� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Informa��o n�o � tudo
A Tecnologia de Informa��o est� por toda parte. Setores t�o diversos quanto Medicina e Finan�as, que at� h� pouco tempo viviam sem computadores, hoje sofreriam um colapso se as ferramentas eletr�nicas parassem de funcionar.
As m�quinas, que at� o final do s�culo passado n�o passavam de assistentes limitados, restritos � execu��o de tarefas repetitivas, hoje determinam estrat�gias. Poucos duvidam que logo ser�o capazes de tomar decis�es cada vez mais complexas, baseadas em dados precisos.
Boa parte dos avan�os � resultado de uma �rea cient�fica pouco conhecida: a Teoria da Informa��o. Misto de Computa��o, Matem�tica, Engenharia e F�sica, ela se preocupa em quantificar dados e buscar padr�es de compress�o e processamento de sinais. Aplicada a Criptografia, Computa��o Qu�ntica, detec��o de pl�gio e comunica��o com espa�onaves, ela parece coisa de fic��o cient�fica.
No entanto � bastante cotidiana, presente nos documentos comprimidos para formatos ZIP, MP3 e JPEG, no armazenamento de informa��o em bancos de mem�ria e discos r�gidos e na transmiss�o, via redes, de boa parte das comunica��es modernas.
Seu princ�pio fundamental � reduzir informa��o a uma cole��o de unidades discretas - o d�gito bin�rio, abreviado para "bit", de "BInary digiT". Para a teoria, o que importa � a qualidade da reprodu��o, n�o seu valor ou prop�sito. Segundo seu inventor, o matem�tico Claude Shannon, qualquer interpreta��o era "subjetiva e irrelevante para a engenharia". A maioria dos computadores foi modelada para atender �s demandas dessa teoria.
Nos anos 1950, �poca em que foi proposta, pensar em interpreta��es era um passo grande demais. Apesar de chamados de "c�rebros eletr�nicos", computadores da �poca n�o passavam de calculadoras e fich�rios metidos a besta.
Hoje a situa��o mudou. � medida que as m�quinas se tornam respons�veis por um n�mero cada vez maior de decis�es cotidianas, as perguntas se tornam complexas demais para serem respondidas por uma sequ�ncia de escolhas entre o "n�o" e o "sim", entre o zero e o um.
Mesmo assim, um n�mero crescente de cientistas acredita que o livre-arb�trio � uma ilus�o. H� quem sugira que a Informa��o � o componente fundamental do universo, mais essencial do que Mat�ria ou Energia. Do c�digo gen�tico e sinapses �s �rbitas dos el�trons, cada estado e cada mudan�a poderia se representar por informa��o. O Universo conhecido poderia ser descrito em informa��o, portanto seria equivalente a um computador monumental.
Para a "F�sica Digital", Buracos Negros n�o seriam ruins por engolir mat�ria e energia, mas por acabar com a informa��o. Ideias quase lis�rgicas como o Princ�pio Hologr�fico sustentam que a realidade conhecida seria, na verdade, a proje��o de uma estrutura de informa��o, "pintada" no horizonte de um super buraco negro.
A proposta de calcular o Universo n�o � novidade. Dos fil�sofos Atomistas gregos a Isaac Newton, passando por praticamente todas as religi�es ocidentais, o mundo sempre se desesperou com a ideia de ser v�tima do acaso, de n�o fazer parte de um plano maior. Pouco importa que a realidade insista em provar o contr�rio.
Toda a informa��o � f�sica, presente nos objetos e processos. Mas isso n�o significa que todas as coisas podem se reduzir a informa��o. A pr�pria ideia de informa��o perde o sentido na aus�ncia de contexto. Sem pessoas capazes de interpretar seu conte�do, um livro � t�o �til quanto uma pedra.
No conto "A Biblioteca de Babel", Jorge Luis Borges descreve uma estrutura m�tica infinita, capaz de conter todos os livros, em todos os idiomas, todos os coment�rios a respeito de cada obra e todos os coment�rios a respeito de cada coment�rio. Em suas estantes, todas as vers�es da Hist�ria estariam acompanhadas de todas as falsifica��es. Mesmo completa, a biblioteca n�o seria capaz de gerar conhecimento, por n�o ser capaz de interpretar o que estava registrado. Parece a Internet? Imagina.
Objetos podem at� existir mesmo que n�o haja ningu�m para interpret�-los. Mas at� hoje n�o se descobriu nada capaz de interpretar a informa��o sem mat�ria. � dif�cil acreditar que deus n�o existe.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade