� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Pequenos usu�rios, grandes neg�cios
Com um poder de compra sem precedentes e abertos a qualquer novidade, as crian�as de hoje se tornaram desproporcionalmente importantes para as novas tecnologias.
At� h� pouco tempo elas n�o passavam de um mercado espec�fico de produtos de baixo valor. Por mais cara que fosse uma Barbie, seu custo poderia ser administrado. Era comum substitu�-la por uma Polly ou Susi ou herd�-las de irm�s ou primas, e suas roupinhas poderiam ser feitas em casa. Em �ltima hip�tese, um "n�o" tinha um bom valor educativo.
Pais e professores eram a grande barreira para empresas chegarem a um p�blico altamente sugestion�vel. Sarc�sticos com rela��o �s mentiras deslavadas da publicidade, eles tinham condi��es de proteger os pequenos do interesse mercadol�gico por tr�s de cada comercial.
Tudo isso mudou com a populariza��o da TV e das revistas infantis, que deu aos departamentos de marketing formas de driblar o controle adulto e falar diretamente com as crian�as. Depois de muita luta, restri��es � publicidade infantil conseguiram dar ao mercado um m�nimo de civilidade.
Mas os comerciantes n�o deixariam barato. Ao perceberem que as crian�as, por sua disposi��o para aprender e tempo livre de sobra, eram capazes de manejar as novas m�quinas muito melhor do que seus pais, passaram a direcionar suas mensagens comerciais para esse novo canal.
Era f�cil demais. O uso educacional de computadores leva muitos pais a confiar implicitamente nas telas, n�o se importando de ter as crian�as on-line. Sem saber que a publicidade eletr�nica �, muitas vezes, muito mais intrusiva e manipuladora do que a pior TV seria capaz de imaginar.
A forma mais direta de tirar o doce das crian�as � apelar para jogos e comunidades aparentemente gratuitos, com elementos extras que podem ser comprados para enfeitar personagens ou atingir novos n�veis. Mas existem outras formas, sorrateiras e muito mais daninhas, de invadir o cotidiano. Seus efeitos s� dever�o estar vis�veis em uma ou duas d�cadas.
Todos os dias profissionais especializados comercializam grandes volumes de informa��es que deveriam ser particulares, combinando o rastreamento de dados com informa��es pessoais fornecidas pelos pr�prios usu�rios.
A vigil�ncia � perene. Ela est� nas palavras buscadas no Google, nos cliques da timeline do Facebook, na identifica��o de palavras-chave em e-mails, SMS, WhatsApp e Waze, nos games e uso de consoles, no reconhecimento de faces e produtos em fotos, nas "curtidas" em p�ginas, no uso de mapas, na localiza��o de smartphones, entre tantos. N�o tardar� para estar em TVs, rob�s, eletrodom�sticos e carros, cada vez mais dif�cil de identificar.
As informa��es, compiladas em perfis detalhados, s�o repassadas para anunciantes constru�rem mensagens personalizadas, com base no conhecimento de interesses, comportamento e status s�cio-econ�mico de seus usu�rios.
Se para adultos isso � um inc�modo, representado naquele an�ncio que teima em reaparecer semanas depois de um produto ter sido comprado, para crian�as essa distin��o n�o � t�o clara.
� complicado quando a interface do mundo real passa a vender coisas o tempo todo. Se at� adultos esclarecidos assumem que o que n�o estiver listado nas primeiras p�ginas de resultados de busca � pouco importante ou inexistente, o que dizer de quem ainda n�o desenvolveu o senso cr�tico e acha normal perguntar para a interface o que fazer amanh�?
N�o � razo�vel esperar que os pais sejam capazes de proteger suas crian�as de pr�ticas de uma ind�stria t�o avan�ada e inescrupulosa. A privacidade das crian�as s� pode ser garantida por uma combina��o de uma divulga��o clara, direta e abrangente, com consentimento peri�dico.
S� assim ser� poss�vel equilibrar o interesse das crian�as em aproveitar a riqueza de informa��o da rede e, ao mesmo tempo, proteg�-las de pr�ticas de marketing enganosas e injustas que se aproveitam de suas vulnerabilidades nestes novos meios de comunica��o.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade