� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Cada clique, um voto
Vivemos em uma �poca de conte�do de conveni�ncia. A informa��o tornou-se t�o abundante que n�o � dif�cil encontrar fatos que confirmem todo tipo de cren�a, por mais absurda que seja.
A ideia de fatos puros, objetivos, resistentes a qualquer interpreta��o, declara��es imut�veis a respeito do mundo real e aceitos por consenso sempre foi um ideal inating�vel. Quando conv�m, muitos ainda se apegam � ideia da verdade suprema quando buscam confirmar o que acreditam, do aquecimento global aos efeitos do cigarro.
Quando surgiu a internet, havia uma cren�a ing�nua de que ela revolucionaria a produ��o de conte�do. N�o levaram em conta o desejo inconfesso de muitos em serem provados donos da verdade e buscarem informa��es consistentes com seu ponto de vista.
Cada clique � um voto. Cada leitor, um editor. Toda vez que ignora uma pe�a investigativa para ler fofocas, o usu�rio diz ao site o que gostaria de ver publicado. A m�dia n�o conspira para emburrecer seu p�blico, mas para dar a seus leitores exatamente o que querem. A publicidade n�o � um mecanismo gratuito, mas opaco.
� medida que algoritmos assumem a fun��o de editar e determinar o que � visto, � cada vez mais importante compreend�-los, para evitar que se chegue a um mundo em que s� se v� aquilo com o que se concorda.
CONSENSO
Hoje que todos podem expressar suas opini�es (e que todos podem ler o conjunto de opini�es), � muito dif�cil chegar a um consenso. Nas m�dias sociais, em que a verifica��o dos fatos n�o � obrigat�ria, a situa��o � ainda pior. Ao priorizar o n�mero de "curtidas" e seguidores, o o foco de cada publica��o abandona a veracidade em nome da possibilidade de evocar uma resposta emocional.
Atualizar a compreens�o que se tem a respeito do mundo � uma tarefa dif�cil. Raramente h� tempo, recursos ou motiva��o para avaliar cada nova reivindica��o. Em um ambiente de abund�ncia de informa��o, a �nica sa�da vi�vel acaba sendo partir para a heur�stica e verificar como cada novo fato se encaixa com o que � conhecido, com o que se cr�, com o que os outros pensam, com o que � aceito socialmente.
O resultado � um conjunto cada vez maior de pessoas que, apesar de muito informados, n�o s�o bem informados. Para eles, a transpar�ncia n�o � a solu��o. O acesso � informa��o crua n�o ajuda a compreens�o.
Sem contexto, o excesso de informa��o n�o s� � in�til como tamb�m � potencialmente perigoso. Como os filtros tradicionais de informa��o n�o funcionam mais, a opini�o das celebridades e "especialistas" � cada vez mais importantes. Como os antigos gurus, eles nos dizem o que pensar.
A situa��o piora quando se leva em conta a popularidade de processos como a gamifica��o e a cria��o de rankings, pois ela assume que as caracter�sticas humanas n�o s� s�o quantific�veis, como tamb�m � poss�vel reduzi-las a um s� crit�rio.
ALFABETIZA��O
� preciso desenvolver a alfabetiza��o de dados. Uma boa forma de faz�-lo � produzir conte�do, seja na forma de um blog, conjunto de v�deos ou planilhas de dados.
A internet, como intelig�ncia coletiva, � mais humana do que podem sugerir suas fazendas de servidores. Seu conte�do � cada vez mais uma atividade social infinita, pol�mica, n�o resolvida, colaborativa.
O conhecimento em rede � cada vez menos objetivo e mais humano. Menos definitivo e mais transparente. Menos confi�vel, por�m mais abrangente. Menos consistente, mas muito mais rico. Cabe a n�s explor�-lo adequadamente.
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