� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
Jovens, amor e futuro
Esta semana vivi uma emo��o incr�vel, in�dita, que me levou a acreditar um pouco mais, a esperar um pouco mais, a ser um pouco menos c�tico em rela��o ao nosso futuro, o futuro do pa�s, do mundo.
Depois de cinco anos de muito esfor�o, dedica��o e sofrimento mesmo, minha filha se formou. Engenharia Civil, numa das melhores (e portanto mais dif�ceis...) universidades da �rea, a Mackenzie.
E dias atr�s foi a chamada cola��o de grau, aquela cerim�nia de entrega de canudos, discursos, becas e quetais. Achei que iria l� apenas para cumprir tabela numa cerim�nia formal e chata; papel de pai, pensei.
E isso tudo –discursos, rapap�s e becas– aconteceu de fato, 200 jovens sentados enfileirados no grande palco do tradicional audit�rio Ruy Barbosa, pais, parentes e amigos lotando a plateia barulhenta.
Prestando menos aten��o nas formalidades do que nas express�es daquela garotada toda –um misto de alegria, cansa�o e al�vio pelo fim de uma jornada t�o extenuante–, me lembrei de minha pr�pria formatura quase 40 anos atr�s e deixei envolver pela imagina��o, viajando um pouco nos sonhos, nas expectativas, nos planos, nos medos e nos desejos daquela molecada, praticamente todos na casa dos 20 anos.
Ser� que eles t�m ideia do que os espera? Ser� que v�o ter for�as para encarar n�o apenas um mercado de trabalho �s vezes selvagem, mas evoluir, crescer, amadurecer, optar pela �tica e pelo bem comum? Quantos ter�o sucesso naquela jornada que ao mesmo tempo que chegava ao fim com a formatura apenas come�ava na dura vida profissional?
E os pais, aquele povo todo � minha volta, que mal conseguia se conter de tanta felicidade? Ser� que eles tinha ideia de que nada estava acabando de verdade ali? Que pais preocupados com filhos � pra vida toda, n�o tem formatura pra isso?
Na sucess�o de homenagens no palco, e sem que eu soubesse que isso iria acontecer, ou�o o mestre de cerim�nia anunciar que agora seria feita um tributo espec�fico aos pais.
E quem faria o discurso?
Minha filha!
O orgulho, que at� ent�o estava satisfatoriamente sob controle, explodiu ao ver aquela baixinha vestida de beca preta dirigir-se ao microfone e come�ar a falar. E como falou bem a danada! Ela que � mais afeita a c�lculos um e dois, concretos, tabelas e planilhas, estava ali a desfiar frases lindas e palavras doces. At� que de repente parou. Parou para conter o choro, o que certamente a deixou muito envergonhada, mas o que fez alunos e plateia explodir num aplauso emocionado...
Sinceramente eu ouvi pouca coisa do que foi dito da� em diante. Um turbilh�o de sentimentos tomou conta do cora��o. Cora��o este que quase explodiu quando ouvi meu nome sendo falado pelo locutor: como assim?
Ele simplesmente estava me chamando –e, claro, � m�e da Jacqueline, hoje minha grande amiga– para subir ao palco e receber as homenagens em nome de todos os pais, presentes e ausentes.
O caminho entre o posto onde estava e o palco foi uma das trajet�rias mais emocionantes que j� tive na vida. Ao percorrer aqueles 30, 50 metros, veio � mente o beb� gorducho nascido numa noite fria de julho, as noites mal dormidas, a menininha doce de cabelos encaracolados e seus desenhos coloridos, a menina voluntariosa e boa, sempre disposta a ajudar as amigas, a adolescente apenas um pouco aborrecente, a mocinha atrevida que resolve ir estudar fora do pa�s, a mulher que volta trazendo um gringo na bagagem para casar e viver junto em seu pa�s, a m�e fant�stica que est� criando o Gabriel de uma maneira que eu nunca seria capaz, a agora engenheira, formando de fato com aqueles rapazes e garotas ali na minha frente uma gera��o que sem d�vida nenhuma vai fazer deste um pa�s bem melhor do que aquele que entregamos a eles –eu quero acreditar nisso!
Ao fim e ao cabo de tudo aquilo, senti verdadeiramente representando n�o apenas os pais daqueles formandos, mas sim os pais, verdadeiros pais e m�es que humilde e dedicadamente evoluem por interm�dio de seus filhos.
J� me desculpando pelo prov�vel cabotinismo e pela manifesta��o de nepotismo expl�cita, publico a seguir o discurso da filha em homenagem aos pais –certamente vai agradar aos que t�m filhos.
*
"Boa noite a todos! Eu acredito que essa homenagem seja a maior e a mais dif�cil de todas. Estou aqui para representar todos os formandos de hoje com essa homenagem. Como agradecer a pessoas t�o especiais em nossas vidas, pessoas que estavam sempre conosco quando precis�vamos e que nos acolheram e nos deram a chance de estar aqui hoje? Queremos agradecer a todos voc�s, que nos deram a vida e nos ensinaram a viv�-la com dignidade –n�o basta apenas um obrigado.
A voc�s, que iluminaram nossos caminhos com amor e muita dedica��o, que se deram por inteiros e algumas vezes deixaram seus pr�prios sonhos para tr�s para realizar os nossos. A voc�s, que foram os que iniciaram nossa educa��o, nos tornaram capazes de aprender, nos ensinaram a sentar, falar, comer, aprender e a viver.
Todos voc�s que sofreram em nos ver passar por esses cinco anos (ou mais) estudando, dando tudo de si, trabalhando, chorando, reclamando (e muito!), queremos dizer obrigado! Obrigado por aguentarem nossas crises de choro, estresse e ansiedade antes e durante provas e trabalhos intermin�veis. E depois por celebrarem com a gente a felicidade incontrol�vel de saber que passamos naquela (ou naquelas) mat�rias que n�o t�nhamos certeza se conseguir�amos. Ou at� por entenderem que tivemos que fazer mais de uma vez algumas mat�rias para poder entender realmente o que ela significava. E ainda assim por compreenderem que essa fase era passageira, e a recompensa e o sentimento de hoje � imposs�vel de se descrever com palavras.
Obrigada por acreditarem em n�s!
A voc�s devemos tudo que somos, tudo que sabemos hoje, sem voc�s n�o estar�amos aqui. Nos ensinamentos da vida, voc�s realmente foram mestres.
Uma etapa se acaba hoje e uma nova fase se inicia. Nessa nova fase, queremos que continuem nos ajudando, nos ensinando, passando toda a sua experi�ncia, as boas e as ruins, para que continuemos crescendo.
Como disse Luis Fernando Ver�ssimo: 'A verdade � que a gente n�o faz filhos. S� se faz o layout. Eles mesmos fazem a arte final.'
Mas eu devo dizer que voc�s fizeram layouts exepcionais!
Neste instante, gostar�amos de parar e agradecer os passos apoiados na inf�ncia, os conselhos dados na adolesc�ncia, os ensinamentos de toda a vida.
A voc�s nossa sincera homenagem e eterna gratid�o.
Dedicamos a voc�s pais, aqui presentes, ausentes ou que j� n�o mais est�o entre n�s, essa vit�ria que hoje nos foi entregue."
Livraria da Folha
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