� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
Sobre vacinas e BMWs
Desculpe o lugar comum manjad�ssimo, mas o Brasil n�o � mesmo para amadores.
Imposs�vel explicar para um gringo que um surto de gripe letal est� nas ruas da maior cidade de uma das maiores economias do planeta (apesar dos pesares...) e n�o h� vacinas suficientes e/ou dispon�veis para atender a popula��o.
Segundo os especialistas –sempre eles–o surto da gripe "chegou mais cedo", deveria acontecer a partir de maio, mas o danado do v�rus surpreendeu a todos e o H1N1 (nome tipo rob� do filme "Star Wars") j� est� por aqui dando o ar de sua gra�a, que n�o tem gra�a nenhuma, porque est� matando. Matando bastante gente, pelo menos 50 �bitos notificados at� agora s� em S�o Paulo.
Esta confus�o com a vacina e o natural p�nico que ela proporciona tem gerado situa��es in�ditas, como a forma��o de filas de madrugada em frente aos laborat�rios e cl�nicas mais sofisticados da cidade. N�o se trata de pov�o � espera do atendimento do SUS, mas gente que n�o est� acostumada a este tipo de mico e encontra ali mais um motivo pra falar mal do governo, em geral do governo federal, claro.
Mas o fato � que n�o importa se a culpa � da Dilma "das pedaladas", do Alckmin das "merendas roubadas" ou do Haddad das "ciclovias vazias": sa�de p�blica neste n�vel, no n�vel de uma epidemia que mata, n�o � apenas e t�o somente responsabilidade deste ou daquele governo.
� uma quest�o de Estado. Ou deveria ser...
Ontem fui a um laborat�rio particular que utilizo, para exames de sangue, e aproveitei para perguntar sobre a vacina: "Tem mas acabou", disse a simp�tica mocinha da recep��o, informando que cada dose, ali, custaria, se houvesse, R$ 120.
No atendimento para o exame propriamente dito, noto que jovem do guich� est� com sintomas de pelo menos um resfriado: olhos vermelhos e lacrimejantes, nariz entupido, fungando.
Ela percebeu que eu percebera os sintomas, e aproveitei e mandei:
- Ainda bem que voc� foi vacinada, n�?
- N�o fui n�o, senhor.
- U�, mas voc� trabalha num laborat�rio, cheio de gente doente e que vende a vacina. N�o tinha que ter tomado j�?
- Tinha...
- E o laborat�rio n�o aplicou em todos os funcion�rios? Voc� n�o pode tomar aqui mesmo?
- Poder, pode, � s� pagar.
- Mesmo funcion�rio paga?!
- Paga. Mas tem desconto, a gente paga R$ 96.
- Ah, bom...
Tratamentos desumanos e ultrapassados de megaempresas � parte, a fabrica��o, regula��o de estoques, distribui��o e atendimento � popula��o - neste caso tanto de baixa quanto de alta renda - deveria atender a crit�rios t�cnicos que n�o mudassem de governo para governo, de acordo com as conveni�ncias pol�ticas de cada um. Mas muda.
Depende de injun��es, licita��es, libera��es, verbas, quem autoriza, quem manda em que autoriza e por a� vai... J� foi pior, mas n�o podia mais acontecer este tipo de coisa. E o que resulta agora � o sacrif�cio n�o apenas de pobres e remediados, que dependem do atendimento p�blico gratuito. Tamb�m afeta os mais abastados desacostumados a filas.
E � "focando" neste p�blico que uma concession�ria da marca de carros de luxo BMW resolveu promover uma no m�nimo bem estranha a��o de marketing, publicando an�ncio em jornal oferecendo vacina de gra�a a propriet�rios da marca –esclareceu depois um funcion�rio que ser� para a "popula��o em geral".
A promo��o � neste s�bado e s�o 1 mil doses da vacina. Ser� que vai dar rolo?
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