� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
�nibus gratuito
A coluna passada tratou dos lentos avan�os no transporte coletivo, o que � em certa medida surpreendente, pois, dado seu impacto sobre o bem-estar cotidiano da popula��o, boas iniciativas no setor s�o recompensadas eleitoralmente.
Nesse sentido, lembrei que a alta popularidade da ex-prefeita Marta Suplicy nas periferias de S�o Paulo se deve em boa parte � cria��o do Bilhete �nico. Por�m, a necessidade de elevar as receitas para subsidiar essa e outras pol�ticas p�blicas se refletiu em sua rejei��o nas regi�es mais ricas da cidade.
Por isso, defendi que -al�m de fortalecer o planejamento, o que permite melhor avaliar as op��es existentes e seus custos- as decis�es sobre o transporte p�blico deveriam ser submetidas mais diretamente � popula��o, por exemplo em or�amentos participativos.
Assim, seria mais f�cil avaliar a ado��o de subs�dios p�blicos operacionais, que s�o cruciais para a efici�ncia dos transportes coletivos.
Em 2011, participei de um semin�rio sobre tecnologias de motoriza��o de �nibus no qual o representante de uma montadora disse que no Brasil, ao contr�rio do resto do mundo, a empresa n�o aposta em motores el�tricos ou h�bridos. A raz�o � que aqui em geral n�o h� subs�dios para a opera��o dos �nibus.
Essa era uma preocupa��o com a pol�tica industrial. Mas o caso aponta para os problemas que a rara presen�a de subs�dios traz para o transporte coletivo no pa�s. Por exemplo, o tipo de ve�culo mais comum no Brasil � feito de chassis de caminh�o com carroceria de �nibus. Isso faz, por exemplo, com que pessoas com dificuldade de locomo��o tenham que subir altos degraus para entrar nos �nibus.
Alguns grupos t�m na comercializa��o de �nibus novos e usados um neg�cio mais importante do que a atividade de transportar pessoas.
Isso significa que usar um modelo de alta qualidade, dur�vel e mais caro tende a ser pior neg�cio do que usar outros mais simples, baratos e que podem ser depreciados em poucos anos -e revendidos em seguida-, sob uma tarifa suport�vel pela popula��o mais pobre.
Como entendem t�cnicos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), uma ONG que trabalha com mobilidade urbana � qual me referi na semana passada, sem subs�dios � dif�cil otimizar o transporte p�blico, pois o impacto na tarifa o faz perder competitividade. Por exemplo, ter uma motocicleta pode sair mais barato do que andar de �nibus ou metr�.
Os malef�cios s�o diversos: mais acidentes, engarrafamentos e polui��o. Com problemas t�o generalizados, o subs�dio vai al�m de uma pol�tica social de favorecimento dos usu�rios dos transportes coletivos.
Nesse sentido, gostaria de ver em pr�tica uma op��o radical: tarifa zero para o transporte coletivo, que seria financiado totalmente por impostos.
Entre eles pode haver uma taxa municipal que incida juntamente com o IPTU, um adicional sobre o IPVA de ve�culos de regi�es metropolitanas para financiar metr� e trens e ainda um tributo que capture o que as empresas j� gastam com o vale-transporte. As transportadoras seriam remuneradas pelos quil�metros rodados.
Num transporte p�blico eficiente n�o h� desperd�cio. As pessoas se deslocam porque precisam. � diferente, por exemplo, de manter tarifas de eletricidade muito baixas, o que tende a prejudicar a conserva��o de energia. No transporte de passageiros, se algu�m quer somente passear num �nibus pela cidade -algo bem incomum em compara��o a esquecer l�mpadas acesas-, esse � um uso justific�vel.
O planejamento, a aloca��o da oferta de transporte, a defini��o dos tipos de ve�culo, a fiscaliza��o e outras quest�es operacionais poderiam ser feitos por uma ag�ncia reguladora, que atuaria em conjunto com prefeituras e governo estadual, que seriam os respons�veis pelos investimentos em infraestrutura.
Uma iniciativa assim seria mais f�cil de come�ar numa cidade m�dia, sem transporte de passageiros sobre trilhos, mas nada impede de ser adotada em regi�es metropolitanas, integrando �nibus, metr�, trens e meios alimentadores.
Essa � apenas uma ideia. O importante � que o Brasil precisa adotar a pr�tica internacional de subsidiar pesadamente a opera��o dos transportes coletivos para ter um sistema eficiente. Espero que um prefeito perceba que essa � uma iniciativa � espera de um l�der, que mostre o quanto isso faz diferen�a para a popula��o.
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