� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Parece coca�na...
mas � s� Facebook, poderia ter dito o Renato Russo. Muitos temores, continuaria ele, nascem do cansa�o e da solid�o.
� f�cil criticar a aparente falta de educa��o de muitos usu�rios de m�dias sociais que, desconectados do mundo � sua volta, passam os dias plugados. O problema, no entanto, pode ser mais complexo do que aparenta.
H� bastante m�rito nas redes. Elas aproximam amigos distantes no tempo ou espa�o e promovem belos reencontros. Mas esse uso representa uma parcela muito pequena do conte�do que circula por elas. Ningu�m fala tanto com velhos amigos ou primos distantes.
Para estimular a participa��o de seus usu�rios, diversos recursos psicol�gicos s�o usados para gerar prazer e criar gratifica��o instant�nea em seus usu�rios. � sempre bom lembrar que o Facebook n�o � gratuito. Como a TV, seu faturamento depende da publica��o de an�ncios. Quanto maior o tempo empregado na rede, mais lucrativo � o usu�rio.
Para maximizar os lucros muitos criam um clima de cassino, de que � dif�cil de escapar. O apelo � t�o forte que at� gente saud�vel muitas vezes sente que passa muito mais tempo na rede do que gostaria. � comum a frustra��o de quem tenta cortar o uso ou dar s� uma olhadela no que est� acontecendo para perceber, um bom tempo depois, que ficou presa a joguinhos e banalidades.
Da mesma forma que acontece com outras atividades e subst�ncias recreativas, � preciso compreender os limites do consumo saud�vel. Em excesso, os est�mulos das redes sociais promovem distor��es na din�mica de recompensa cerebral, criando uma depend�ncia ps�quica similar � de muitos entorpecentes.
S�o comuns, por exemplo, o aumento da toler�ncia ao est�mulo, em que se torna necess�rio um uso cada vez maior ou mais intenso para gerar o mesmo prazer. Quando privados do acesso � rede, muitos apresentam graus variados de s�ndrome de abstin�ncia, n�o vendo valor em mais nada e fazendo de tudo para voltar a ela.
Sonolentos, distra�dos, exibicionistas, egoc�ntricos, muitos dos usu�rios mais ativos parecem verdadeiros aut�matos. Mais acostumados a interagir, compartilhar e curtir on-line, � comum v�-los desconfort�veis quando falam com algu�m pelo telefone ou –pior– ao vivo. Isolados, usam a rede para fugir do t�dio ou das responsabilidades, abandonam as atividades de que gostavam e se sentem "vazios" sem a rede. Tudo o que querem � passar mais e mais tempo por l�, mesmo que isso envolva o preju�zo de relacionamentos e atividades. Quando questionados, se irritam e alegam intoler�ncia e incompreens�o, dizendo que s�o capazes de estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo.
Mas ao contr�rio das depend�ncias qu�micas, � poss�vel se livrar desse ciclo infinito de intera��es vazias e estabelecer um uso moderado da rede com um pouco de disciplina. Um primeiro passo pode ser o de se perguntar o que se ganha de cada intera��o.
Se a resposta for nula ou dif�cil, o melhor � trocar de atividade recreativa. Quem est� cansado demais para ler um livro pode ver um v�deo ou ouvir m�sica. Quem sente saudades dos amigos pode pegar o telefone e trocar uma ideia com eles. Quem precisa refrescar a cabe�a pode esquecer o telefone na mesa e sair para dar uma volta no quarteir�o.
Qualquer uma dessas atividades � muito mais saud�vel e construtiva do que ficar curvado sobre a telinha, escravo das curtidas, preso � timeline, ansioso por novas intera��es. Na pior das hip�teses podem servir para que se tenha uma coisa nova para dizer quando voltar para o Facebook.
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