� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Tempo n�o � dinheiro
Antes fosse. Eu provavelmente compraria uns dias. Ou pouparia em fevereiro para gastar em outubro.
Passamos os dias em busca do tempo perdido. Esse recurso finito e n�o-renov�vel, fugidio e intang�vel, s� � vis�vel quando passa e s� � valorizado quando j� se foi. � raro quem reclame, ou mesmo se d� conta, de ter muito tempo dispon�vel. Pelo contr�rio, a maioria das pessoas reclama de como ele voa, se perguntando para onde ele foi.
A vida contempor�nea parece ser marcada por uma pressa constante. Todos correm o tempo todo, empilham coisas a fazer, saem no �ltimo minuto e se atrasam para todos os compromissos. Movidos a cafe�na e energ�ticos, todos parecem falar e pensar demasiadamente r�pido, tomando cada vez mais decis�es por impulso. Nas ruas, carros e pedestres andam acima do que seria uma velocidade civilizada, descontrolados, vidrados em seus telefones. Impacientes, � comum v�-los bufar e resmungar com quem deu o azar de estar na frente.
Refei��es s�o um cap�tulo � parte. Funcionais, precisam ser consumidas rapidamente. Mais v�lidas pelo valor cal�rico e potencial gourmet do que pelo sabor, s�o devoradas na mesa de trabalho, com os olhos na caixa de entrada de e-mail. Quando consumidas em restaurantes, costumam ser aproveitadas como oportunidades de neg�cios. Novamente o sabor fica em segundo lugar, perdendo dessa vez para a conta - e para quem a pagar�.
J� se foi a �poca em que os ricos desejavam o �cio. Os fundamentalistas contempor�neos da �tica Protestante cultuam o neg�cio. Todos parecem competir o tempo todo para mostrar quem est� mais ocupado. Ter� mais respeito entre seus pares quem tiver a agenda mais insana, fazendo dezenas de coisas ao mesmo tempo, fren�tico como um beija-flor. Relaxar � imposs�vel. Dormir, um fardo.
Boa parte da atividade econ�mica contempor�nea � baseada em servi�os, e estes n�o costumam ter bons par�metros para medir a efici�ncia. O resultado � que, para quem o tempo vale alguma coisa, trabalhar muito acaba se tornando sinal de lealdade e produtividade, mesmo que demonstrem o contr�rio.
A multiplicidade de op��es e conte�dos oferecida pela Internet amplificou o que psic�logos chamam de "Paradoxo da Escolha": quanto mais op��es houver, mais dif�cil ser� escolher, j� que cada escolha implicar� na recusa das outras. O resultado � uma tentativa f�til de agarrar-se a tudo o que estiver dispon�vel, vis�vel no n�mero de abas, bookmarks e conversas iniciadas nas redes sociais.
O Capitalismo Digital se alimenta da velocidade das m�quinas. Para seus bar�es, � confort�vel demandar de seus usu�rios que sejam cada vez mais velozes, furiosos e instant�neos, pouco importam suas demandas corporais. A distor��o � tamanha que muitos chamam a esse imediatismo de "tempo real".
At� as crian�as, que at� h� pouco eram exemplos de uma rela��o serena e despreocupada com as artificialidades do rel�gio, est�o cada vez mais apressadas. Estragadas por seus pais e pelas m�dias sociais, que colocam todos em grande competitividade, todos correm para evitar o risco de um futuro incerto.
A falta de tempo � tanto um problema de distribui��o quanto de percep��o. Est� menos relacionado � quantidade real de tempo dispon�vel do que � forma com que ela � encarada.
� normal, de vez em quando, sentir-se pressionado e apressado para realizar tarefas e respeitar compromissos. Ignorar tal fato � irresponsabilidade. Mas quando essa pressa e desorienta��o se tornam corriqueiras, � sinal de que algo est� errado.
Antes que voc� tenha um treco ou cause um acidente, � importante desapegar um pouco e retomar o controle da sua vida. � voc�, e n�o o ambiente que voc� frequenta, que, em �ltima inst�ncia, se responsabilizar� por ela.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade