� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Quase viva
A rede muitas vezes se comporta como se fosse um organismo vivo, criando estruturas complexas e inesperadas � medida em que cresce, como se tivesse vontade pr�pria.
Essa caracter�stica, apesar de surpreendente, � comum. Sistemas din�micos, como formigueiros, mercados e rela��es sociais, chamam a aten��o por sua imprevisibilidade desde Arist�teles.
Em �reas t�o diversas como filosofia, f�sica, computa��o, lingu�stica, neuroci�ncia, sociologia ou economia, a evolu��o de sistemas complexos � chamada de emerg�ncia. Ela se refere ao processo em que grandes entidades, estruturas ou padr�es surgem espontaneamente a partir da intera��o entre seus componentes.
Uma cidade � muito diferente das casas que a formam, da mesma forma que n�o se pode identificar nenhum componente do tr�nsito em um autom�vel estacionado. O todo � completamente diferente das partes, e sua ordem impl�cita � t�o fant�stica que n�o faltam m�sticos para lhes atribuir um "criador".
N�o � para menos: explicar como a vida surge a partir de mol�culas inanimadas, como pensamentos aparecem no c�rebro ou como trilh�es de c�lulas formam um ser humano � um desafio e tanto.
Mas, como sempre, Darwin explica. Em redes din�micas e competitivas, em que as rela��es entre cada membro mudam com o tempo, os mais adaptados sobrevivem e transmitem as informa��es adquiridas. A mesma explica��o vale para tumores e redes de corrup��o, por isso � t�o dif�cil erradic�-los.
A internet � um sistema emergente. Ela funciona como se fosse um �nico computador, com terminais espalhados em dispositivos de todos os tipos, de rob�s industriais a telas de smartphones. Funcionando ininterruptamente h� mais de 30 anos, ela � a m�quina mais confi�vel j� criada pela humanidade. Nunca parou de vez, e n�o h� ind�cios de que pare. J� mudou de fun��o diversas vezes, e tudo indica que continuar� a mudar.
Quando a web surgiu, ningu�m de bom senso acreditaria que seria uma amea�a �s ind�strias de informa��o, nem que seria gratuita. N�o se imaginava, quando as m�dias sociais ainda engatinhavam, que gigantes como Google e Facebook amea�ariam acabar com a privacidade como a conhecemos. No entanto
Redes, como mercados ou sistemas pol�ticos, come�am recheadas de boas inten��es, mas podem rapidamente ser corrompidas ou se transformarem em algo imprevis�vel. N�o h� ind�cios de que os inventores do Capitalismo buscassem a desigualdade. Nem de que os mentores do Socialismo propusessem regimes totalit�rios.
A m�quina digital cresce exponencialmente, e seus �rg�os dos sentidos se expandem para c�maras 3D, drones, sensores, carros e tudo que chamamos de "internet das coisas". Os dados coletados por sistemas de busca, tradu��o, compartilhamento e GPS, armazenados na nuvem e processados por sistemas de "big data" e intelig�ncia artificial, analisam padr�es e criam estruturas de complexidade inimagin�vel, um passo de cada vez.
A m�quina, que j� foi uma extens�o do homem, � cada vez mais central. E n�s, na periferia do racioc�nio, nos transformamos sem perceber, em seus �rg�os dos sentidos.
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