� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
O futuro da arte fotogr�fica
Nos �ltimos anos falou-se muito na influ�ncia que os avan�os nas tecnologias de digitaliza��o, capta��o, manipula��o e compartilhamento de imagens tiveram na democratiza��o da express�o visual.
Mas nem tudo � boa not�cia. Apesar da enorme conveni�ncia e na populariza��o de uma t�cnica que at� h� pouqu�ssimo tempo era de dom�nio exclusivo de profissionais especializados, a banaliza��o da fotografia tem seu lado negativo.
N�o me refiro ao culto � imagem na auto-estima de uma gera��o crescida sob as ditaduras do bizarro, do perfeito, do formid�vel ou do retocado, porque isso est� al�m da minha �rea de especialidade. Minha preocupa��o � outra. Ela se refere aos golpes profundos e silenciosos que as novas tecnologias tem realizado na arte fotogr�fica.
A facilidade na manipula��o da imagem digital acabou se transformando, quem diria, em um problema. � comum entre os novos profissionais um descuido na produ��o, deixando qualquer deslize para retoque posterior. O volume de imagens produzidas � cada vez maior, e todas podem ser imediatamente revistas, alteradas, apagadas ou retocadas posteriormente. O processo pode garantir um fluxo de trabalho mais r�pido e eficiente, mas dificilmente garantir� melhores imagens. E raramente gerar� uma reflex�o ou aprendizado sobre elas.
O Photoshop, que surgiu como assistente para a finaliza��o de imagens, passou a realizar tanta falsifica��o que colocou em d�vida a ideia de "verdade" fotogr�fica, no melhor estilo sovi�tico. De tanto usado, o neologismo se tornou pejorativo. Muitos se orgulham em conseguir imagens "sem Photoshop", o que � um preciosismo sup�rfluo, como um ator sem maquilagem.
Profissionais experientes sabem que a riqueza da express�o fotogr�fica n�o est� no suporte nem no retoque, mas na riqueza e imprevisibilidade da produ��o de imagens, o que sempre demandou grande cuidado.
As novas c�maras digitais parecem ter como meta a elimina��o de todo e qualquer defeito poss�vel. Fabricantes anunciam modelos capazes de registrar imagens em fant�sticos ISO 204800, mais de duas mil vezes mais sens�veis do que o velho filme ASA 100. Tecnologias de controle do movimento em novas objetivas parecem capazes de remover qualquer borrado que n�o seja intencional. At� mesmo o foco pode ser, via Instagram, decidido mais tarde.
Estaremos condenados a um mundo de fotos perfeitas, alteradas apenas por inten��o de seus fot�grafos, desfeitas a qualquer instante?
Acredito que n�o. Da mesma forma que os problemas de comportamento das m�dias sociais n�o s�o resultados da tecnologia, mas dos v�cios de seus usu�rios, a redu��o da qualidade art�stica na fotografia contempor�nea n�o � causada pelas novas t�cnicas, mas por seu abuso. E pode ser facilmente revertida.
� medida que novos profissionais come�arem a desenvolver suas assinaturas art�sticas � prov�vel que surjam novas est�ticas, rediscutindo muito do que se entende hoje por registro de imagens.
Recursos como a fotografia panor�mica, combinada a t�cnicas de renderiza��o 3D poder�o criar novos ambientes fotogr�ficos mais pr�ximos da cenografia do que da ilustra��o. C�maras de foco din�mico, do tipo Lytro, podem ser usadas para criar movimentos cinem�ticos em fotografias. Novas imagens imersivas valorizar�o o trabalho de composi��o tridimensional, ainda restrito �s t�cnicas complexas e caras dos profissionais de cinema e anima��o. Isso sem falar do uso criativo de drones e da cria��o colaborativa, associado a novas tecnologias de capta��o e visualiza��o.
Uma nova est�tica fotogr�fica est� para surgir. Ela dever� ser mutante, din�mica, revista e alterada como uma mem�ria. Os novos fot�grafos n�o dever�o rejeitar a tecnologia, mas abra�ar seu potencial para contar as novas hist�rias.
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