� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
Reputa��es perdidas no ciberespa�o
A Folha de S. Paulo, jornal em que trabalhei durante duas d�cadas e em cuja vers�o digital publico esta coluna desde 2000, � certamente o ve�culo de comunica��o impressa que tem, no pa�s, o melhor mecanismo para reconhecer e corrigir suas falhas.
Al�m de manter, de forma pioneira, um ombudsman para atuar como "advogado do leitor", publica diariamente a se��o "Erramos", na qual informa as impropriedades cometidas e procura corrigi-las.
N�o � um mecanismo perfeito, vira e mexe � alvo de cr�ticas e ironias, mas trata-se da maneira mais transparente e sistem�tica com que um ve�culo da grande imprensa p�e o dedo permanentemente em suas pr�prias feridas.
Pois o famoso Erramos, o direito de resposta e pequenos e grande erros e os danos � reputa��o foram os principais pontos da discuss�o travada nesta semana em semin�rio alusivo aos 95 anos da Folha, durante mesa de debate que reuniu o professor Caio T�lio Costa, hoje um dos principais te�ricos da informa��o, sobretudo digital, do pa�s e o primeiro jornalista a desempenhar a fun��o de ombudsman na Folha; a jornalista T�nia Alves, ombudsman do cearense O Povo, �nico ve�culo al�m da Folha a manter esta fun��o, J�nia Nogueira de S�, que tamb�m ocupou o posto na Folha, e a atual titular, Vera Guimar�es. (Detalhe: a palavra ombudsman � sueca, por isso n�o se escreve ombudswoman no caso das mo�as, ok?)
A t�nica do debate foi justamente a impossibilidade de reparar definitivamente erros cometidos em publica��es jornal�sticas, mesmo quando h� ferramentas como o Erramos da Folha e mesmo, como defenderam alguns, que estas ferramentas sejam ampliadas. Ampliadas a ponto, por exemplo, de um erro cometido numa manchete de primeira p�gina de um jornal ser corrigido tamb�m na primeira p�gina, com o mesmo tamanho e mesmo destaque. Lembre-se aqui que a maioria dos ve�culos de comunica��o do pa�s, quando o fazem, corrigem seus eventuais erros de maneira muito t�mida.
Mas a quest�o que acendeu as discuss�es no semin�rio, e j� in�meras vezes abordada aqui mesmo nesta coluna, foram as redes sociais, este fant�stico manancial de conhecimento que se converte rapidamente em terr�vel reposit�rio de inverdades, desinforma��o e intoler�ncia.
No caso extremo de um jornal ou uma revista publicar um erro numa manchete de primeira p�gina e j� na edi��o seguinte corrigir este mesmo erro –seja por iniciativa pr�pria ou atendendo ao direito de resposta agora previsto em lei– tamb�m em manchete e com o mesmo destaque, ocorrer�o dois problemas: primeiro o estrago j� estar� feito, porque ningu�m garante que a corre��o ter� a mesma repercuss�o e atingir� todos os leitores alcan�ados pela primeira informa��o, que assim permanecer� como verdadeira; e, segundo, a informa��o errada estar� fora de controle de quem quer que seja, autores ou personagens.
Por responsabilidade das redes sociais.
Pelo simples fato de Facebook, Instagram, Twitter etc. j� terem dado � primeira informa��o uma dimens�o e uma "territorialidades", digamos assim, que transcender� o universo de leitores daquele jornal ou revista.
E ainda que novamente no caso extremo de o pr�prio ve�culo buscar estas ferramentas para tentar a todo custo bloquear o fluxo da informa��o incorreta junto aos usu�rios do ciberespa�o, e boa parte destes internautas tamb�m se dispuserem a corrigir o erro, isso nunca acontecer� com todos aqueles milhares ou milh�es que promoveram a propaga��o da primeira informa��o errada. Esta portanto j� ganhou vida pr�pria, multiplica-se e estar� colada inexoravelmente � imagem do personagem da informa��o, em princ�pio para sempre.
Se no passado pr�-digital uma informa��o incorreta ficava restrita aos arquivos f�sicos do ve�culo que a publicou e �queles que os acessassem, sempre de maneira restrita, hoje ela est� indexada, "em cache", � disposi��o de Google e demais mecanismos de busca, que a qualquer momento a ela dar�o nova exposi��o e outra vez notoriedade, por meio de novos posts, retu�tes, ou at� mesmo da prosaica se��o "recorda��es" do Facebook...
Para desgra�a eterna de sua "v�tima". E o que fazer para combater este mal? No mundo ideal, n�o haveria informa��es incorretas; mas jornalistas erram, sempre erraram e certamente continuar�o errando.
Al�m disso, a grave quest�o da multiplica��o virtual da desinforma��o permanece uma grande inc�gnita, mesmo porque ainda que o erro seja banido dos arquivos digitais das publica��es, o que j� aconteceu na Europa, por exemplo, ela estar� circulando descontrolada no ciberespa�o. Ao menos at� que algum novo algoritmo m�gico seja criado, permanecer� colocando em risco a reputa��o da v�tima, n�o importando aqui se o problema tenha origem num equ�voco, numa distra��o banal, na falta de uma apura��o jornal�stica adequada, na leviandade de um entrevistado ou mesmo na inten��o deliberada de prejudicar uma pessoa, uma empresa, um governo.
Eis mais uma vez aqui o paradoxo da internet e das redes sociais, a um s� tempo instrumentos fant�sticos de amplia��o do conhecimento e potenciais carrascos implac�veis de reputa��es.
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