![marcelo leite](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15073330.jpeg)
� rep�rter especial da Folha,
autor dos livros 'Folha Explica Darwin' (Publifolha) e 'Ci�ncia - Use com Cuidado' (Unicamp).
Escreve aos domingos
e �s segundas.
Tribos bacterianas
Bact�rias est�o na moda. De dois anos para c�, pululam estudos de biomedicina sobre a comunidade de milhares de tipos de bact�rias que colonizam o corpo humano. Por fora (pele) e por dentro (intestinos, principalmente).
A excita��o surge da descoberta de que ecossistemas bacterianos (microbiotas, diz-se) com perfis diversos, em particular na chamada flora intestinal, parecem estar associados com v�rios problemas de sa�de. Obesidade, asma, depress�o –a lista n�o para de crescer.
Pessoas obesas t�m uma diversidade menor de bact�rias nas tripas, ou seja, um "bioma" interior mais pobre. Quando fazem dieta ou passam por cirurgia bari�trica (redu��o de est�mago), estranhamente, a composi��o muda e aumenta o n�mero de esp�cies de micr�bios.
N�o se sabe direito se os diferentes perfis s�o causas ou resultados da doen�a e da sa�de. De qualquer jeito, essas associa��es antes insuspeitadas est�o abrindo caminhos inovadores para investigar os mecanismos por tr�s das mol�stias.
Uma pe�a a mais desse complicado quebra-cabe�a acaba de ser identificada pelo pernambucano S�rgio Lira, da Escola M�dica Mount Sinai, em Nova York. Desta vez estavam na mira les�es pr�-cancerosas do c�lon (intestino grosso).
O grupo de Lira as estuda com ajuda de camundongos geneticamente modificados para desenvolver as les�es, conhecidas como p�lipos, que est�o relacionadas com cerca de um quarto dos c�nceres de c�lon.
Lira andava intrigado com o fato de os p�lipos aparecerem concentrados num trecho espec�fico do c�lon, o ceco (em humanos, eles costuma aparecer no outro extremo, a regi�o do reto).
Como a altera��o gen�tica que favorece o surgimento das les�es est� presente em todas as c�lulas do intestino, surgiu a hip�tese de que o problema estivesse relacionado com a popula��o particular de bact�rias naquele trecho do c�lon.
Para saber se bact�rias estavam de fato envolvidas, o pessoal de Mount Sinai recorreu ao tiro de canh�o: um coquetel de v�rios antibi�ticos (metronidazol, ampicilina, neomicina e vancomicina). As les�es diminu�ram, como previa a hip�tese sob investiga��o.
"N�o se pode dizer que as bact�rias em si causam a doen�a", explica Lira. "S� se tiver o fator gen�tico presente, tamb�m."
O pernambucano diz que ainda tem um longo caminho pela frente para tentar identificar as bact�rias mancomunadas com os genes. "Pegar aquela moqueca e separar o leite de coco, o camar�o, o dend�, e a� olhar um por um." E, quem sabe um dia, tratar com antibi�ticos, mudan�a de dieta ou altera��o da microbiota as pessoas que tenham muta��es desvantajosas e polipose.
"Nosso genoma � s� parte da hist�ria", diz o pesquisador, que se formou em medicina no Recife e deixou o Brasil h� tr�s d�cadas. "Existe todo esse outro self, uma constitui��o gen�tica muito mais plural, uma ecologia fant�stica, cujo entendimento � essencial."
At� aqui a microbiota intestinal tem sido estudada por atacado, com amostras (e at� transplantes!) de fezes, vale dizer, do produto final. Mas Lira acha que o c�lon guarda v�rias tribos diferentes de bact�rias.
Em certos locais, e conforme os genes da pessoa, a rea��o inflamat�ria a algumas delas talvez d� origem a p�lipos, prop�e o brasileiro, um "fisiologista apaixonado".
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