� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
Dentista ca�ador � ca�ado na internet
"N�o houvesse se ca�ado, Hemingway faria 100 anos". Com este t�tulo no m�nimo inusitado, a Folha noticiava em 21 de julho de 1999 que, se n�o tivesse estourado os miolos e tudo o mais que envolvia sua massa encef�lica usando para tanto uma carabina de ca�a de dois canos, o escritor norte-americano Ernest Hemingway estaria completando, naquele dia, seu centen�rio.
Ok, o pr�prio texto, de autoria do brilhante jornalista Cassiano Ele Machado, lembrou que, por ser quem era e foi ao longo de toda a vida (beberr�o, briguento, inst�vel), dificilmente o autor de "O Velho e o Mar" e "Por Quem os Sinos Dobram" teria chegado a idade t�o provecta.
Mas a efem�ride n�o poderia passar em branco, e, dentre diversas passagens da vida do escritor, Cassiano lembrou que a iniciativa de atirar contra sua pr�pria cabe�a deu-se com total �xito sobretudo porque Hemingway foi um ex�mio ca�ador. Tiro certo.
A imagem do grande escritor e sua carreira de predador (h� fotos dele ao lado de in�meros bichos abatidos, como elefantes, leopardos e le�es) veio � mente por conta de outro le�o, Cecil, animal simb�lico e protegido do Zimbabwe, ele tamb�m eliminado mas n�o por um ficcionista brilhante, ganhador do pr�mio Nobel de Literatura de 1954 e que praticava sua atividade delet�ria em �pocas outras, quando matar um le�o na �frica n�o era o fim do mundo.
N�o, apesar de viver num parque nacional e com um colar com GPS, Cecil foi morto por um dentista norte-americano, Walter James Palmer, no in�cio de julho, durante uma "ca�ada selvagem com arco", ou seja, a flechadas, uma das mais rudimentares formas de se ca�ar animais.
No entanto, bastou que o autor desta fa�anha fosse identificado - "Pensei que era uma ca�ada legal", justificou-se - para que surgissem diversas outras fotos suas, sempre ao lado de carca�as de animais por ele rec�m-mortos: um rinoceronte, um outro felino, uma esp�cie de b�falo, um alce...
Ou seja, o homem � um matador convicto e renitente.
Pelas suas declara��es, � evidente que ele no entanto se encontra a muitas l�guas da personalidade conturbada do famoso escritor, cuja met�fora liter�ria maior � a luta do velho pescador contra as for�as da natureza que lhe tolhem o resultado do seu trabalho �rduo, remetendo ao eterno enfrentamento do homem contra o mundo.
Por ser quem era e ter as ang�stias que tinha, Hemingway, que matava animais, matou-se como um deles.
Por ser quem � e viver no mundo em que vive -imediato, imag�tico, midi�tico -, o dentista-matador n�o precisar� se matar (certamente nunca pensou nem pensar� nisso), porque j� est� sendo esfolado vivo, ao vivo e online: seu nome, foto, endere�os, sua cl�nica, os nomes de seus pacientes viralizaram na internet e ele � hoje um acossado, est� escondido, impedido de trabalhar, acuado.
Mas dever� sobreviver, ao contr�rio dos bichos que abateu. � s� esperar pra ver: logo logo surgir� em seu apoio um monte de gente que, assim como ele, n�o acha o fim do mundo matar um le�o a flechadas em pleno s�culo 21...
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Ainda como rescaldo da passagem pelo Uruguai, relatada aqui semana passada, mais algumas informa��es sobre a libera��o da maconha no pa�s.
Inclusive para esclarecer d�vida de leitores, � importante ressaltar que a maior parte da droga que circula no pa�s hoje ainda �, sim, comercializada ilegalmente, pelo tr�fico. O processo de sele��o das empresas que far�o o plantio oficial para posterior com�rcio tamb�m oficial via rede de farm�cias ainda est� em curso, mas demora um pouco. O produto ser� vendido em farm�cias porque o governo uruguaio tirou a droga da esfera criminal e a colocou no �mbito da sa�de p�blica e da redu��o de danos.
Por enquanto, a droga de qualidade aferida, com consumidores legalizados, somente aquela proveniente do plantio dom�stico (seis p�s por cidad�o) ou dos clubes que re�nem produtores e usu�rios.
Quem quer comprar na rua tem de se submeter ao velho esquema de sempre, colocando a sa�de em risco por conta dos produtos qu�micos tradicionalmente adicionados � maconha prensada contrabandeada do Paraguai.
Livraria da Folha
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