� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
Cuidado: deprimido n�o � terrorista
As informa��es oficiais dando conta de que o jovem copiloto da Germanwings que teria ocasionado a trag�dia a�rea anos Alpes franceses seria v�tima de depress�o precisam ser tratadas com muito cuidado. E vincular diretamente este fato ao seu at� agora suposto ato tresloucado � n�o apenas pura especula��o como at� mesmo leviandade.
Deprimido n�o � homicida.
Deprimido n�o � terrorista.
Deprimido pode sim se suicidar, e chega a fazer isso, mas em casos extremos, e n�o leva junto com ele centenas de pessoas inocentes.
N�o existe literatura m�dica que associe o estado depressivo, que se n�o for devidamente tratado pode (veja bem, pode!) levar � tentativa de suic�dio, a uma a��o como a de dias atr�s, em que supostamente (o supostamente ainda precisa ser empregado aqui...) o rapaz de 28 anos tirou a vida de 150 pessoas.
"O deprimido � sobretudo uma pessoa que se sente culpada, e quem se sente culpado n�o faz uma coisa dessas", alerta o psiquiatra Jair Mari, professor titular da Universidade Federal de S�o Paulo e uma das maiores autoridades brasileiras neste assunto.
"� preciso muita calma, avaliar uma s�rie de outros fatores, porque este parece ser um caso inusitado. Pode ser que haja algum transtorno de personalidade associado ou mesmo outros fatores externos, porque apenas a depress�o n�o justifica isso", afirma Mari.
Al�m do que, lembra Mari, "nem sempre � poss�vel explicar o comportamento humano...".
Existe um conceito m�dico, fruto de estudos e observa��es de longa data, segundo o qual h� quase que um roteiro que a pessoa deprimida segue antes de chegar �s vias de fato. Em geral a pessoa que est� sofrendo muito e n�o v� sa�da para a situa��o desesperadora em que se encontra, ela primeiro cogita por fim � pr�pria vida. Depois, pode chegar a planejar como far� isso. Em seguida, poder� tentar, tendo �xito ou n�o. Isto � mais ou menos cl�ssico.
Jair Mari concorda com este "roteiro" e o usa para refor�ar seus argumentos que relativizam a depress�o sob suspeita neste caso: "N�o se pode aceitar que uma pessoa que seja apenas deprimida planeje levar 149 pessoas junto com ela. O rapaz pode nem ter percebido que estava ocasionando aquelas mortes todas, mas por outro motivo, que n�o a depress�o, quem sabe um transtorno de personalidade. Ou ent�o estava deliberadamente causando aquelas mortes num ato de rebeldia ou terrorismo, mesmo".
A preocupa��o maior de Mari � com rela��o a um fator que qualquer pessoa que passou por algum epis�dio de depress�o conhece bem e teme bastante: o estigma.
N�o se pode associar esta doen�a –que causa muito sofrimento, mas � perfeitamente trat�vel– a um ato como este sem estar sendo injusto e colocando sob suspeita milhares de pessoas que convivem diariamente com o transtorno.
"Quem se trata da depress�o pode levar uma vida normal, trabalhar, inclusive pilotar avi�es, como devem existir muitos casos por a�. Quem se cuida adequadamente da depress�o n�o se suicida", garante Mari.
Muito menos causa tantas mortes como as ocorridas nas montanhas geladas da Fran�a.
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