� jornalista e consultor na �rea de comunica��o corporativa.
O �pio do povo
Quando me disseram pela primeira vez que o "futebol � o �pio do povo", fiquei triste, muito triste. Eu era bem jovem e idealista, e voc�, jovem, talvez nunca tenha ouvido dizer isso, mas � assim: o futebol serve para entorpecer cora��es e mentes das pessoas com as emo��es que proporciona. De maneira que todos nos tornamos uns lesados, tontos e inebriados pelos gols, dribles e grandes defesas, permitindo assim que pol�ticos e governantes nos explorem e nos enganem.
Esta express�o e esta ideia derivam de outro dito famoso, "a religi�o � o �pio do povo", at� onde lembro perpetrada por Karl Marx (1818-1883), mas certamente apropriada de pensadores mais antigos ainda.
No fundo, a coisa � sempre a mesma: fortes emo��es a cegar, entorpecer, nublar as ideias para que se possa ludibriar o povo, surripi�-lo em seus direitos, tirando-lhe o livre arb�trio.
A tristeza daqueles 20 anos de idade, que com o tempo se transformou em convic��o, adv�m da certeza de que � perfeitamente poss�vel, na religi�o, acreditar em Deus, Jesus, Santo Ant�nio e desacreditar severamente dos pol�ticos bandoleiros, reagindo a eles, assim como, no esporte, pode-se amar o futebol e abominar a ladroagem e a corrup��o em suas m�ltiplas inst�ncias, combatendo-as.
Futebol � �pio do povo foi express�o muito em voga durante a ditadura militar, principalmente na Copa de 1970, o campeonato do Tri, em que o ditador M�dici, patrocinador dos por�es da tortura, vestia o figurino do pov�o e de radinho de pilha na orelha corria para a galera, tentando mimetiz�-la.
Tentou de toda sorte utilizar imagem daquela fant�stica sele��o (Pel�, Jairzinho, Rivelino, Carlos Alberto, Tost�o et caterva) para atrair a simpatia da popula��o, inutilmente.
Muitos cidad�os de bem morreram sob o tac�o daquela ditadura, assim como muitos criticavam a tentativa de manipula��o da Sele��o para livrar a cara da imagem do ditador, e portanto muitos torceram contra o Brasil naquela copa como que numa equivocada tentativa de rea��o ao "�pio do povo".
Ora, mas a gente, muita gente, era capaz de odiar M�dici e chorar de alegria com os 1 a 0 contra a Inglaterra, com o fant�stico 4 a 3 contra a Alemanha ou o deslumbrante 4 a 1 na final contra a It�lia. E assim sobreviveu-se entendendo que uma coisa � uma coisa, a outra, simplesmente a outra...
Mas a cada quatro anos a hist�ria mais ou menos se repete, sempre vem algu�m querendo detonar a Sele��o, o nosso futebol, nossos craques e tudo o mais que envolve o futebol em suas implica��es pol�ticas. Foi assim no resto da ditadura, 74, 78, 82, foi assim na redemocratiza��o, foi assim nas conquistas do tetra, do penta, nas decep��es na Alemanha, na Fran�a, e agora que a Copa � no Brasil, a chiadeira aumenta ainda mais.
Ningu�m � ing�nuo a ponto de n�o ver todas as besteiras que se fazem ou que se tentam fazer neste pa�s em nome da nossa paix�o nacional --at� isso criticam, paix�o, ora bolas...
Est�o gastando demais? Certamente. Poderia gastar este dinheiro em outras coisas? Provavelmente. Mas da� a dizer que a Copa do Mundo no Brasil � um desastre e que n�o h� como n�o ser contra, esta n�o, estou fora.
Como torcedor do futebol brasileiro, sobrevivi a uma ditadura de v�rios ditadores e a muitas outras decep��es (derrotas rid�culas por conta de t�cnicos absurdos e "craques pernas de pau" ...) e n�o vai ser agora que irei mudar de ideia - apesar dos Marin, Blater e quetais.
� uma quest�o de op��o, e opto pela camisa verde e amarela.
Vai Brasil!
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade