� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Escrev�amos em vidro. E ach�vamos o m�ximo
Ao lan�ar seu novo telefone e rel�gio na semana passada, a Apple entrou oficialmente no mundo das tecnologias vest�veis. Se a tradi��o permanecer, ter� sido uma mudan�a e tanto.
Dona de alguns dos melhores departamentos de design e rela��es p�blicas do mundo, a empresa � conhecida por transformar mercados. Produtos como o iPod, o iPhone e o iPad transformaram categorias como MP3 players, smartphones e tablets, que at� ent�o podiam ser consideradas de nicho, em ideias corriqueiras, criando no processo novas formas de intera��o, como deslizar telas e beliscar �cones.
Para que n�o se transformem em cacofonias para aumentar a ansiedade de seus j� estressados usu�rios, as novas tecnologias vest�veis dever�o usar interfaces h�pticas, que se comunicam atrav�s de um sentido t�o importante quanto pouco explorado: o tato.
Apesar de ser o primeiro sentido a se desenvolver no feto e um dos mais comuns na natureza, o tato � pouco usado em sistemas digitais, especialmente por sua complexidade. Enquanto um v�deo precisa de trinta imagens por segundo para transmitir a ilus�o de movimento cont�nuo, sensores t�teis na pele respondem a um n�mero cerca de dez vezes maior de altera��es no mesmo per�odo. Para atingir esse grau de precis�o, engenheiros precisam sincronizar alavancas, motores e sensores min�sculos em gigantesca precis�o.
A rela��o entre pessoas e m�quinas nunca foi simples, marcada por simplifica��es e mal-entendidos. Enquanto computadores processam e armazenam grandes volumes de dados, seus usu�rios precisam da vis�o, acompanhada de alertas sonoros, para ter acesso � informa��o. Enquanto esses canais est�o chegando a seus limites, interfaces h�pticas podem ampliar a informa��o transmitida de maneira inimagin�vel.
De forma simplificada, a sensa��o t�til pode ser dividida entre o que se percebe na superf�cie da pele e o que � sentido pelos m�sculos abaixo dela. � o �nico sentido que funciona como via de m�o dupla, usado tanto para sentir a textura de superf�cies como para aplicar press�es. Cada peda�o do corpo � uma estrutura sensorial complexa, capaz de interpretar texturas, golpes, press�es, vibra��es, dores e varia��es de temperatura continuamente.
O toque, como as imagens e sons, tem sua linguagem pr�pria, com vocabul�rio e gram�tica �nicos. H� toques amig�veis, intimidadores, afetivos e �ntimos. Abra�os, beijos, c�cegas, tapas, empurr�es, belisc�es e chutes s�o alguns exemplos de toques, cuja aceita��o social varia conforme a cultura e o contexto.
Novas interfaces demandar�o uma alfabetiza��o t�ctil muito mais complexa do que a alfabetiza��o visual promovida por �cones, Photoshop, Instagram e Pinterest. A revolu��o sensorial que dever�o causar tornar� rid�cula a �poca em que as pessoas tocavam e escreviam no vidro, alheias a um playground de texturas e press�es artificiais.
As novas superf�cies, � claro, n�o dever�o servir para tudo. Por mais que interfaces como as do filme Minority Report impressionem, qualquer usu�rio de Wii ou Kinect sabe que planilhas e textos dever�o continuar a ser feitos em teclados. O mundo do toque n�o dever� substituir os anteriores, mas complement�-los, abrindo perspectivas para pr�ticas impensadas, como a manipula��o de objetos e pesos virtuais, cujo tamanho real seria grande ou pequeno demais para nossa capacidade.
Ambientes de simula��o ter�o muito a ganhar com respostas t�teis, e poder�o ser usadas para o treinamento de profissionais de medicina e, aplicados a rob�s, monitores 3D e proje��es hologr�ficas, aplicados a profiss�es delicadas ou de opera��o remota. Sem falar dos habituais usos em videogames, armas e pornografia.
O mundo t�til � gigantesco por defini��o. Associado a novas tecnologias como Internet das Coisas, intelig�ncia artificial, "Big Data" e realidade aumentada, ele promete criar novos ambientes imersivos, invis�veis, ampliando a ideia de uma tela de informa��es para uma "datasfera", uma atmosfera de dados interconectados interagindo conosco atrav�s de v�rios sentidos, com amplitude mundial.
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