� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Tecnofilia
A tecnologia liberta ao mesmo tempo em que escraviza. A mudan�a que ela provoca altera profundamente o equil�brio do ambiente.
At� h� pouco tempo, as ferramentas utilizadas (uma chave de fenda, por exemplo) tinham pouca ou nenhuma interfer�ncia na sociedade. Hoje, elas desempenham papel central, atacando os pilares tradicionais � medida que prop�em nova cultura cuja �nica meta parece ser a efici�ncia dos processos.
Cartunista Alpino | ||
Fam�lia, trabalho, governo, escola, todos os antigos pilares sociais v�m sendo questionados. Em seu lugar, se prop�e uma esp�cie de imperativo estat�stico, que subordina as reivindica��es da natureza, da biologia e das emo��es, sem se responsabilizar pelo impacto humano.
O "como" de cada nova inven��o ofusca seu "porqu�". Objetividade, efici�ncia, especializa��o, padroniza��o e mensura��o tornaram-se os �nicos objetivos –naturais, esperados e inquestion�veis.
A �nfase na efici�ncia disfar�a a quest�o �bvia: que processo a tecnologia torna mais eficiente? Os antigos objetivos parecem ter ficado em segundo plano. O importante � se acomodar a novas exig�ncias. A pesquisa de mercado se torna mais importante do que a de produto. N�o h� mais pessoas, s� consumidores.
Quando a tecnologia se transforma na maior conquista da humanidade, o resultado � uma esp�cie de idolatria, em que cada elemento social busca valida��o e encontra satisfa��o na t�cnica que deveria servi-lo. Tecn�filos contemplam a tecnologia como uma musa, perfeita.
N�o h� d�vida de que a tecnologia traz progresso, mas � uma aliada que demanda fidelidade e obedi�ncia. Quem a segue sem questionar cria uma cultura sem fundamento moral, que se sobrep�e a processos mentais e a rela��es sociais.
� medida que nos acomodamos ao mundo em que o progresso tecnol�gico se torna objetivo central, esquecemos que ele diminui a conviv�ncia, aumenta o individualismo e submete dados pessoais ao escrut�nio de institui��es. Cada pessoa � mais facilmente monitorada, classificada, reduzida a n�mero, perplexa com decis�es aparentemente irracionais feitas em seu nome.
O computador � uma tecnologia de comando e controle. Seu dom�nio mostra a perda de confian�a no julgamento humano e na subjetividade das dimens�es morais. S� fatos importam, n�o h� incentivo ao pensamento cr�tico. Palavras relevantes, como "liberdade", "verdade", "intelig�ncia" e "mem�ria", s�o redefinidas discretamente.
O "perfeito", em tempos descart�veis, j� n�o � t�o importante quanto a performance. � mais importante fazer rapidamente do que bem. A regra da ind�stria se tornou "lance antes, conquiste mercado, corrija depois". A quantidade de vers�es beta e "recalls" n�o deixa d�vidas.
Toda cultura precisa negociar com a tecnologia. A oposi��o n�o deve ser � t�cnica, mas � sua idolatria, que descarta cr�ticas. A engenhosidade tecnol�gica � digna de admira��o. Mas n�o � mais importante do que as artes, a m�sica, a arquitetura, a literatura e a ci�ncia.
� preciso cultivar uma ambival�ncia digital. N�o se pode aceitar a efici�ncia como principal objetivo das rela��es. A tecnologia n�o � parte da ordem natural das coisas.
Essa postura cr�tica tende a devolver a tecnologia ao seu devido lugar e, no processo, torn�-la melhor.
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