� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
Salvando crian�as
A hist�ria mais comovente dos �ltimos tempos � a de Crocodilo Gennadiy, da Ucr�nia, que li na Vice, plataforma de m�dia que a Folha, felizmente, passou a publicar.
O cara � um ex-soldado que n�o se conforma com o n�mero de crian�as viciadas em drogas que perambulam pelas ruas da Ucr�nia, muito menos com a inefici�ncia dos servi�os p�blicos que deveriam atend�-las, mas n�o o fazem.
E o que ele faz?
Simplesmente sequestra estes seres que est�o afundados na lama e os leva para uma fazenda de reabilita��o improvisada. Simples assim.
Claro que tanto o ex-soldado quanto seu "m�todo" s�o alvo de pol�mica, cr�tica e acusa��es, com gente questionando o seu direito (ou falta de...) de interferir de maneira "autorit�ria" na vida das pessoas.
Mas s�o crian�as, crian�as abandonada pelos pais ou que os perderam, sem eira nem beira, entregues, sujas, doentes, no fundo do po�o.
Mas � sabido e determinado por lei que cuidar delas � dever do Estado, tanto l� na long�nqua Ucr�nia quanto c� em S�o Paulo.
Se o Estado n�o cumpre seu papel, paci�ncia...
Paci�ncia?
Este foi justamente o sentimento que eu n�o senti quando um tempo atr�s levei uma italiana amiga de uma amiga que trabalha com recupera��o de drogados em seu pa�s para conhecer a cracol�ndia de S�o Paulo.
Como se sabe, ali naquele peda�o da cidade est�o os zumbis da nossa p�s-modernidade, o rebotalho que a maior e mais rica cidade do pa�s vomita nas ruas e l� os abandona, como subseres.
Sim, h� algum servi�o social, poderes p�blicos tentam de alguma forma dar conta do problema. Sim, h� algum movimento da sociedade, via ONGs, que tenta algum amparo.
Mas n�o rola, as abordagens e os tratamentos propostos n�o s�o suficientes para diminuir significativamente esta popula��o desvalida, hoje j� praticamente incorporada � cidade ou a parte dela.
Quando andei por entre aquelas pessoas o que mais senti foi uma grande frustra��o por n�o ter o que (eu) pudesse fazer para ajud�-las.
A vontade que tive foi a mesma que senti tempos depois diante do meu sobrinho alco�latra cr�nico que resolvera abandonar qualquer resqu�cio de vida e dignidade e se entregar de vez a um litro de vodca vagabunda por dia. Durante uma visita e tentativa de ajud�-lo, a vontade que tive foi de abra�ar, agarrar meu sobrinho e obrig�-lo a se internar numa cl�nica ou onde fosse para que ele n�o bebesse mais, n�o se drogasse mais, n�o morresse. Mas eu n�o pude fazer isso, ele estava consciente e demonstrava alguma lucidez e portanto nenhuma cl�nica, hospital ou qualquer coisa do g�nero o aceitaria (como n�o aceitou...) se ele n�o concordasse em ser internado.
N�o foi internado, n�o se tratou e logo depois morreu de tanto beber.
Por isso quando li a hist�ria do Crocodilo Gennadiy me veio um misto de excita��o e tristeza. Excita��o ao pensar, caramba, que cara corajoso, mete as caras e salva vidas de crian�as. E tristeza por n�o ter feito o mesmo, ou algo parecido, com meu sobrinho e ser obrigado a conviver com a culpa de quem sente que de alguma maneira deixou de agir.
Agir como? Fazer o qu�?
O cara l� na Ucr�nia sequestra crian�as que v�o morrer de tanta droga e pelo menos tenta alguma coisa.
Por aqui? Bem, por aqui a gente acha que os nossos "n�ias" deixam a cidade mais feia...
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