� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
As peladas
Na �ltima vez que estive em Berlim, passeando pelo principal parque da cidade, o Tiergarten, encontrei v�rios cidad�os, de ambos os sexos, tomando banho de sol - na verdade um arremedo de sol de um abril friorento - totalmente pelad�es.
Ali, na boa, passando protetor solar nas partes, alguns com �culos escuros, outros simplesmente como vieram ao mundo.
Vi um casal chegando como um casal chega no paulistano Ibirapuera, e era assim: botavam as coisas deles na grama, estendiam uma esp�cie de canga, tiravam calmamente a roupa, expondo todos os seus predicados bem branquinhos, e esparramavam-se.
N�o contive o coment�rio: "Ah, e brasileiro que � sem vergonha, n�? O pessoal aqui n�o tem vergonha nenhuma!"
Na verdade, nem teria por que haver vergonha: tratou-se de uma das cenas mais naturais, menos sexys, menos er�ticas que se pode imaginar.
Tanto que ningu�m que passava por perto parecia se incomodar com os pelados, realmente tanto os muitos transeuntes quanto os nudistas n�o estavam nem a� uns com os outros...
Lembrei desta cena por conta de outra recente, a da mo�a que tirou a roupa numa ag�ncia banc�ria de Sorocaba (interior de S�o Paulo) esta semana.
Presa na bendita porta girat�ria e instada a mostrar todos os seus pertences, n�o teve d�vidas: mostrou mesmo!
Quer dizer, mostrou quase tudo, porque quando ela estava de calcinha e suti�, e antes que a coisa esquentasse mais, resolveram liberar a mo�a.
Mas foi o suficiente para, como se diz hoje em dia, causar: a pelada sorocabana (que contrap�s o constrangimento que ocasionou ao constrangimento de todos n�s que um dia j� ficamos presos em portas girat�rias de bancos) virou not�cia em todo o pa�s.
Da mesma forma que foram not�cia as peladas de Porto Alegre, lembram? Aquelas tr�s que tiraram a roupa para dar umas voltinhas pela capital ga�cha, sem motivo aparente. Uma disse que era para protestar, outra que aquilo era muito natural, da outra n�o se soube se houve motivos. Mas todas tamb�m causaram.
O fato incontest�vel: nudez � not�cia no Brasil.
Uma (mais uma dentre tantas...) baita contradi��o deste pa�s, n�o?
Pa�s em que a peladice impera em todos os canais de TV, na �poca do Carnaval ou nos carnavais fora de �poca e, claro, nos milhares de quil�metros de nossas costas quentes (ops!) ou de nossas praias. N�o peladice total, evidentemente, porque afinal de contas somos pudendos. Mas uma nudez escondida de tal maneira e por t�o pouco pano ou acess�rio que mais mostra do que esconde.
Afinal, o que � um biqu�ni fio dental como os usados em Ipanema ou pelas mo�as do P�nico na TV sen�o uma manifesta��o expl�cita de sarcasmo?
*
Um aviso aos manifestantes que querem porque querem entrar no Congresso Nacional para tumultuar a baga�a toda l�, alegando que aquela � a "casa do povo": sim, � a casa do povo. Mas a coisa funciona assim, �: aqueles caras todos que est�o l� dentro foram eleitos por voc�s (e por todos os que votam em deputados e senadores) justamente para representar o povo. N�o existe democracia direta no pa�s, lembre-se, isso � "coisa de comunista!", embora nenhum pa�s comunista tenha conseguido de fato esta faceta.
Ah, mas voc� n�o est� contente com os caras que est�o l�? Ent�o m�os � obra: eleja outros!
Tentar fazer pol�tica no grito d� m�dia, sim, mas n�o funciona...
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade