� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
A volta do pelourinho
Eis que caminhamos celeremente adentro do 21� mil�nio, no bojo e no limiar das mais maravilhosas tecnologias. E eis que em meio � conex�o total, integral, atemporal e aos avan�os mais fant�sticos da medicina, da globaliza��o, das artes, da vida, o que resgatamos, de nosso passado maios tenebroso e repulsivo, para exibir ao mundo?
O pelourinho.
Sim, ressuscitamos o pelourinho –talvez tenhamos sido o �ltimo pa�s do mundo a amarrar escravos num tronco para aplicar-lhes castigos, em nosso escravagismo tardio.
E as cenas do garoto preso ao poste pelo pesco�o no Rio de Janeiro demonstra nada mais nada menos que permanecemos ali, nas trevas.
Lembrei do pelourinho ao ver a foto do garoto "justi�ado" e lembrei de Gilberto Freyre e lembrei da casa grande e da senzala em que atolamos aparentemente para sempre.
Fui dar numa vers�o eletr�nica desta obra prima da sociologia brasileira, e eis que encontro as seguintes palavras de Freyre, a t�tulo de pr�logo:
"Eu ou�o as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem a�
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
ter� as cores das produ��es e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das tr�s ra�as
ter�o as cores das profiss�es e das regi�es.
As mulheres do Brasil em vez de cores boreais
ter�o as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poder� dizer: � assim que eu quero o Brasil
todo brasileiro e n�o apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e n�o apenas o branco e o semibranco."
O texto � da segunda d�cada do s�culo passado e revela a f� e o sonho do escritor.
Sonho que se desfaz diante do pesadelo do rapaz preto amarrado pelo pesco�o.
Como n�o lembrar aqui de outro grande do pensamento brasileiro, Sergio Buarque de Holanda, que formulou o conceito do brasileiro cordial?
A triste realidade da nossa intoler�ncia desmente os dois geniais.
N�o, n�o somos cordiais –h� os algozes e, pasme, quem os defenda desavergonhadamente.
N�o, o preto n�o se inclui em "todo brasileiro" –h� os que se julgam acima de todos os demais e imp�em sua �tica fascista.
Assim, a beliger�ncia, a ignom�nia, o �dio ascendem.
Olho por olho, e assistimos impotentes ao triunfo da barb�rie.
Que vergonha...
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