� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Muito al�m do Felip�o
Agora que a ressaca passou e que ningu�m mais quer falar da Copa, vale a pena examinar friamente aquele vexame de ter�a � tarde. N�o do ponto de vista do futebol - o Brasil j� tem t�cnicos demais em cada boteco - mas da intelig�ncia do neg�cio disfar�ado de esporte.
Sob qualquer ponto de vista, o 7x1 da Alemanha sobre o Gigante Sonolento parecia ruim demais para ser verdade. Ningu�m tinha d�vida de que seria um jogo dif�cil, com poss�vel vit�ria alem�. Mas n�o com aquele placar. Os alem�es pareciam a armada de Cortez ao enfrentar os Incas, confiantes de saber algo desconhecido pelos ing�nuos brasileiros.
E sabiam. Desde o final do ano passado a equipe alem� usa c�meras especiais para coletar imagens e interpret�-las. N�o pelos olhos experientes de t�cnicos e jogadores, como � feito ao redor do mundo, mas por poderosas bases de dados.
O resultado, t�pico de enredo de filmes chatos como "Moneyball", chama a aten��o para a influ�ncia da tecnologia sobre um esporte retr�grado, teimoso e arrogante, como o era o beisebol nos EUA, e que, com bastante relut�ncia, come�a a ter que engolir os avan�os da tecnologia. Era natural que a revolu��o viesse da Alemanha, emblem�tica por sua disciplina e apego a processos. Teria sido muito mais humilhante se viesse do Jap�o ou Cor�ia.
Chega de Zagallos, Parreiras, Felip�es ou Dungas. A sele��o brasileira n�o precisa de t�cnico estrangeiro. Ela precisa de uma t�cnica contempor�nea.
O uso de Big Data em futebol � recente. Ele come�ou no final de 2013, quando a SAP, gigante de software corporativo, iniciou uma parceria com o Fraunhofer Institute, a empresa de videogames Crytek e o clube sub-20 TSG Hoffenheim, criando uma solu��o baseada em processamento geoespacial, sensores e visualiza��o 3D para analisar os resultados de cada treino em tempo real.
Nos treinos do TSG Hoffenheim cada uniforme tem v�rios medidores, mem�ria para processamento local e uma pequena antena. Gra�as a eles, mais de 60 milh�es de registros podem ser capturados, transmitidos, analisados e armazenados por jogo.
O resultado, praticamente instant�neo, � combinado com as imagens coletadas por uma rede complexa de c�maras instaladas no campo, captando os movimentos de cada jogador a partir de v�rios �ngulos simult�neos.
Com toda essa medi��o, t�picos que passariam despercebidos podem ser analisados em cada treino para identificar os pontos fortes e fracos de cada jogador, ajustar a intensidade dos exerc�cios e minimizar o risco de les�es. Armazenadas e comparadas, as m�tricas poder�o revelar tend�ncias e capacidades de cada jogador, ampliando as op��es do t�cnico.
Futebol pode parecer um jogo simples, mas tem aspectos f�sicos, psicol�gicos e t�ticos complexos. Como todo esporte de ponta, ele precisa incorporar as novas descobertas cient�ficas.
Isso n�o significa que sua paix�o ser� substitu�da pela engenharia das tabelas e n�meros. Da mesma forma que a prepara��o f�sica fortalece os atletas e torna a competi��o mais �gil, a coleta e an�lise de dados pode ser o assistente perfeito para o talento dos jogadores. No come�o toda essa previs�o pode tornar o jogo chato e oportunista, mas assim que todos a utilizarem os jogos tender�o a ser mais r�pidos e cada vez mais divertidos.
Como acontece em qualquer mudan�a, n�o faltar�o opositores. Alguns chamar�o a tecnologia de doping digital, outros dir�o que ela tornar� o jogo mais cerebral, diminuindo a riqueza ca�tica do esporte. Nada mais distante da realidade.
� hora de revolucionar o Futebol. Acabar com os mitos e adotar uma gest�o baseada em evid�ncias, n�o em mandingas de vesti�rio.
Fu�ball, que j� foi sin�nimo de futebol-for�a, est� se tornando uma nova forma mais inteligente de futebol-arte e ci�ncia, capaz de ter placares e jogadas t�o incr�veis que parecer�o sobre-humanas.
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