� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Computa, computador...
Nesse mundo cada vez mais computadorizado � importante analisar a import�ncia do computador. O que ele faz? De verdade?
At� a d�cada de 70 essas m�quinas faziam jus ao nome que tinham, pois executavam c�lculos em s�rie a grandes velocidades. Sua estrutura mecanicista n�o permitia d�vidas: ele era uma gigantesca m�quina de
calcular, um mosaico de pequenas engrenagens encadeadas que, mesmo substitu�das por processadores, tinham opera��o bastante simples. N�o importava o seu tamanho ou complexidade, o computador sempre poderia ser desmontado e analisado de fora para dentro.
Apesar da figura m�tica do "C�rebro Eletr�nico" amea�ar a domina��o global nos filmes de fic��o cient�fica dos anos 1950, computadores n�o eram capazes de assustar quem tivesse um pequeno conhecimento t�cnico. As m�quinas que colocaram o homem na lua e que dividiram o �tomo ainda eram grandes m�quinas de calcular. Por mais poderosas que fossem na realiza��o das tarefas repetitivas para que foram desenhadas (desde
aquela �poca elas j� eram mais poderosas do que o ser humano), sua l�gica era conceitualmente simples.
Hoje, como pode constatar qualquer pessoa que j� brigou com uma impressora recalcitrante, a situa��o � diferente. Os computadores, como seus ancestrais de 30 ou 40 anos atr�s, continuam a computar, por�m seus c�lculos s�o t�o complexos e interligados que j� n�o podem mais ser identificados individualmente. Qualquer equipamento caseiro � capaz de realizar bilh�es de opera��es aritm�ticas por segundo, uma
quantia que, mesmo se fosse pass�vel de identifica��o, n�o faria o menor sentido l�gico.
O progresso sem precedentes da tecnologia mudou o perfil dos computadores. � medida que seu poder de processamento cresceu exponencialmente, aumentou sua capacidade de manipula��o simb�lica, permitindo a constru��o de processos complexos demais para serem identificados por quem os veja em funcionamento.
Para saber a hora, por exemplo, um algoritmo antigo precisava conhecer a capacidade de processamento do computador em que funcionava para, a partir de sua velocidade de opera��o, ser capaz de calcular o tempo
passado. Uma vez pronto, bastava "acertar" o rel�gio que o programa funcionaria com poucas falhas.
Hoje � diferente: uma simples linha de c�digo � capaz de consultar um rel�gio at�mico na Su��a. Um pequeno aplicativo pode sincronizar hor�rios de frotas de centenas ou milhares de ve�culos. E sat�lites usam a relatividade de Einstein para calcular varia��es de tempo derivadas de sua grande velocidade na Estratosfera em nanossegundos.
O ganho de produtividade trouxe com ele uma natural complexidade. F�rmulas matem�ticas, c�digos e estruturas lineares aos poucos foram substitu�dos por sistemas simb�licos, permitindo a realiza��o de opera��es de complexidade crescente.
Em um paralelo simples, a "linguagem" de cachorros, primatas e golfinhos, por mais que seja composta de alguns verbos e substantivos, n�o permite a constru��o de estruturas hipot�ticas ou filos�ficas, essenciais para o racioc�nio social humano. Ao lan�ar m�o de recursos simb�licos, o computador permitiu a constru��o de senten�as de complexidade igual ou maior do que a humana que, apesar de (ainda) n�o serem capazes de raciocinar por conta pr�pria, transformam o instrumento em algo muito maior e mais complexo do que uma simples ferramenta.
Com o tempo, a imagem do computador como uma grande calculadora se tornou pitoresca e datada. Os conceitos relacionados � computa��o n�o se referem mais a c�lculo e regras, mas a instru��es de simula��o e
intera��o. Da mesma forma que o ser humano realiza uma s�rie de considera��es para a execu��o de movimentos em tarefas do cotidiano sem dar a menor aten��o a elas, os c�lculos cibern�ticos se tornam
secund�rios na defini��o de sua natureza.
O computador os utiliza para a constru��o de tarefas mais complexas, indivis�veis por seu usu�rio em opera��es matem�ticas. A maior evolu��o que as tecnologias digitais promovem hoje n�o est� mais nos meios de produ��o, mas nas interconex�es entre bases de dados.
� medida que aumenta o contato entre o ser humano e os aparatos tecnol�gicos, a distin��o entre o que � caracter�stica espec�fica de cada uma das partes se torna mais complexa, a ponto de ser, em muitos casos, indissoci�vel. A rela��o homem-m�quina, em especial com m�quinas de informa��o autom�tica (inform�tica) � cada vez mais simbi�tica, o que dilui a fronteira entre a natureza e o artif�cio, o manufaturado e o sint�tico, o vivenciado e o simulado, o verdadeiro e o imagin�rio. Se isso � fascinante ou temer�rio depende muito do que se pede delas.
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