� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Uma nova divis�o de classes
O acesso � rede est� se tornando uma necessidade b�sica. A tecnologia que hoje est� em computadores e dispositivos m�veis logo estar� em casas, escrit�rios e autom�veis, modificando rapidamente a economia e cadeia de produ��o. Quem estiver fora delas ter� dificuldade at� em se candidatar a um emprego.
Para tirar verdadeiro proveito das novas t�cnicas � preciso saber desmont�-las e manipul�-las, n�o adianta simplesmente consumi-las passivamente, sem se questionar como funcionam. Seu av� tinha medo que dessem choque. Seu pai, que dessem pau e perdessem o que n�o tinha sido salvo. Seu irm�o n�o confia na nuvem. Cada nova tecnologia � uma ferramenta que tememos antes de aprender a manipular. A �nica sa�da para vencer esse medo, sabem muito bem as crian�as, � brincar com elas, mesmo correndo o eventual risco de quebr�-las.
A crescente complexidade das m�quinas leva a uma nova divis�o de classes baseada em conhecimento, separando especialistas de seu p�blico ignorante que, por mais que tenha a ilus�o de ter dispon�vel o acesso a qualquer informa��o, sabe cada vez menos como faz�-lo.
Um bom exemplo da nova elite que se forma est� nas empresas de intelig�ncia de mercado, bancos de investimentos e start-ups de tecnologia, em que programadores cada vez mais especializados se associam a cientistas e engenheiros para criar estruturas de complexidade gigantesca.
O progresso tecnol�gico s� se transforma em bem comum quando � continuamente monitorado e contextualizado, como se v� nas t�cnicas m�dicas e de infra-estrutura. Quando correm livres, novas descobertas acabam por refor�ar e aumentar desigualdades preexistentes.
No passado, a mudan�a tecnol�gica tinha como objetivo aumentar a capacidade f�sica dos trabalhadores. � medida que a automa��o se torna capaz de realizar tarefas de n�vel cognitivo mais alto, de sistemas de atendimento telef�nico autom�tico a rob�s capazes de construir carros e organizar estoques, as habilidades humanas se tornam t�o obsoletas quanto a for�a de carga de um jegue.
Ao redor do mundo, a parcela de renda destinada a trabalhadores manuais vem diminuindo, aumentando a desigualdade. Ao longo da hist�ria, essa divis�o, por mais injusta ou concentrada que fosse, era um problema administr�vel. Uma fazenda ou ind�stria n�o funcionaria sem seus trabalhadores.
N�o mais. Na Revolu��o Industrial, as m�quinas se limitavam a realizar tarefas f�sicas. Hoje os desafios s�o cognitivos. Trabalhos burocr�ticos, entre eles o de gerentes, diretores e CEOs, dever�o estar entre os pr�ximos a serem substitu�dos pela intelig�ncia de m�quina.
N�o � algo que dever� acontecer de uma hora para a outra, mas a sua chegada parece inquestion�vel. Os Luditas, trabalhadores t�xteis que, revoltados com a perda de seus empregos, partiram para a destrui��o das m�quinas, n�o eram malucos. S� estavam dois s�culos � frente do seu tempo.
Em um mundo que Capital e Trabalho se tornam grandezas desproporcionais, quem controla os rob�s domina o mundo. N�o demorar� para que pequenos implantes cerebrais amplifiquem a mem�ria e capacidade intelectual de quem puder pagar, mudando completamente a forma com que se aprende e a complexidade dos discursos - e criando uma divis�o de castas intelectuais praticamente intranspon�vel.
Uma das teorias cient�ficas mais discutidas e menos lidas, a "Origem das Esp�cies" de Charles Darwin n�o trata de evolu��o, mas de adapta��o. Na grande selva, quem vence n�o � o mais forte nem o mais evolu�do, mas o mais adaptado.
O sensacional "Capital no s�culo 21", de Thomas Piketty, mostra com brilhantismo que, se n�o houver interven��o, a desigualdade s� tende a aumentar. Ela se manifestar� tanto no capital financeiro quanto no intelectual e tecnol�gico. Hoje praticamente n�o � poss�vel criar uma start-up sem financiamento. E os "anjos" que as financiam s�o sempre os mesmos.
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