� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
O BNDES e o investimento
Nos �ltimos anos, os desembolsos do BNDES cresceram expressivamente como parte do esfor�o contrac�clico do governo federal ante a crise financeira internacional, passando a ser alvo de interesse externo e de cr�ticas internas.
Resisti a entrar no debate porque sou empregado de carreira do banco, o que cria algum desconforto para trat�-lo neste espa�o. Contudo, numa coluna cujo tema-s�ntese � o desenvolvimento, n�o d� para deixar de falar sobre o BNDES, o que se estender� por duas semanas.
Tem sido renovado o interesse pelos bancos de desenvolvimento (BDs) nos pa�ses ricos. A �ltima crise ocorreu ap�s um longo esfor�o de desregulamenta��o financeira, dando apoio � vis�o de que a presen�a de BDs pode conferir uma estrutura mais robusta aos sistemas financeiros, ao permitir que o Estado atue para mitigar os efeitos de crises e contrabalan�ar a atua��o das institui��es privadas.
O papel usual de um banco de fomento � suportar mais riscos do que o mercado financeiro privado geralmente o faz, preenchendo lacunas e criando externalidades. Um BD deve, por exemplo, financiar atividades centrais ao desenvolvimento, como a inova��o (num sentido amplo), e a expans�o de capacidade em setores-chave, como a infraestrutura.
O BNDES tem um papel relativamente mais proeminente do que outros BDs. A raz�o � que o Brasil tem convivido com uma grave defici�ncia macroecon�mica estrutural, que s�o os juros (Selic) altos.
Como o processo mais vigoroso de queda dos juros rumo ao padr�o internacional � recente, o BNDES tem um papel singular entre seus cong�neres: o de principal financiador de longo prazo em moeda local.
A cr�tica do liberalismo econ�mico ao BNDES se baseia na cren�a de que, ao praticar juro "subsidiado", o banco deslocaria ("crowding out") o cr�dito privado de longo prazo.
Essa � uma vis�o principista. Sua raiz � a mesma de que o desenvolvimento seria um fen�meno que ocorreria como uma resposta quase autom�tica ao estabelecimento de condi��es pr�vias: infla��o baixa, equil�brio fiscal, educa��o de qualidade, infraestrutura eficiente, regras trabalhistas flex�veis etc.
O artificialismo da cr�tica guarda semelhan�a com a que se fez aos programas de renda m�nima, pregando que a transfer�ncia direta aos mais pobres retiraria o incentivo ao trabalho para superar a pobreza. N�o � que teses como essas n�o tenham sentido, mas em geral t�m pouco compromisso com a realidade.
Em outra vis�o, o investimento responde a est�mulos mais concretos, em especial � demanda percebida pelas empresas. Nela, o BNDES prov� cr�dito em reais a taxas e prazos compat�veis com a rentabilidade esperada dos neg�cios. A dimens�o alcan�ada pelo banco n�o � causa, mas consequ�ncia da Selic alta.
Sob tal perspectiva, perdem sentido muitas das cr�ticas ao BNDES. Por exemplo, � comum cobrar que grandes empresas poderiam ter acesso ao cr�dito de longo prazo no exterior. O problema � que o custo de fixar juros em reais (hedge) � alto, o que faz financiamentos em moeda estrangeira n�o serem apropriados para a maior parte dos neg�cios.
Cai tamb�m a ideia de que o BNDES teria se tornado grande demais. O aumento de seus desembolsos respondeu �s necessidades da economia, tanto no seu esfor�o contrac�clico quanto no aumento do patamar da taxa de investimento, que foi de 16% do PIB no per�odo 2000-2007 para 19% nos anos recentes.
Segundo a �rea de Pesquisas Econ�micas do BNDES, o tamanho de sua carteira em rela��o ao PIB (10,4%) � menor do que a dos BDs alem�o (15,8%) e chin�s (11,7%).
Sobre o cr�dito total � que a participa��o do BNDES � bem superior, 21,1% ante 12,8% e 8%, respectivamente. Mas isso se deve ao fato de o cr�dito no pa�s ainda ser baixo, sintoma do padr�o de juros altos.
Com a queda dos juros, a participa��o relativa do BNDES cair� � medida que o mercado de capitais se tornar mais poderoso, algo para o qual historicamente o banco tem trabalhado e est� entre os temas a serem tratados na semana que vem.
Como no ditado "� poss�vel levar um cavalo at� a beira do rio, mas n�o obrig�-lo a beber �gua", o BNDES tem sido crucial para a disponibilidade de financiamento de longo prazo no Brasil, o que n�o � condi��o suficiente para alavancar o investimento, mas sua aus�ncia seria um obst�culo quase intranspon�vel.
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