� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
A oportunidade do c�mbio
O d�lar tem sido cotado acima de R$ 2,20, valor que parece se consolidar como o novo n�vel referencial para o c�mbio.
Em termos reais (descontada a infla��o), esse movimento representa uma deprecia��o de cerca de 30% em rela��o ao patamar de R$ 1,60 que vigorava em julho de 2011, quando a moeda brasileira atingiu um pico de valoriza��o real desde a estabiliza��o monet�ria em 1994.
As mudan�as cambiais atingem de forma dicot�mica duas vari�veis relevantes ao desenvolvimento: a renda real da popula��o, que se beneficia de aprecia��es da moeda local, e a competitividade dos setores de bens transacion�veis, em especial a ind�stria de transforma��o, que aumenta quando a taxa de c�mbio se deprecia.
Na �ltima d�cada, a valoriza��o das commodities brasileiras, em conjunto com os esfor�os de distribui��o de renda associados ao bolsa fam�lia e � pol�tica de eleva��o do sal�rios m�nimo, propiciaram a partir de 2004 retomar o crescimento econ�mico com infla��o baixa.
Contudo, esse arranjo, em certa medida virtuoso, favoreceu um esvaziamento das cadeias da ind�stria de transforma��o, que viu nas importa��es de partes, pe�as e componentes uma maneira de reduzir custos. A valoriza��o cambial prolongada criou uma perda de solidariedade nessas cadeias produtivas.
A ind�stria � o principal setor de difus�o de inova��es e do avan�o produtivo. Por isso, � desej�vel que pa�ses em desenvolvimento mantenham taxas de c�mbio favor�veis � competitividade industrial.
Quer dizer, a deprecia��o cambial --inicialmente provocada pela queda dos juros e, nas �ltimas semanas, fruto da conjuntura externa-- deve representar ao menos em parte um reequil�brio desej�vel entre os objetivos de curto prazo, propiciar ganhos reais aos sal�rios, e de longo prazo, a gera��o de empregos na ind�stria.
Isso n�o ocorrer�, por�m, sem efeitos delet�rios de curto prazo. O mais evidente � uma press�o de eleva��o da infla��o. Mas esse efeito tende a ser mitigado pelas redu��es das tarifas de transporte, al�m de ocorrer num per�odo em que o IPCA acumulado em doze meses deve apresentar queda, depois de um pico em junho. Segundo a consultoria LCA, o impacto no IPCA de 2013 dever� ser uma redu��o de 0,13 ponto percentual, compensando em boa parte o efeito do c�mbio.
Outra preocupa��o se refere ao endividamento das empresas. Mas as indica��es s�o de que, ao contr�rio de 2008, a exposi��o em d�lar n�o � preocupante.
Os ganhos de competitividade propiciados pela desvaloriza��o cambial sugerem ainda a possibilidade de rever as desonera��es tribut�rias concedidas nos �ltimos anos sem que isso prejudique as empresas brasileiras.
Por exemplo, segundo a Fazenda, a zeragem da CIDE deve ter um impacto fiscal de mais R$ 11 bilh�es em 2013. A redu��o do IPI de setores como automobil�stica e linha branca tem impacto estimado de quase R$ 12 bilh�es. A desonera��o da folha salarial deve ter um impacto de R$ 16 bilh�es.
Num contexto de amplia��o das demandas por gastos p�blicos, faz pouco sentido insistir em desonerar a produ��o, que pouco impacto teve sobre o crescimento.
Essa revers�o n�o precisa ser geral. Uma iniciativa que tem bons efeitos no longo prazo � a de aprofundar a desonera��o das exporta��es e do investimento, que ainda n�o conseguem ser plenamente efetivas.
O exportador tem dificuldade para recuperar os tributos de etapas produtivas anteriores. A devolu��o dos cr�ditos precisa ser mais �gil, inclusive em dinheiro.
No investimento, somente as m�quinas e os equipamentos da linha de produ��o s�o desonerados totalmente. Diversos disp�ndios auxiliares, como obras civis e de infraestrutura industrial, n�o s�o contemplados, o que em alguns setores atingem percentuais relevantes do investimento global.
Essas atividades dinamizam a economia. As exporta��es s�o est�mulos aut�nomos, que impulsionam a gera��o de renda. O investimento faz a liga��o da pol�tica macro com as decis�es microecon�micas, promovendo a continuidade do crescimento com aumento de produtividade. A dificuldade de desoner�-las equivale a tributar o crescimento.
Em s�ntese, a deprecia��o cambial abre uma chance para reposicionar alguns elementos da estrat�gia de crescimento inclusivo que vigorou at� 2010.
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