� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Commodities mais manufaturas
A coluna retrasada tentou mostrar que a Argentina tem desde o p�s-Guerra uma hist�ria de intensa rivalidade pol�tica, que persiste na democracia atual e que tem entre suas ra�zes a oposi��o entre o setor agr�rio, especialmente poderoso em raz�o da idealiza��o de um dourado per�odo prim�rio-exportador, e os sindicatos e a burguesia industrial, fortalecidos a partir de Per�n.
Hoje, usarei o exemplo argentino para refletir sobre os limites do desenvolvimento baseado na exporta��o de commodities. Dois aspectos chamam a aten��o.
Primeiro, como visto na coluna anterior, na virada do s�culo 19 para o 20, a Argentina teve um esplendor fornecendo produtos agropecu�rios para um mundo em que a pot�ncia hegem�nica, a Inglaterra, era grande compradora deles. A crise de 29 desarticulou esse modelo. A pot�ncia sucessora, os EUA, � competidora de pa�ses como o Brasil e a Argentina no fornecimento mundial desse tipo de bens.
Quer dizer, � arriscado basear o desenvolvimento apenas em setores intensivos em recursos naturais. Os avan�os s� costumam dar certo por um tempo limitado quando uma pot�ncia industrial � carente desses produtos. A raz�o � que a ind�stria � a principal geradora e difusora de inova��es, comandando o desenvolvimento produtivo e sendo menos acess�vel � competi��o de novos produtores.
Uma competitividade elevada em produtos prim�rios pode se esvair rapidamente pela replica��o de sua produ��o em outros lugares ou pela introdu��o de t�cnicas na ind�stria que prescindam ou tornem mais eficientes o uso de um recurso natural.
Segundo, � not�vel na experi�ncia argentina a constata��o de que o pa�s tinha no in�cio do s�culo 20 altos n�veis de urbaniza��o e de escolariza��o da popula��o. Contudo, sua industrializa��o foi menos profunda que a brasileira.
Isso sugere que a estrat�gia de pavimentar o caminho para o desenvolvimento, qualificando a m�o de obra e criando uma infraestrutura eficiente, entre outros elementos das clamadas reformas, n�o � condi��o suficiente para trilh�-lo.
O capitalismo �, como Marx e Keynes o caracterizaram, uma economia monet�ria de produ��o, em que a moeda tem um papel central e distintivo do que ocorre em outros sistemas econ�micos.
Isso faz com que a demanda seja sua principal alavanca, algo que pode ser dado exogenamente pelas exporta��es ou criado pelos gastos p�blicos, estabelecendo as condi��es que incentivar�o o investimento para aumentar os demais fatores --aqueles considerados como premissas por outras vis�es do pensamento econ�mico-- que levam ao desenvolvimento.
A experi�ncia argentina � �til quando a emerg�ncia da China, uma pot�ncia consumidora de produtos prim�rios, recolocou a possibilidade de retomar o desenvolvimento baseado na exporta��o de commodities.
H� riscos �bvios nessa estrat�gia, como a China ampliar a produtividade agr�cola � medida que sua popula��o se urbaniza ou conseguir outros fornecedores. Ou ainda o seu consumo de min�rio de ferro cair � medida que pa�s se torne autossuficiente em sucata, um insumo mais barato do a�o.
De qualquer forma, a ascens�o chinesa permitiu a Brasil e Argentina reduzir expressivamente a principal restri��o que limitou suas industrializa��es voltadas ao mercado interno: o balan�o de pagamentos.
Antes, a pol�tica econ�mica, em vez de estar centrada no ciclo de neg�cios, baseava-se na administra��o da restri��o externa e de seus impactos inflacion�rios.
Agora, num momento de crise internacional, que reduz a demanda pelas exporta��es, � fact�vel que a eleva��o do gasto p�blico alavanque a demanda interna para reativar a atividade econ�mica.
Portanto, n�o se trata de relegar a segundo plano a agropecu�ria e o extrativismo. Al�m da import�ncia econ�mica, eles foram cruciais, por exemplo, para interiorizar o Brasil. Por�m � preciso aproveitar a �poca de bonan�a para alavancar a ind�stria e garantir o crescimento sustentado. Al�m de serem inclu�dos no padr�o de consumo moderno, os brasileiros precisam de mais empregos de qualidade crescente --algo que a ind�stria proporciona, com desdobramentos nos servi�os.
Nos anos 30, a restri��o de divisas impulsionou a industrializa��o brasileira: ao dificultar sobremaneira as importa��es, incentivou a produ��o local. Seria inovador retomar uma pol�tica de industrializa��o num per�odo favor�vel de balan�os de pagamentos. O resultado deve ser mais robusto.
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