� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Economia � ci�ncia?
N�o h� resposta certeira � pergunta do t�tulo. Contudo, sua discuss�o � proveitosa para entender a natureza da economia.
A constata��o inicial � que os economistas tratam seu estudo de formas distintas. P�rsio Arida, em texto cl�ssico, caracteriza a ortodoxia como uma tentativa de replicar a metodologia da f�sica, o que faria o conhecimento econ�mico progredir por uma fronteira bem delimitada. A heterodoxia n�o aceita tal no��o.
Quest�es te�ricas perduram por s�culos sem solu��o: a moeda � end�gena ou ex�gena? A poupan�a precede o investimento ou n�o?
A equipara��o � f�sica � prec�ria. Uma ci�ncia dura ou natural se caracteriza por descrever com objetividade e distanciamento os fen�menos que analisa, obtendo leis (regularidades) e explica��es que permitem fazer boas previs�es.
O problema de caracterizar a economia como uma ci�ncia dura � menos por sua conhecida capacidade de fazer previs�es ruins. Isso poderia significar somente que seu est�gio de desenvolvimento � inicial.
Mais relevante, a economia tem uma face prescritiva inexistente na f�sica, indicando ao governo como agir. Compara��o melhor � com a engenharia, que prescreve m�todos de constru��o ou fabrica��o.
Por�m � mais f�cil julgar o trabalho de um engenheiro: se uma constru��o sua cai, sem d�vida ele errou. No caso dos economistas, um p�ssimo ministro da Fazenda pode virar um rico consultor. � que as prescri��es econ�micas t�m uma dose de ideologia (cren�a) e interesse. � por isso que costumam ser avaliadas.
Por exemplo, uma grande preocupa��o com a infla��o e o rigor fiscal atende � cren�a de que esses seriam requisitos da confian�a dos investidores. No entanto, � tamb�m um jeito de fazer com que o principal interesse dos mais pobres (ganhar mais) seja deslocado para o longo prazo, enquanto � imediata a busca de infla��o baixa, que preserva a riqueza de quem j� tem renda alta.
Por outro lado, o foco na eleva��o dos sal�rios reais revela a cren�a na demanda como motor da economia, mas tamb�m o interesse na distribui��o de renda.
A ideologia tamb�m explica por que, ao contr�rio da f�sica, a teoria econ�mica e suas recomenda��es pouco mudam. Ideologias s�o articula��es de ideias que se caracterizam pela fixidez. H� quase 300 anos a maioria dos economistas sugere flexibiliza��o do mercado de trabalho, austeridade fiscal etc.
� bom lembrar que, antes de ser um campo de estudo, a economia � um sistema: um conjunto de coisas que se relacionam obedecendo a certas regras.
O ser humano criou v�rios sistemas interessantes. O xadrez � complexo, mas fechado e dado. O carro � um sistema complexo e que muda. S� que as mudan�as s�o planejadas e controladas por uma montadora.
A economia � o mais incr�vel: complexo, aberto e descentralizado, formado pela intera��o de um sistema produtivo e um monet�rio.
No capitalismo, a moeda sem lastro foi uma novidade decisiva para o sistema econ�mico, que fez a demanda --por produtos, inova��es e investimentos-- passar a ser o motor principal do desenvolvimento produtivo, livrando a humanidade de ter que previamente acumular excedentes (poupan�a).
O dinamismo tamb�m trouxe mais volatilidade, o que exigiu o sistema evoluir. Por exemplo, crises banc�rias levaram ao monop�lio da emiss�o de moeda pelo Estado, que tamb�m criou o banco central para tentar evitar que problemas de liquidez derrubem o sistema econ�mico. Esses processos continuam a ocorrer: a crise do euro sugere a unifica��o fiscal de seus pa�ses.
Quer dizer, se a economia evolui pouco como teoria, o mesmo n�o vale para o sistema econ�mico. O seu estudo � �til, pois permite entender suas possibilidades, seus limites e riscos e como ele pode ser manejado para atender aos interesses que defendemos. Para tanto, uma boa dose de pragmatismo � saud�vel.
Nesse sentido, n�o gosto da abordagem ortodoxa pois se refere a um sistema pr�-capitalista, em que a presen�a da moeda n�o muda as caracter�sticas de uma economia de escambo, e se baseia em idealiza��o do sistema econ�mico pouco afeita � contraposi��o com a realidade.
Por�m, dado o vi�s ideol�gico, � dif�cil mudar o entendimento econ�mico de algu�m. Conv�m ao menos ter claro que a economia n�o � uma ci�ncia dura. Tal equipara��o � frequentemente uma forma de tomar como necess�rias prescri��es que s�o apenas cren�as e defesa de interesses.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade