� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Ol�, preciso ir
A frase do t�tulo desta coluna ("Hello, I must be going") virou uma esp�cie de bord�o do Groucho Marx, um dos artistas mais brilhantes do s�culo passado. Ela foi cantada pela primeira vez no filme "Os Galhofeiros" ("Animal Crackers", 1930) quando Groucho, convidado de honra em uma festa, mal chega e avisa que ter� que ir embora. Foi a melhor express�o que eu encontrei para me despedir desta coluna.
Sim, estou de sa�da. Parece que mal cheguei, mas foram-se mais de 300 colunas em seis anos e meio. O tema geral sempre foi a inova��o e a influ�ncia das tecnologias digitais na vida social contempor�nea. Cada coluna procurava simplificar temas cabeludos como explora��o do trabalho, discurso de �dio, educa��o, est�tica, depend�ncia de velocidade, guerra, teimosia, intelig�ncia artificial, tecnop�lio, conflitos de gera��es, ac�mulo, sa�de, h�bitos de leitura, pol�tica etc., sempre no contexto digital. Usei, sempre que poss�vel, termos comuns, buscando estimular a reflex�o a respeito de uma tecnologia onipresente, onisciente e onipotente. A liberdade para desenvolver temas era tanta que cheguei at� a fazer manifestos, veja s�.
Quando assumi a coluna, a convite do grande S�rgio D�vila, confesso que a inseguran�a n�o era pequena. "Grande vitrina", diziam alguns. "Grande vidra�a", pensava eu. A responsabilidade de escrever para o maior jornal do pa�s era (e continua sendo) enorme. Mas eu tenho 1,62m. E se tem uma coisa que baixinho gosta � de desafio.
Da mesma forma que as aulas da ECA-USP (Escola de Comunica��es e Artes), que assumi quando ainda era muito jovem, a inexperi�ncia com o jornalismo serviu de est�mulo para pesquisar ainda mais. A inten��o era a de fazer de cada coluna um pequeno estudo quase acad�mico. A forma e a estrutura seriam as de uma reda��o opinativa, mas o texto buscaria estar mais para uma pesquisa do que para aquela velha opini�o formada sobre tudo.
At� porque este � o dom�nio do Facebook.
Demorou para eu conseguir chegar a esse formato. Agrade�o ao meu primeiro editor, Leonardo Cruz, pela paci�ncia e pela dedica��o. O resultado tornou-se uma esp�cie de m�todo de divulga��o cient�fica. Um texto de jornal � mais ef�mero do que uma publica��o acad�mica, mas o seu alcance � incompar�vel. Como o trip� que sustenta a universidade � composto por ensino, pesquisa e extens�o, optei por sacrificar por um tempo a segunda perna em nome da terceira.
Para conseguir um bom resultado, a pesquisa n�o era pequena: cada coluna demandava mais de 10 fontes e cerca de 150 p�ginas de material de refer�ncia. O resultado, em boa parte das vezes, foi satisfat�rio. A resposta de voc�s, tanto online quanto ao vivo, nas aulas e corredores, era gratificante. Tanto que, por todo esse tempo, nunca passou pela minha cabe�a a ideia de tirar f�rias.
A pesquisa cient�fica, no entanto, n�o poderia parar. Ao longo do ano passado, terminei a minha livre-doc�ncia e aproveitei o espa�o desta coluna para explorar a aceita��o de algumas de suas ideias. Defendida a tese, havia chegado a hora de mover adiante. Novas pesquisas demandam um esfor�o maior, e n�o havia mais tempo. Tenho visto muitos intelectuais de respeito se renderem �s tenta��es do mercado, mas a ideia de abandonar a pesquisa, em um pa�s que tanto precisa dela, � muito ego�sta para ser levada a s�rio.
Pensei em reduzir a periodicidade da coluna para publica��es quinzenais, mas isso n�o resolveria o problema. Tinha chegado a hora de parar. Em conversas com o pessoal da Folha, optamos por uma "separa��o de conveni�ncia". Como um casal que se curte muito mas precisa viver em realidades diferentes, cada um segue, por enquanto, seu pr�prio caminho. Um dia a gente pode voltar; vontade n�o falta.
Minhas colunas continuar�o dispon�veis no site da Folha. Depois de merecidas f�rias e de colocar as coisas em ordem, devo reativar o blog luli.com.br, onde publicarei alguns dos textos daqui e de outras revistas de que participei, al�m de algumas coisas novas que eu vier a descobrir. Vou tirar um per�odo sab�tico de m�dias sociais. Responderei ao e-mail luli@luli.com.br, j� que o da Folha devo desativar.
Agrade�o muito a voc�, que me acompanhou por tanto tempo e que me ajudou a espalhar um pouco de consci�ncia e bom senso digital em um pa�s que tanto precisa de reflex�o e considera��o. Agrade�o tamb�m ao Rafael Capanema, � Camila Marques, ao Bruno Scatena e ao Felipe Maia, que me ajudaram a refinar minhas ideias e a compreender um pouco melhor esse mundo fascinante do jornalismo.
Em uma tradu��o capenga, encerro a minha participa��o com a mesma m�sica do Groucho: "Me alegro por vir / mas mesmo assim / preciso ir / Ficaria mais uma semana ou duas / passaria o ver�o por aqui / mas como eu j� disse / preciso ir".
Obrigado por tudo e desculpe qualquer coisa.
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