� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
A miss�o da educa��o
� comum o argumento de que o ensino de baixa qualidade � a causa final da dificuldade do Brasil de se tornar desenvolvido.
Em �pocas de prosperidade, isso � usado para alertar contra a ilus�o do consumo. Como a economia � c�clica, as crises sempre chegam, dando a chance para a constata��o implac�vel: "Viu no que d� n�o fazer o dever de casa?".
H� ainda um uso diversionista do tema. Ningu�m discorda que a educa��o precisa melhorar no Brasil. Contudo, n�o � isso que est� em jogo no debate econ�mico. O apelo � educa��o � um expediente de quem cr� que o Estado n�o deve ter pol�ticas monet�ria e fiscal ativas e nem intervir nos esfor�os produtivos.
O ativismo econ�mico atrapalharia sua a��o naquilo em que ele seria de fato crucial: a educa��o. Popula��o educada, carga tribut�ria baixa etc. bastariam para estimular o empreendedorismo e, assim, o desenvolvimento.
Entretanto, a educa��o n�o � t�o crucial ao desenvolvimento econ�mico, como obst�culo ou alavanca. Se preciso, n�o faltam engenheiros europeus dispostos a trabalhar no Brasil. Se ela fosse um impulso t�o decisivo, a R�ssia seria hoje altamente desenvolvida, pois o comunismo fez um dos mais impressionantes esfor�os de educa��o e ci�ncia j� vistos.
A educa��o � mais resultado do que requisito do desenvolvimento. � claro que as coisas se retroalimentam, mas o arranque vem mais do aspecto econ�mico. Na Coreia, a educa��o � um sucesso, mas foi o capitalismo coreano que puxou o desenvolvimento. De qualquer forma, n�o h� um dilema em quest�o. A educa��o tem um valor em si e � dessa maneira que vale a pena tratar do tema.
Pouco entendo de educa��o. Ainda assim, pe�o licen�a para fazer algumas reflex�es diletantes. Agir diletantemente tem o sentido de fazer algo com amor ou de forma pouco sistematizada. As reflex�es a seguir sofrem das duas coisas.
Uma das raz�es que me fizeram cursar outra faculdade foi a vontade de ap�s a aposentadoria dar aulas na escola p�blica. Isso mostra um dos problemas do ensino b�sico no Brasil: n�o ser uma boa op��o de emprego. Ser professor, sim, mas s� quando n�o precisar mais trabalhar para ganhar a vida.
Nas gera��es mais antigas de minha fam�lia, h� pelo menos seis professoras de escola p�blica. A profiss�o era uma boa op��o, ao menos para mulheres, quando o trabalho feminino n�o era t�o comum. Hoje, apenas uma prima � professora.
Um pa�s de renda mediana como o Brasil pode pagar um sal�rio anual m�dio de R$ 100 mil para que o magist�rio seja uma profiss�o atrativa. Como o pa�s tem cerca de dois milh�es de docentes na escola b�sica, o gasto anual ao fim da mudan�a seria de R$ 200 bilh�es, menos de 5% do PIB de 2012.
O aumento salarial ao menos em parte precisaria depender de novos concursos. Sen�o, h� o risco de aumentar o gasto sem melhorar a qualidade dos professores. Talvez o papel direto da Uni�o na educa��o b�sica devesse aumentar, realizando concursos nacionais para contratar professores e criar um sistema de aloca��o que incentive o jovem de regi�es mais ricas a se mudar.
O Brasil tamb�m pode tirar vantagens do atraso. Mesmo nos pa�ses ricos, � comum privilegiar os aspectos culturais do conhecimento. O Brasil pode saltar � frente intensificando a dedica��o �s ci�ncias, enfatizando conte�dos mais atuais. Ensinar aos jovens no��es b�sicas de mec�nica qu�ntica, relatividade, neuroci�ncia e geometrias n�o-euclidianas, entre outras coisas, n�o � t�o dif�cil.
Tais altera��es curriculares sofisticam o entendimento que temos do mundo, por exemplo, flexibilizando o determinismo da f�sica newtoniana e o dom�nio da geometria euclidiana na racionaliza��o do espa�o.
Isso n�o quer dizer que se deva reduzir o espa�o das humanidades. Por exemplo, no Brasil o esfor�o em l�nguas precisa crescer. H� tamb�m o que ser revisto em hist�ria, que tem sofrido com um peso excessivo do entendimento marxista.
Essas s�o mudan�as t�o dif�ceis que o seu equacionamento fiscal deve ser o menos problem�tico. Para citar um obst�culo, o conflito de ter dois corpos docentes seria enorme e duro de resolver. Outra d�vida � se o pa�s tem hoje quantidade de pessoas preparadas para promover as mudan�as de conte�do.
A tarefa n�o � trivial. Mas ajuda a fazer escolhas ao menos ter claro por que a educa��o � prioridade: ela � uma miss�o civilizat�ria.
marcelo.miterhof@gmail.com
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