� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
As manifesta��es e a economia
As manifesta��es que tomaram conta do pa�s partiram de uma reivindica��o concreta, a revoga��o de reajustes nas tarifas de �nibus, para ecoar insatisfa��es amplas.
Ainda assim, elas podem ser resumidas na exig�ncia de um Estado de bem-estar social mais bem acabado, com educa��o e sa�de de qualidade etc.
Havia tamb�m reclama��es contra a carga tribut�ria, a infla��o e a corrup��o. Ao que parece, h� um entendimento de que o combate � corrup��o liberaria recursos para atender a todas as demandas e ainda reduzir os impostos e a infla��o.
A corrup��o � perniciosa e piora o atendimento � popula��o. Ela precisa ser cotidianamente combatida. No entanto, n�o tem o poder de resolver todas as mazelas do pa�s.
Um discurso anticorrup��o muito geral � regressivo e paralisante, pois estabelece prejulgamentos e falsas dicotomias, dificultando o enfrentamento dos problemas. Tentei tratar disso na coluna "Corrup��o?", de 01/11/2012.
Mas o tema de hoje � outro. Mesmo difusas, as reivindica��es mostram que os avan�os dos �ltimos anos est�o longe de ser suficientes.
� verdade que tais avan�os n�o se limitaram ao crescimento econ�mico e ao consumo massivo. Por exemplo, de 2001 a 2011, cresceram os gastos em rela��o ao PIB com educa��o (de 4,8% para 6,1%) e sa�de (de 3,2% para 3,8%), o que se reflete na melhora de v�rios indicadores, como o aumento do percentual de adultos com o ensino m�dio completo e a queda da mortalidade infantil.
O problema � que o Brasil n�o � rico o bastante para que seja poss�vel prover os servi�os p�blicos desejados. � preciso retomar o crescimento para dobrar a renda per capita em 15 anos ou 20 anos, atingindo o piso dos pa�ses avan�ados.
Isso n�o quer dizer que os desejos vindos das ruas s�o insensatos. Pelo contr�rio, a amplia��o do Estado de bem-estar social, al�m da melhoria direta dos servi�os p�blicos, gera uma demanda aut�noma por parte do Estado, que induz crescimento pelo efeito multiplicador da renda.
Essa eleva��o do gasto p�blico tamb�m reduz as despesas familiares com os servi�os essenciais, elevando os sal�rios reais e distribuindo a renda. Por exemplo, a redu��o das tarifas do transporte p�blico alivia o or�amento dos mais pobres.
Esse processo � poderoso porque eleva a propens�o ao consumo. Afinal, seria estranho que algu�m que ganha pouco -e n�o tem acesso integral ao padr�o b�sico de consumo moderno- poupe parte dos aumentos reais que obt�m.
H� um c�rculo virtuoso: acelerar a melhora do Estado de bem-estar social favorece o crescimento, que, por sua vez, cria as condi��es para que os servi�os p�blicos possam seguir melhorando.
Por�m essa estrat�gia mexe com o equil�brio de pol�ticas estabelecido pelo atual governo na economia.
A sua grande aposta foi acelerar a redu��o dos juros rumo ao padr�o global. Tal iniciativa � crucial para a normaliza��o das condi��es de cr�dito no Brasil. Mas o impacto imediato no crescimento � limitado: o investimento � condicionado principalmente pelas perspectivas da demanda, e n�o pelo custo do dinheiro.
No campo fiscal, a a��o do governo envolveu desonera��es tribut�rias para favorecer a produ��o nacional em rela��o � externa.
Essas desonera��es atenderam a antigas reivindica��es empresariais pela redu��o do custo de produzir no Brasil. Houve ainda o ganho associado � desvaloriza��o cambial, que torna os pre�os das mercadorias brasileiras menores em d�lar.
Ainda assim, o crescimento n�o foi retomado. As margens de lucro puderam se recompor, mas isso n�o gera demanda, que � o vetor do investimento privado.
A quest�o em jogo � que o fortalecimento do Estado de bem-estar social disputa recursos fiscais com essa "agenda da competitividade", cujo montante previsto de desonera��es para 2013 � de R$ 70 bilh�es.
A demanda por mais servi�os p�blicos tamb�m pressiona a gera��o de superavit prim�rios, cuja meta para este ano supera R$ 100 bilh�es. Com uma d�vida p�blica l�quida de apenas 35% do PIB, o fim do superavit prim�rio n�o � um problema. Entretanto, super�-lo exige romper com a sabedoria econ�mica ortodoxa, que continua sugerindo mais austeridade.
Esses s�o dois conflitos pol�ticos que precisar�o ser enfrentados para atender ao chamado das ruas.
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