� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
A crise vai deixar gente doente de verdade
Parece que est� todo mundo doente, disse estes dias um amigo, observador profundo da realidade brasileira e de suas m�ltiplas vicissitudes –crise econ�mica, pol�tica, �tica, moral...
Explicou melhor: as pessoas est�o ou decepcionadas ou tristes ou com raiva ou alternam estes sentimentos de uma hora para a outra, �s vezes querendo sumir ou chorar, �s vezes querendo bater, querendo quebrar, querendo gritar; todo mundo fala, todo mundo berra, mas ningu�m ouve.
Antes de mais nada, um aviso: meu amigo n�o faz distin��es pol�ticas em sua an�lise, tampouco eu, ao concordar com ele.
Como se pode ver nas ruas, na internet ou em qualquer lugar onde haja mais de uma pessoa, a trilogia de sentimentos frustra��o-tristeza-raiva n�o � privil�gio deste ou daquele partido, de tal ou qual tend�ncia ideol�gica, de quem � a favor ou contra o que quer que seja.
Tristes, frustradas, raivosas, o fato � que muita gente est� apresentando sintomas de doen�as, de transtornos mentais que em geral s�o passageiros, mas certamente agora, pelo seu volume e intensidade, v�o, para usar uma express�o m�dica, deixar graves sequelas.
Muito mal comparando, quando a crise econ�mica acachapou a Espanha, jogando quase a metade de seus jovens no desemprego e no desalento, o n�mero de pessoas com depress�o aumentou assustadoramente. Assim como a ainda mais grave crise da Gr�cia, que quando destro�ou o pa�s deixou um rastro de pessoas tamb�m destro�adas emocional e psicologicamente, de dar d�.
E � isso o que acontece mesmo nestes casos, e � isso o que de alguma forma vai acontecer no Brasil, embora ao menos economicamente o Brasil esteja ainda longe da derrocada que atingiu os dois pa�ses citados.
Vai acontecer, resta saber quando e em que intensidade.
N�o se trata de especula��o, tampouco de achismos, mas de constata��o a partir de dados cient�ficos epidemiol�gicos (epidemiologia, como se sabe, � o ramo da medicina que estuda quantitativamente as doen�as e seus fen�menos condicionantes, como propaga��o na sociedade, grau de incid�ncia, intensidade etc.).
Segundo o psiquiatra Jair Mari, professor-titular da Escola Paulista de Medicina, a coisa funciona mais ou menos assim: se todos diminuem a velocidade dos carros nas ruas de uma cidade, o n�mero de acidentes tamb�m diminui. Dentro desta l�gica, e no sentido oposto, se o n�vel de sintomas depressivos aumenta numa faixa expressiva da popula��o, voc� certamente ver� aumentado o n�mero de novos casos desta doen�a.
Se entendermos que a tristeza das pessoas, a frustra��o delas e a raiva que destilam em fun��o da alta temperatura pol�tica e econ�mica e social s�o substratos de uma base depressiva, teremos o aumento da depress�o, o aumento dos casos graves de depress�o e, em �ltimo caso, aumento de suic�dios –o fundo do fundo do po�o do processo depressivo.
Para sustentar esta tese, e ainda ficando no campo da epidemiologia, podemos recorrer ainda ao em�rito cientista ingl�s Geoffrey Rose (1926-1993), m�dico epidemiologista ingl�s refer�ncia em sua �rea por conta do estudo "Sick Individuals and Sick Populations" e do livro "The Strategy of Preventive Medicine" (respectivamente "Indiv�duos Doentes e Popula��es Doentes" e "A Estrat�gia da Medicina Preventiva", em tradu��o livre).
Segundo Rose, "h� forte rela��o entre os comportamentos populacionais m�dios e os desviantes, como resultado da din�mica entre for�as biol�gicas e sociais, que favorecem ou limitam a diversidade de caracter�sticas individuais. Assim, o risco de alguns agravos, em popula��es concretas, torna-se alto ou baixo em virtude do deslocamento em bloco da distribui��o populacional, e n�o em fun��o do n�mero de indiv�duos na faixa de alto risco." (Cadernos de Sa�de P�blica, Rio de Janeiro, 2000).
Trocando em mi�dos, � isso: comportamentos de fundo depressivo em parte significativa da popula��o acarretam o aumento de problemas relacionados � depress�o em gente que n�o estaria propensa a este tipo de problema.
Ou seja, al�m de tudo, esta tal crise na qual nos enfiamos at� o pesco�o vai deixar muita gente mentalmente doente. Haja Prozac, Zyban, Zoloft e Rivotril...
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade