O termo Emergência Climática foi eleito pelo Dicionário Oxford como destaque do ano. A ativista Greta Thunberg, 16, acaba de ser eleita personalidade do ano pela revista Time.
Ela iniciou em 2018 campanha contra o aquecimento global em seu país, a Suécia, e acabou se tornando símbolo do novo ambientalismo no mundo Ocidental.
Também recentemente, o Parlamento Europeu aprovou uma declaração de emergência climática e ambiental. Os deputados querem que a Comissão Europeia assegure que as propostas legislativas e orçamentárias estejam alinhadas ao Acordo de Paris e à meta de limitar o aumento de temperatura global a 1,5ºC em relação à era pré-industrial. Para isso, pedem que os membros da UE acabem com os subsídios aos combustíveis fósseis —carvão mineral, gás natural e petróleo— até o final de 2020.
As três notícias apontam para uma preocupação com o planeta que é indissociável da ideia de futuro e de um futuro compartilhado, coletivo.
Enquanto parte do mundo civilizado acena para a necessidade de luta comum pelo bem da humanidade, no Brasil, o governo é cada vez mais sectário, defende só seus mais próximos contra todos os demais. Não coíbe episódios de violência, segregação, racismo, xenofobia, premia grileiros de terra, diz que é preciso desmatar para minerar a Amazônia, incentiva e relativiza crimes no campo e na cidade contra pobres, indígenas e os que não têm defesa.
Três ativistas indígenas foram mortos em menos de dez dias. Em Manaus, o ativista Tuyuca Humberto Peixoto Lemos morreu a caminho do hospital após agressão a pauladas. No Maranhão, dois indígenas Guajajara morreram e outros dois ficaram feridos durante um atentado no sábado (7).
O número de lideranças indígenas mortas em conflitos no campo em 2019 foi o maior em 11 anos, segundo dados preliminares da Comissão Pastoral da Terra divulgados na última segunda (9). Foram sete mortes em 2019, contra duas em 2018. O balanço final só virá em abril de 2020.
Em 26 de novembro, uma semana antes do início da COP25, uma ação policial em Santarém prendeu quatro bombeiros voluntários e invadiu o escritório do projeto Saúde e Alegria, uma das ONGs mais respeitadas do país por seu trabalho intensivo pela saúde que já favoreceu milhares de pessoas.
O fato é que a sociedade está sendo agredida diariamente. Em resposta a essa situação, no dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, mais de 120 organizações da sociedade civil e 500 ativistas, artistas, cientistas e membros da sociedade civil lançaram um alerta durante a conferência do Clima, em forma de carta: “a democracia no Brasil está em risco e uma escalada autoritária está em andamento”.
Além das questões ambientais, que já seriam suficientemente fortes para alertar o mundo sobre os problemas que o Brasil enfrenta, a carta se expande para casos da extrema violência urbana, como o da ação policial em São Paulo que encurralou e trucidou nove jovens em Paraisópolis em atitude indefensável.
“Não é aceitável conviver diariamente com massacres da população de maioria negra das nossas favelas e periferias, executados ou tolerados pelas forças de segurança pública que deveriam protegê-las.”
“Há 35 anos, embalado num gigantesco movimento popular, o Brasil encerrava uma longa ditadura militar. Imaginava, com isso, haver deixado para trás, de forma definitiva, o uso do Estado para perseguições políticas e prisões arbitrárias de ativistas realizadas sem base em provas ou qualquer espécie de julgamento. Imaginava que, enfim, a liberdade teria vindo para ficar”, diz a carta.
“Porém, os rumos que estão sendo tomados pelo Brasil atual são extremamente preocupantes”. E constata: “Passa da hora de toda a sociedade brasileira dizer claramente: não toleraremos afrontas a nossos princípios democráticos! (...) Não é aceitável a censura à cultura e à pesquisa”.
O texto da carta e a lista de signatários estão no site www.observatoriodoclima.eco.br/em-defesa-da-democracia/.
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