� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
O apocalipse zumbi
Eles est�o por toda parte. Nas ruas, cal�adas, elevadores, filas e banheiros, zumbis atordoados, andando sem dire��o, vidrados em telinhas brilhantes, s�o cada vez mais comuns.
Em seu titubear, b�lidos pedestres trope�am, caem ou entram de cara em algum obst�culo. Por mais que se machuquem, parecem estar mais preocupados com seu aparelho do que com o pr�prio corpo.
� f�cil identific�-los. H� os Frankensteins que andam com o telefone prensado entre o ombro e a orelha para ter as m�os livres; os corcundas com seu pesco�o esticado; os tagarelas que parecem falar sozinhos e estranham quando algu�m responde; e os desconfiados que operam suas maquininhas por debaixo da mesa, entre tantos.
Suas atividades variam. Jogadores compulsivos buscam recordes na mesa do jantar; ansiosos d�o olhadelas furtivas para saber se o time ganhou ou se vai chover amanh�; chor�es destilam suas m�ltiplas frustra��es em uma constante lengalenga; cinegrafistas usam flashes para registrar shows; rep�rteres de m�dias sociais comentam tudo o que veem; e fot�grafos de tablet parecem prestes a dar uma pranchetada na cara do pr�ximo.
Eles n�o s�o desatentos. O que acontece � uma certa equaliza��o da aten��o, em que acontecimentos distantes s�o amplificados enquanto o que est� na frente se emudece.
Em comum, todos acreditam n�o haver nada de errado com eles. Ao se julgarem capazes de fazer v�rias coisas ao mesmo tempo, se irritam com a implic�ncia dos outros enquanto checam o Facebook ou enviam mensagens de texto no meio de conversas.
"Pode falar, estou ouvindo", dizem, aparentemente despreocupados com o desconforto de seus interlocutores. N�o percebem que sua atitude transmite uma sensa��o de impaci�ncia e t�dio, como se nada fosse interessante o suficiente para interess�-los.
Canivetes su��os da vida moderna, com seus jogos, m�sicas, v�deos, m�dias sociais, mensagens de texto e apps para tudo, smartphones criam um ambiente de estimula��o cont�nua, t�o atraente que gera em seus usu�rios uma vontade enorme de us�-los o tempo todo.
Sem o aparelho muitos se sentem perdidos, isolados do mundo, menos confiantes, s�s. Por mais que a tecnologia seja social, seu uso excessivo desconecta o indiv�duo do cotidiano.
Desde os primeiros Blackberries –apelidados de Crackberries pela depend�ncia que pareciam criar, smartphones e tablets parecem ter eliminado o t�dio de uma vez. Isso n�o � necessariamente uma boa not�cia.
O c�rebro humano precisa de um tempo desestruturado para que os pensamentos desconexos possam se agrupar, eliminar tens�es e gerar boas ideias. � estressante viver em um ambiente que cada momento se transforma em uma oportunidade de intera��o.
Ao preencherem praticamente todos os instantes anteriormente ociosos, eles eliminam per�odos de auto-conscientiza��o, medita��o, reflex�o, ou simplesmente de desligamento que, mesmo quando involunt�rios, s�o extremamente saud�veis.
A medita��o, em suas variadas formas, sempre promoveu a serenidade e auto-consci�ncia atrav�s da conscientiza��o do que est� acontecendo agora, sem a preocupa��o com acontecimentos que estejam fora do alcance. Raramente uma recomenda��o milenar foi mais contempor�nea.
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