� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
Quem nos protege destes "deuses"?
Ent�o � assim: o cidad�o est� sem documentos, dirigindo um autom�vel sem placas, � parado por uma agente de tr�nsito, tenta dar a famosa carteirada na linha "voc� sabe com quem est� falando" e diz que � juiz.
Ouve da mo�a que "juiz n�o � Deus" e est� estabelecido o bafaf� que, ao contr�rio do que determinaria qualquer lei, ou qualquer lampejo de bom senso, em qualquer pa�s civilizado, acaba com a mo�a sendo processada e condenada por "ofender" o magistrado.
Condenada, ali�s, em segunda inst�ncia, porque o desembargador que assinou a senten�a no Tribunal de Justi�a disse que ela, com sua mais-do-que-�bvia observa��o, ofendera toda a magistratura do pa�s.
Ai, meus sais...
Ok, uma advogada de S�o Paulo se mobilizou e conseguiu angariar na internet, em regime de financiamento coletivo (crowdfunding), dinheiro para a mo�a pagar a indeniza��o estabelecida, e sobra at� um pouco mais para as despesas com o processo.
Ok, mesmo sem se referir diretamente ao caso, o ministro presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski,, informou a quem quisesse ouvir, ou seja, tamb�m ao juiz que moveu a a��o e ao desembargador que condenou a mo�a, que n�o, juiz n�o � Deus. Espera-se, portanto, que ao menos quando chegar ao Supremo esta bizarrice seja corrigida.
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Ent�o � assim: a mais famosa, prestigiada e de fato importante faculdade de medicina do pa�s, a da Universidade de S�o Paulo, est� envolvida num escandaloso, vergonhoso, inacredit�vel emaranhado de den�ncias em que diversas calouras revelam casos de ass�dio moral, ass�dio sexual, estupro, racismo, intoler�ncia religiosa, abuso de subst�ncias ilegais e "otras cositas m�s".
Os detalhes (levantados em boa s�rie de reportagens do site "Ponte Jornalismo") s�o escabrosos, de corar gigol�, e v�o desde ofensas raciais dirigidas a negras, refer�ncias pouco lisonjeiras ao �rg�o sexual feminino, extremando-se em pormenores sobre estupros, mesmo. Sabe-se agora que humilha��es, viol�ncia, abusos por parte de veteranos contra os calouros, sobretudo as mulheres, fazem parte, h� anos, do dia-a-dia da institui��o, tudo acobertado por uma t�o amea�adora quanto conveniente lei do sil�ncio.
Al�m das reportagens citadas, o caso ganhou notoriedade por conta de audi�ncias p�blicas promovidas pela Assembleia Legislativa de S�o Paulo, em que as v�timas relataram as sev�cias, e tamb�m por iniciativa desta Folha.
Vejam o que o professor encarregado de conduzir as investiga��es disse � jornalista Claudia Colucci dias atr�s: "A faculdade nunca fez nada. Como professor, sinto que falhei, n�o desempenhei meu papel. Todos os professores deveriam se sentir assim. Isso diz respeito a todos n�s."
Disse mais: "A faculdade [de medicina da USP] se comportou mal. Houve demora da congrega��o, ficaram na defensiva [sobre as den�ncias de estupro das alunas]. H� uma crise de conduta, de valores. Cansei de engolir sapo".
A refer�ncia ao batr�quio indigesto se d� porque o mestre, o professor titular de patologia Paulo Saldiva, decidiu n�o apenas demitir-se do cargo de coordenador da comiss�o de investiga��o, como afastar-se inteiramente da Universidade.
Imagine a vergonha que deve estar sentindo...
Agora, imagine n�s, pobres mortais pagadores de imposto, que podemos a qualquer momento de nossas vidas cair nas m�o de um m�dico que se formou em meio a t�o "saud�vel" e "instrutivo" ambiente e que por qualquer raz�o que seja carregou para a vida profissional estes "valores".
Ou que venhamos, por uma dessas ironias do destino, a depender do senso de justi�a e da capacidade de discernimento de um magistrado deste jaez, ou seja, que se julga acima do bem e do mal.
Adaptando uma piadinha antiga de reda��o de jornal, pergunto: voc� sabe a diferen�a entre o m�dico e o juiz? O primeiro se julga Deus, o segundo tem certeza...
Ah, estes m�dicos e ju�zes s�o exce��es, me diz aqui o bom senso, a maioria � correta e qualificada, n�o merece ser julgada genericamente por desvios de condutas de uns poucos.
Beleza. Ent�o que m�dicos oriundos da USP e ju�zes do bem venham a p�blico para repudiar claramente aqueles que denigrem sua t�o nobre profiss�o, por favor...
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