem pr�ximo deles.
A diferen�a � que nos �ltimos anos o crescimento real do PIB -2,73% em 2011, 0,87% em 2012 e a estimativa do Focus de 2,31% para este ano- s�o os menores nos dez anos desde a retomada do crescimento sustentado, em 2004, com exce��o de 2009 (-0,33%), quando a crise internacional atingiu o Brasil em cheio.
Portanto, diferentemente do que diz o senso comum, o problema atual n�o � a infla��o, que estaria corroendo a renda real (descontada a infla��o) da popula��o. Mas, sim, o crescimento econ�mico fraco, que amea�a a trajet�ria de ganhos reais dos sal�rios e o pleno emprego herdados do per�odo anterior.
O pa�s tem crescido pouco porque houve recrudescimento da crise externa em 2011 e a pol�tica fiscal n�o atuou suficientemente para fazer a demanda dom�stica compens�-la. Houve um certo afrouxamento fiscal, mas em boa medida ligado �s desonera��es tribut�rias, que n�o t�m impacto direto sobre a demanda.
Com c�mbio menos valorizado e reservas internacionais elevadas, o Brasil nem precisa temer problemas de balan�o de pagamentos: um aumento do gasto p�blico seria capaz de propiciar a retomada do crescimento sustentado baseado no mercado interno, alavancando investimentos e ganhos de produtividade.
Isso exige romper com a receita convencional, que prega aperto fiscal, mesmo com as contas p�blicas ajustadas, e eleva��o de juros, evocando crit�rios artificiais ou fora de contexto, como o superavit prim�rio e o regime de metas de infla��o.
Uma boa quest�o � por que essa receita prevalece se o crescimento beneficia n�o s� aos assalariados mas a todos, incluindo banqueiros e empres�rios, que aumentam seus lucros.
Claro, h� diverg�ncias no entendimento da economia. Por�m uma resposta mais pragm�tica talvez venha da constata��o de que o ciclo de crescimento de 2004 a 2010 levou o pa�s ao pleno emprego.
O economista polon�s Michael Kalecki trata dessa quest�o em um texto cl�ssico de 1944, chamado "Aspectos pol�ticos do pleno emprego", em que aponta tr�s raz�es para que as elites capitalistas se oponham ao uso da pol�tica fiscal visando a manter um pleno emprego continuado.
Primeiro, sob um modelo liberal, o n�vel de emprego depende sobremaneira do investimento privado, o que d� grande poder aos empres�rios, obrigando o governo a evitar iniciativas que abalem a confian�a e as expectativas do mercado.
Segundo, os capitalistas desejam manter a atua��o do governo restrita a atividades -como educa��o e sa�de- que n�o concorram com os neg�cios privados. Por�m, uma pol�tica ativa de gasto p�blico pode exigir entrar em novas esferas de investimento. Por exemplo, criar estatais � tido como ruim por defini��o.
Por fim, um pleno emprego prolongado causa mudan�as pol�ticas e sociais que grande parte da elite n�o deseja: por exemplo, mesmo com lucros maiores, crescer� a tens�o em torno das negocia��es salariais. Uma renda mais bem distribu�da afeta a hierarquia social vigente. O inc�modo com os novos direitos das dom�sticas ou com a movimenta��o nos aeroportos lembra alguma coisa?
A persegui��o da meta central de infla��o neste momento de perda de ritmo econ�mico significa provocar recess�o e desemprego...
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