� professor-doutor de Comunica��o Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje � consultor em inova��o digital.
Informa��o demais
E-mail. Twitter. Facebook. SnapChat. WhatsApp. SMS. Linkedin. FourSquare. SlideShare. Instagram. Blogs. Infogr�ficos. Not�cias. YouTube. Nunca se consumiu tanta informa��o. Qualquer relat�rio de tend�ncias mostra que o volume de dados a circular pela rede cresce a uma taxa exponencial. E ningu�m duvida que aumentar� at� que todas as possibilidades de canalizar e manipular dados, atrav�s de todos os recursos tecnol�gicos, estejam esgotadas.
Informa��o, que um dia j� foi sin�nimo de poder, hoje mais parece um problema. Fala-se em Tsunamis de conte�dos, em ansiedade de informa��o, em paradoxos de escolha, em fadiga de contexto, em paralisia de an�lise.
Dizem os mais exagerados que "O Google emburrece e degrada mem�rias. Que o Facebook aliena. Que a Internet � reduto de pornografia, com fascistas e man�acos em cultos bizarros. Que o Leviat� digital consolida novas fortunas enquanto destr�i economias locais. Que o mundo cibern�tico representa a vit�ria dos eremitas, dos plagiadores e dos ladr�es de informa��o. Que � o �pice das Invas�es B�rbaras, destruindo as rela��es entre as pessoas e demolindo a Cultura enquanto anuncia uma nova Idade das Trevas em que a verdade, como no Coliseu romano, ser� decidida pelos polegares em sinal de positivo."
Exageros � parte, � ineg�vel que boa parte da crise institucional provocada pela Internet se deu nas ind�strias de gest�o do conhecimento, como gravadoras, editoras, imprensa, escola e, de certa forma, na maneira como hoje se d� o atendimento m�dico e jur�dico. O custo de publica��o neste novo espa�o p�blico � t�o baixo, a distribui��o � t�o imediata e o espa�o � t�o grande que poucos se d�o ao trabalho de finalizar suas obras, publicando rascunhos incompletos e at� as discuss�es que lhes deram forma.
A internet j� mostrou que n�o veio para demolir institui��es culturais, mas para se misturar a elas, transformando sua natureza. A confus�o que se v� � t�pica de uma �poca de abund�ncia, que hoje em dia se manifesta no direito � express�o.
Qualquer per�odo de transforma��o, seja uma reforma de banheiro ou uma adolesc�ncia, � inc�modo. N�o � de hoje que o ru�do cotidiano distrai e irrita. Descartes precisou se isolar em um quarto para concluir que existe porque pensa. S�neca, h� quase 25 s�culos, n�o entendia o motivo para tantos livros, em tantas bibliotecas, mais do que qualquer um seria capaz de ler. Plat�o, radical, acreditava que os livros afastariam as pessoas, que gra�as a eles deixariam de conversar. At� mesmo o inventor da enciclop�dia, Denis Diderot, acreditava que o volume de publica��es criaria tantas opini�es que dificultaria a compreens�o do mundo.
� natural. O c�rebro que j� foi s�mio continua arisco, ligado para prestar aten��o nas amea�as da savana, resistente a qualquer novidade.
O futurista Alvin Toffler ajudou a definir essa ang�stia ao popularizar o termo "sobrecarga de informa��o", ou a dificuldade que se tem em compreender um problema e tomar decis�es quando h� informa��o demais.
O termo pode ser confort�vel, mas n�o faz muito sentido. Por mais que estejamos envolvidos por um gigantesco volume de dados, eles n�o s�o aut�nomos, n�o podem for�ar ningu�m a consumi-los. O problema n�o est� na informa��o disponibilizada, mas em seu consumo e utiliza��o.
No mundo de abund�ncia em rede o conhecimento n�o � mais representado por uma biblioteca, mas por uma playlist disposta a satisfazer os interesses de seus usu�rios. N�o representa a verdade absoluta, nem tem pretens�es de encontr�-la. Pelo contr�rio, mostra caminhos para a imensid�o do mundo, que devem ser percorridos at� que a curiosidade seja saciada.
A rede n�o est� se tornando um superc�rebro onipotente e onisciente, distante dos oper�rios que a constru�ram. Pelo contr�rio, ela est� se misturando com a pr�pria natureza do conhecimento. � impens�vel imaginar um sem o outro. Livre de seu suporte, a informa��o mudou, transformando o meio pelo qual se desenvolvem, preservam, comunicam e transformam ideias.
O conhecimento � hoje uma propriedade da rede. Isso � muito maior do que qualquer sabedoria popular, folclore ou voz das massas. Pelo contr�rio, o velho mito dos Or�culos, Astros, Gurus, Doutores e Deuses a representar o c�none do conhecimento est� finalmente questionado, levando embora com ele a ideia nociva e artificial das certezas absolutas, das verdades definitivas e do fim das discord�ncias.
E isso � s� o come�o. � medida que a Internet das coisas far� com que a pessoa mais inteligente da sala seja a pr�pria sala n�o faz muito sentido resistir e se opor. A melhor maneira de avan�ar � abra�ar as peculiaridades desta nova cultura que apesar de ser cada vez menos tang�vel, nunca foi t�o humana.
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