� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Hackers de jaleco branco
A integra��o de tecnologias atrai a aten��o para segmentos que at� recentemente passariam despercebidos. � o caso da digitaliza��o de registros de sa�de em sistemas eletr�nicos, compartilhados pela rede.
Amplificados pela coleta de dados pessoais prometida pelos novos rel�gios e sensores, eles devem acelerar e aumentar a precis�o de diagn�sticos, fatores essenciais em uma �rea em que prazos costumam ser urgentes e h� pouca margem para erro.
Entretanto essa digitaliza��o tamb�m pode significar um pesadelo de seguran�a para o segmento m�dico. Suas bases de dados raramente est�o devidamente protegidas, o que cria oportunidades para grupos especializados em crime eletr�nico.
O que h� de t�o interessante em um prontu�rio m�dico? Para come�ar, dados gen�ricos. Nomes, endere�os, planos, ap�lices e informa��es de cobran�a podem ser usados para criar identidades falsas e realizar outros tipos de fraude.
Os registros m�dicos tamb�m podem ser usados para forjar receitas, atendimentos, interna��es, reembolsos, a��es judiciais fraudulentas e at� comprar equipamentos ou rem�dios para revender no mercado negro. Ao contr�rio da fraude banc�ria, o furto da identidade m�dica, n�o � imediatamente identificado pelo paciente nem pelo prestador de servi�os, o que d� aos criminosos bastante tempo para lucrar a partir deles.
Para piorar, a invas�o � f�cil. Muitas dessas redes usam, em seus sistemas administrativos, m�quinas antigas, algumas com mais de dez anos de idade e pouqu�ssimas atualiza��es, al�m de um enorme descaso com criptografia e backups.
Entre prestadores de servi�os � comum subestimar a dimens�o do problema. � compreens�vel, embora n�o deva ser aceit�vel. Em um ambiente de pouco conhecimento tecnol�gico, grandes investimentos e or�amentos apertados, a decis�o entre se investir em um novo aparelho de tomografia ou hemodi�lise sempre parecer� muito mais urgente e apresentar� resultados mais imediatos e palp�veis do que o investimento na estrutura��o ou moderniza��o do firewall administrativo.
Com uma ousadia digna de Hollywood, grupos ligados ao crime organizado realizam ataques di�rios a grandes hospitais e prestadores de servi�os de sa�de nos Estados Unidos, Europa e Jap�o. Hackers tamb�m inserem pen drives com c�digo malicioso em computadores, furtam fitas de backup, laptops e discos r�gidos e clonam bases de dados.
Em um caso recente, alguns hospitais da Calif�rnia terceirizaram o servi�o de transcri��o de suas fichas para empresas na �ndia e Paquist�o, sendo depois chantageados por seus pr�prios fornecedores.
Enquanto o vazamento das fotos de celebridades ganha o mundo e levanta quest�es quanto � qualidade ou confiabilidade dos servi�os da nuvem, ela �, sem d�vida, a melhor sa�da. Consult�rios m�dicos e hospitais podem proteger adequadamente os dados de seus paciente atrav�s de servi�os de armazenamento an�nimo e privado, similar ao processo usado em servi�os financeiros.
O roubo � s� um dos problemas. Outra grande preocupa��o est� na pirataria e falsifica��o de equipamentos. De acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de, ela chega a 8% dos dispositivos m�dicos em todo o mundo. Por enquanto ainda se restringem a produtos simples, como preservativos, lentes de contato e instrumentos cir�rgicos. Mas logo a pirataria chegar� � eletr�nica. N�o � nada confort�vel pensar em um problema de software provocando uma falha em um sistema de sobreviv�ncia, bem no meio de uma cirurgia.
� preciso estar atento a esse tipo de fraude. Na melhor das hip�teses, o paciente prejudicado ter� que lidar com a burocracia dos planos de sa�de para provar que � inocente, e mesmo assim poder� ter, em seus registros, informa��es que comprometam futuros empregos ou financiamentos.
Em �ltima inst�ncia todos pagaremos, ao recebermos o repasse da conta da seguran�a no aumento dos pre�os dos planos de sa�de e na precariedade dos servi�os p�blicos.
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