� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Txt: o futuro do app?
O Futuro � mesmo imprevis�vel. Enquanto muita gente sonha com carros voadores e realidades aumentadas, as mensagens de texto persistem, telegr�ficas.
O protocolo de troca de mensagens curtas (Short Message Service, ou SMS em ingl�s), criado em 1992 e a princ�pio usado apenas por adolescentes para se exprimir por meio de siglas –LOL, VDD, CTZ, OMG, AMG, FTW, SDDS, FLW, BJS, CMG, BFF etc– cresceu. Servi�o indispens�vel nos dispositivos m�veis, a troca de bilhetes digitais � considerada por muitos mais importante do que a pr�pria chamada de voz.
Ao misturar conveni�ncia, simplicidade e disponibilidade, o texto se tornou sin�nimo de comunica��o em tempo real. Sua popularidade � tamanha que, em 2010, o servi�o era o que mais transferia dados pela rede, usado por cerca de 80% dos usu�rios de telefones m�veis. Da� surgiu o smartphone.
E, com ele, muitos se apressaram a decretar a morte de um servi�o t�o prim�rio. No entanto, apesar do crescimento de outros canais de comunica��o por voz e v�deo, o envio de mensagens de texto, seja por SMS ou por aplicativos baseados na internet, como WhatsApp, Facebook Messenger, Apple iMessage e Skype (que tenta recuperar o sucesso que um dia teve o MSN Messenger) ainda � muito popular.
Por mais que a tecnologia pare�a antiquada em tempos de conex�o 4G e streaming de v�deo, a troca de bilhetinhos se tornou parte essencial da vida contempor�nea. A intera��o � intuitiva, r�pida, divertida, �ntima, descritiva e consistente, de forma que a voz e outras interfaces dificilmente conseguem ser.
Ela funciona bem tanto em comunica��es individuais quanto para enviar mensagens para grupos, mandar alertas ou compartilhar links. Conte�dos escritos por esse meio podem ser facilmente classificados, organizados, traduzidos, copiados, pesquisados, citados e consumidos em velocidades diferentes. Em um mundo hiperconectado, o texto �, quem diria, o sin�nimo de comunica��o ass�ncrona.
A natureza das mensagens de texto � diferente da conversa por telefone: seu formato, velocidade e discri��o s�o adequados para pequenas explos�es de comunica��o funcional, mais do que para conversas extensas. Ampliadas pelo uso de emojis, elas permitem uma rela��o de natureza instintiva, quase telep�tica, que pode ocorrer simultaneamente com outros tipos de comunica��o, alguns at� ao vivo.
Ferramentas de conversa��o s�o tecnologias sociais, em que as regras de etiqueta e os c�digos do grupo costumam ser mais importantes do que os recursos tecnol�gicos. Um dos motivos de seu enorme sucesso em um ambiente de assistentes virtuais como Siri e Google Now est� no conte�do de mensagens que podem n�o ser adequadas ao vivo. O texto � r�pido, privativo e poderoso, tanto que a melhor alternativa para ele at� hoje ainda tem sido outra forma de texto.
Aplicativos de troca de mensagens em v�deo, como Skype, Vine e SnapChat, buscam ser o pr�ximo passo. Eles tentam criar uma comunica��o mais intensa, que valorize tons de voz, express�es faciais e linguagem corporal para exprimir sutilezas em que o texto n�o � fluente. Apesar de seu sucesso em determinados grupos e faixas et�rias, at� hoje n�o conseguiram atingir uma parcela da popularidade do singelo texto.
O velho SMS, de t�o seguro e confi�vel, se transformou em uma ferramenta poderosa de autentica��o, usado por v�rios servi�os para garantir a identidade e a seguran�a de seus usu�rios. Ele � usado at� por tecnologias extremamente inovadoras como a comunica��o m�quina a m�quina (M2M), que usa o protocolo para envio de dados de telemetria para usu�rios e centros de controle a partir de lugares em constante movimento ou cuja conex�o de dados n�o seja confi�vel.
H� at� quem aposte no texto como alternativa para um mundo p�s-apps. Diferentemente de interfaces que criam regras de intera��o a cada servi�o, website ou aplicativo, conversas baseadas em texto s�o confortavelmente familiares. Na China, o popular WeChat incorpora muita intera��o na interface do aplicativo. Pode-se falar com servi�os p�blicos, empresas e marcas na mesma tela com que se conversa com os amigos ou o chefe.
Bancos, concession�rias de telefonia, jornais, hospitais, lojas e servi�os p�blicos podem ser consultados dessa forma, em busca de transa��es imediatas de forma bem pr�tica. Seus usu�rios consultam saldos, pagam cart�es, enviam dinheiro, pedem t�xis, reservam mesas em restaurantes e acompanham a entrega de pedidos comprados on-line em simples conversas. Algumas vezes a intera��o � feita por um ser humano, outras por um rob�, outras por um sistema de menus. Tudo da forma mais natural e transparente poss�vel.
Pode soar estranho interagir com o banco por texto, mas a realidade � que essa troca de mensagens � mais confort�vel, mesmo que �s vezes seja inconveniente. E � certamente mais f�cil, segura e familiar do que os complicados aplicativos de hoje e suas camadas m�ltiplas de senhas e tokens. Imagine a simplicidade de mandar mensagens como "pague o condom�nio" ou "mande R$ 1500 para minha m�e" comparado com a forma com que tais servi�os s�o feitos hoje. De certa forma essa � a maneira como os privilegiados que t�m assistentes pessoais interagem com eles no mundo real.
No r�pido desenvolvimento tecnol�gico, logo se entrar� no mundo p�s-aplicativo. Enquanto muitos especulam a respeito de m�quinas vest�veis, �culos de realidade virtual e agentes por comando de voz, talvez a resposta esteja em uma tecnologia com quase 25 anos de idade, para que poucos d�o a devida aten��o.
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