� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Dilemas na energia
Na Semana retrasada, em sua apresenta��o no Conselh�o, a presidente Dilma destacou que o governo optou por hidrel�tricas sem reservat�rios (fio d'�gua) para reduzir as inunda��es --e os impactos ambientais e sociais associados-- provocadas pela instala��o dessas usinas. A contrapartida � ter mais termel�tricas dispon�veis para quando a seca diminui a gera��o h�drica.
Tenho d�vidas acerca do resultado ambiental l�quido da op��o por usinas fio d'�gua: ser� que impactos da queima de combust�vel da gera��o t�rmica s�o mais do que compensados pelos danos evitados por um alagamento menor?
De qualquer forma, a op��o faz sentido. Como destaca meu colega economista e especialista em energia Alexandre Esposito, a quem consultei para esta coluna, a fronteira de expans�o de hidrel�tricas no Brasil est� na Amaz�nia, onde s�o expressivos os impactos ambientais e tamb�m os sociais, associados a remo��es populacionais, notadamente as ind�genas, cuja liga��o milenar com suas terras torna dif�cil at� mesmo estabelecer contrapartidas.
Mas h� um dilema, pois tal op��o sai cara. O investimento hidrel�trico tem custo crescente por energia adicionada devido aos gastos com a mitiga��o dos impactos ambientais e � redu��o da disponibilidade de energia em raz�o do tamanho menor dos reservat�rios, al�m da necessidade de implantar linhas de transmiss�o longas para levar a eletricidade aos centros de consumo.
O uso de reservat�rios para regular o fluxo de �gua, permitindo estocar energia, ajuda a mitigar essa tend�ncia, pois o benef�cio da energia gerada a mais em geral supera largamente o incremento do investimento para elevar o represamento.
Al�m disso, diminui-se o uso de combust�veis f�sseis em termel�tricas, cujos custos de opera��o podem chegar a R$ 800 MWh (a diesel e a �leo combust�vel), quase dez vezes o custo m�dio da gera��o de energia h�drica nova.
A presidente tamb�m protestou contra quem fez alarde nos �ltimos meses sobre o risco de o pa�s enfrentar um racionamento de energia.
Pa�ses com forte participa��o da gera��o h�drica --como Canad�, Noruega e Brasil-- t�m em seu planejamento um n�vel aceit�vel de risco de deficit de energia, algo como 5%. Isso porque zer�-lo exigiria manter alta capacidade ociosa para serem usadas s� em secas severas.
Claro que poss�veis deficit n�o precisam ser t�o duros como o racionamento de 2001, resultado de longo per�odo de baixo investimento.
Outro dilema se relaciona � pondera��o entre os objetivos de diversificar a matriz e o de buscar a curto prazo a modicidade tarif�ria.
No centro-sul, em especial S�o Paulo, h� potencial de gera��o por biomassa equivalente a duas Itaipu. A cana costuma ser colhida na seca, isto �, seu ciclo � complementar ao h�drico. A energia e�lica, que tem se ampliado a custos cadentes, tamb�m tem essa caracter�stica: venta mais quando chove pouco. O Brasil tem tamb�m a chance de ser l�der em gera��o de energia solar.
Essas s�o tecnologias incipientes na matriz energ�tica, cuja amplia��o permitiria ao pa�s ingressar no mercado global de equipamentos para energias renov�veis.
Por�m, a substitui��o das t�rmicas f�sseis aumenta o custo total da energia el�trica, ao menos no curto prazo. � dif�cil que fontes alternativas consigam competir em pre�o com uma tecnologia madura.
Mas vale lembrar que as t�rmicas f�sseis t�m custo de implanta��o baixo e de opera��o alto. O custo final � dado pela pondera��o desses valores pelo risco de a t�rmica ser usada. Mas esse risco � uma m�dia de longo prazo. Assim, h� uma alta dispers�o em torno da m�dia: em anos de muita chuva, o custo da t�rmica � baixo, mas, se a seca � severa, como em 2012, o impacto no custo final � significativo.
Portanto, a diversifica��o da matriz, ao diminuir a depend�ncia das t�rmicas f�sseis nos per�odos de seca, reduziria a varia��o de ano para ano do custo global da eletricidade, al�m de propiciar o desenvolvimento tecnol�gico de fontes mais limpas que com o tempo tendem a se tornar mais baratas que as t�rmicas f�sseis.
Em suma, o setor el�trico vai bem, mas, como um elemento-chave do crescimento sustentado, seu aperfei�oamento precisa ser constante: acelerar a diversifica��o da matriz energ�tica e discutir suas op��es ambientais s�o temas da agenda.
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