� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
JK foi um craque
A coluna de Samuel Pess�a na Folha do domingo passado primou pela honestidade ao defender o pensamento econ�mico convencional. Seu objetivo foi comentar dois aspectos da fala da presidenta Dilma na semana passada, na �frica do Sul.
No primeiro, Pess�a discorda da tese que associa a infla��o mais alta em 2012 a um choque da oferta agr�cola mundial. Para ele, houve um crescimento baixo com infla��o "alta" porque a economia brasileira estaria mostrando os limites estruturais de sua capacidade de crescer, algo associado ao excesso de interven��o estatal e ao grande peso dos servi�os no crescimento.
Assim, � necess�rio elevar os juros para conter a demanda e controlar a infla��o, condi��o essencial para o pa�s voltar a crescer.
Contudo, o colunista reconheceu que, em debates parecidos, o BC contrariou acertadamente as opini�es dos ortodoxos. Esse � um sopro de honestidade depois da histeria que se instalou em agosto de 2011 nos meios de comunica��o ap�s o BC reduzir os juros que tais analistas julgavam ter que ser elevados. Poucos vieram a p�blico dizer que erraram.
No segundo aspecto, Pess�a se preocupa com a possibilidade de a presidenta acreditar em teses "velh�ssimas", que contrariam a hip�tese ortodoxa de que a infla��o � um fen�meno puramente monet�rio, que deve ser combatido com aumento da taxa de juros, al�m da manuten��o do equil�brio fiscal.
Numa vis�o alternativa, a infla��o tem causas mais gerais, fruto de conflitos distributivos persistentes, que podem precisar ser sancionados por expans�es monet�rias.
Em casos como o dos choques do petr�leo nos anos 1970, n�o h� d�vida de que o surto inflacion�rio mundial nada teve a ver com expans�es monet�rias, mas isso tamb�m ocorreu, pois, do contr�rio, a demanda por moeda subiria tanto que criaria uma crise deflacion�ria e altamente depressiva.
Mas n�o considerar a infla��o t�o perturbadora n�o significa crer que ela seja uma forma de promover o crescimento, e, sim, entender que � um fen�meno que pode ocorrer mais pronunciadamente em pa�ses que buscam se industrializar tardiamente, quando precisam dar grandes saltos em suas estruturas produtivas.
Ademais, o adjetivo "velho" n�o tem a conota��o negativa dada pelo colunista. N�o faltam teses velhas na economia. A dificuldade de testar suas hip�teses, dada a complexidade do objeto, faz que seja pouco afeita a resolver suas controv�rsias.
Em geral, as teses ortodoxas s�o mais velhas, por serem mais simples e intuitivas. Por exemplo, as recomenda��es de ajuste fiscal foram soberanas at� Keynes no s�culo 20 propor uma alternativa.
Contudo, Pess�a reconheceu que a possibilidade de a infla��o comprometer o crescimento n�o tem horizontes t�o curtos quanto sup�em os livros-texto, dando os exemplos do Brasil no s�culo 20 e mais recentemente da Argentina.
O problema � que tal crescimento seria de "p�ssima qualidade", que no final geraria desorganiza��o da produ��o e hiperinfla��o, entre outros males. O colunista sabe que o pa�s est� longe disso, mas se preocupa que a presidenta apoie "o crescimento a caneladas do per�odo JK".
Crises acontecem e �s vezes s�o duradouras, mas o saldo da industrializa��o brasileira no s�culo 20 foi positivo. A pol�tica econ�mica nos �ltimos anos buscou ser menos conservadora, mas ainda est� longe do forte processo de industrializa��o por substitui��o de importa��es do per�odo JK.
Politicamente, isso fez sentido. Foi poss�vel crescer e incluir pessoas, mantendo o c�mbio valorizado e a infla��o baixa. Com a crise internacional persistente, talvez esse modelo chegue ao limite. Mas numa vis�o alternativa isso n�o se deveria � falta de pol�tica menos intervencionista, e, sim, � falta de demanda interna. � a hora de voltar o crescimento para os investimentos em infraestrutura e para a alavancagem dos fornecedores das cadeias industriais.
Caneladas s�o inevit�veis, mas isso � s� entender que o crescimento � um fen�meno de desequil�brio. Sem a indexa��o do passado, com um setor externo em situa��o confort�vel e uma institucionalidade bem consolidada nas finan�as p�blicas, n�o h� motivos para temer algo sequer pr�ximo � hiperinfla��o dos 1980.
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