� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
O Impeachment j� ocorreu
Podem berrar, espernear, choramingar, esbravejar ou se lamentar. Podem protestar nas ruas, assembleias, Facebook ou WhatsApp. Podem barrar a iniciativa no Congresso, no Senado, no Judici�rio e nas reuni�es de Centros Acad�micos. Pouco importa o resultado, ele ter� sido meramente burocr�tico. Da mesma forma que um dia se foram as presid�ncias de Jo�o Figueiredo, Jos� Sarney, Itamar Franco e George W. Bush, resta pouco deste mandato presidencial que mal come�ou.
A decis�o n�o pertence mais � ocupante do cargo ou �s for�as pol�ticas que desejam a sua sa�da. Basta uma pequena an�lise da estrutura de redes para se constatar que o poder Executivo, de t�o acuado, se tornou transparente.
Desde Charles Darwin que se sabe que o mais adaptado - n�o o mais forte - � aquele que tem a maior probabilidade de sobreviv�ncia. Mas isso n�o parece passar pela cabe�a do governo que, no melhor estilo Maria Antonieta a propor brioches, fala na CPMF como se fosse transit�ria ou capaz de resolver alguma coisa. Em seu mundo de fantasia parecem n�o perceber que a paci�ncia se foi. N�o h� como pedir para uma popula��o que paga mais de 35% de seu sal�rio que ajude um governo perdul�rio e ca�tico, que nunca deu praticamente nada em troca.
Investigada pelo Supremo, barrada no Congresso, relutante a tributar os ricos, desprovida do apoio dos trabalhadores, empres�rios, funcion�rios p�blicos e movimentos sociais para qualquer novo pacote, a presid�ncia ainda precisa dar ouvidos para seu ex-padrinho, que n�o tem cargo ou import�ncia outra al�m de ter criado boa parte do problema. O resultado � uma enorme desorienta��o, que confunde aliados, irrita bases, enlouquece o setor produtivo e abre rombos ainda maiores no or�amento.
No mundo da tecnologia, decis�es assim s�o constantes. Kodak, Nokia e Blackberry s�o exemplos de empresas cuja prepot�ncia ignorou a demanda por mudan�a. Como elas, a presid�ncia foi julgada, condenada e executada antes mesmo de ser processada.
Da mesma forma que um chefe que logo ser� demitido, um vereador em debate corporativo, um t�cnico de futebol que acumula derrotas, um tio chato em reuni�o de fam�lia ou um marido que est� prestes a ser dispensado, o Poder Executivo d� claros ind�cios de ter sido contornado. Ningu�m sabe direito o que fazer com ele, at� que ponto lev�-lo a s�rio e por quanto tempo suport�-lo.
Sua irrelev�ncia chegou a tal ponto que pouco importa quem ocupe o assento. Por mais que os fan�ticos de um lado afirmem que o pa�s acabar� na eventualidade de um impeachment, ou que os radicais do outro lado acreditem que a crise acabaria por m�gica com a troca de comando, a maioria das pessoas com algum bom senso j� percebeu que o mais prov�vel � que nada mude.
O encolhimento da import�ncia do poder executivo n�o � fato novo, e tem pouco a ver com a Petrobras. Desde antes das elei��es uma disputa de an�es era configurada. Quatro n�o-candidatos, irrelevantes em discurso e import�ncia, se engalfinharam nos debates mais mon�tonos dos �ltimos tempos. Ningu�m levaria a s�rio uma candidatura do Aecinho, da Marina ou da Luciana, se seu concorrente n�o fosse algu�m igualmente ap�tico. A situa��o era t�o pobre que nem o Jos� Serra, fregu�s habitual com voca��o para a lanterna, participou. Agora que a situa��o esquenta e que a presidente pode perder o cargo que se passa a temer a figura do vice, que como Itamar, Alckmim e Sarney, nunca teria carisma para um posto t�o importante.
Sua irrelev�ncia n�o termina com a figura manufaturada de uma presidente t�o merecedora de seu cargo quanto Celso Pitta o foi da prefeitura de S�o Paulo. Da mesma forma que ela, seus minist�rios raramente s�o lembrados. Fala-se em reforma ministerial como se boa parte de seus ocupantes, tipo um tal de Mercadante, ainda estivesse em exerc�cio. Em teoria, ele est�. Na pr�tica, discute-se a sua sa�da como se ele n�o estivesse presente. Quando se fala em ministros, a prop�sito, a primeira imagem que surge � a dos principais ocupantes do Poder Judici�rio, mais impulsivos e grandiloquentes do que aconselharia o decoro do cargo.
As redes, digitais ou n�o, mostram que h� espa�o para todo tipo de pol�tica, com exce��o da inexist�ncia. Pior do que uma institui��o detestada � uma institui��o ignorada. Como acontece frequentemente com a lei ou com figuras de autoridade, nem sempre � poss�vel ser popular. Leis odiadas podem ser contestadas ou, com o tempo, incorporadas � din�mica social. Leis ignoradas n�o passam de pap�is fict�cios.
Nessas condi��es, pouco importa quem ven�a. Todos perdem.
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