� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
E-cemit�rio
Passou o Natal e com ele mais uma oportunidade para torrar parte do d�cimo terceiro em presentes para si mesmo, para a casa e para os entes queridos. A c�mara poderia ter mais megapixels, o laptop n�o deveria sofrer para rodar aplicativos, a TV poderia ter melhor defini��o, celulares e tablets poderiam ser mais espertos. Alguns dos velhos equipamentos acabam repassados para c�njuges, pais ou crian�as, mas para a maioria o destino � uma gaveta, em que ser�o esquecidos at� que sejam definitivamente descartados.
A ind�stria se alegra com a obsolesc�ncia programada, retirando o apoio a velhas m�quinas e a sistemas operacionais antigos, alegando que isso retarda a inova��o. Mas n�o � verdade. Muitas aplica��es, como impressoras de recibos, n�o precisam de m�quinas r�pidas ou sofisticadas. As outras deveriam estar abertas a upgrades. Trocar de aparelho deveria ser exce��o, n�o regra.
O uso e descarte indiscriminado de dispositivos eletr�nicos cresce em um ritmo sem precedentes. Novas tecnologias industriais criam elementos magn�ticos de alta pot�ncia, pigmentos cer�micos, aditivos met�licos e pl�sticos que tornam sensores, telas, microchips, lentes e baterias menores, leves, econ�micos, precisos, est�veis e dur�veis.
Com seu uso, cresce a demanda por novos materiais. Na virada do s�culo, cada celular usava cerca de 20 minerais. Modelos mais modernos usam mais de 60 elementos. O processo de minera��o � sujo, cruel e agressivo, poluindo o ar e o solo com metais pesados, como merc�rio e chumbo ou radiativos como t�rio, e provocando c�ncer em quem deu azar de trabalhar ou morar perto das minas.
Um vez incorporados aos aparelhos, reaproveitar min�rios � tarefa ingl�ria. Muitas vezes � mais f�cil tirar mat�ria-prima do solo do que separ�-la dos outros componentes de um smartphone.
Estima-se que haja cerca de 32 toneladas de ouro dispersas entre os celulares no planeta –99% deste ouro ser� incinerado ou enterrado em aterros sanit�rios, o que inviabilizar� sua recupera��o. Com ele tamb�m ser�o eliminadas generosas quantidades de cobre, platina, l�tio, alum�nio, n�quel, estanho e zinco, entre outros. Uma parte consider�vel dos aparelhos descartados nem ter� sido usada, j� que se tornou obsoleta sem deixar a prateleira.
Mudan�as r�pidas na tecnologia, associadas � incompatibilidade com vers�es anteriores resultam no aumento do lixo eletr�nico. Com a populariza��o dos equipamentos, o avan�o da Rob�tica e a Internet das Coisas, esse volume deve crescer.
Um dos maiores desafios da reciclagem eletr�nica est� na remo��o das baterias e metais importantes de cada aparelho. Na cidade de Guiyu, no sul da China, mas de 150 000 pessoas trabalham turnos de 16 horas para desfazer velhos equipamentos e recapturar elementos que podem ser vendidos ou reutilizados. Uma das fontes de renda da rep�blica de Gana, no oeste africano, � a importa��o de equipamentos usados, arcando com a polui��o que pa�ses "desenvolvidos" tem limitada por lei. Boa parte desse lixo � queimado a c�u aberto, poluindo o ambiente com antim�nio, ars�nico, bismuto, boro, ni�bio, sel�nio e tit�nio.
� preciso repensar como se produz e consome a tecnologia. N�o ser� poss�vel manter uma ind�stria crescente se a cada ano milh�es de aparelhos forem jogados fora. Da mesma forma que o petr�leo, a �gua e as florestas, que eram considerados recursos infinitos at� que um dia acabaram, � muito prov�vel que nos pr�ximos anos seu telefone n�o evolua por falta de algo t�o remoto quanto mangan�s ou ber�lio.
T�o importante quanto a nova tecnologia � o desenvolvimento de pol�ticas que a acompanhem. Fabricantes de produtos eletr�nicos precisam se responsabilizar pela manuten��o e reciclagem dos componentes que colocam em seus aparelhinhos t�o lindos. S� assim desenvolver�o pr�ticas que tornem o reaproveitamento dos componentes uma parte do processo industrial, para o bem de todos.
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