![luís francisco carvalho filho](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15073294.jpeg)
� advogado criminal. Foi presidente da Comiss�o Especial de Mortos e Desaparecidos Pol�ticos institu�da pela Lei 9.140/95. Escreve aos s�bados,
a cada duas semanas.
O poder das patrulhas
Reprodu��o/Facebook | ||
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Mostra 'Queermuseu - Cartografias da Diferen�a na Arte Brasileira', no Santander Cultural, em Porto Alegre |
Assim como os terremotos produzem r�plicas (abalos s�smicos subsequentes), a censura, sobretudo quando eficaz, � gatilho para ataques adicionais � liberdade de express�o. O que se compara � a din�mica dos eventos, n�o as consequ�ncias.
Depois do abrupto encerramento da "Queermuseu", em Porto Alegre, a pol�cia de prote��o � crian�a de Mato Grosso do Sul apreendeu a tela "Pedofilia", exposta no Museu de Arte Contempor�nea, em Campo Grande, e a Justi�a de Jundia� (SP) proibiu a encena��o de "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do C�u". Poucos dias separam os tr�s acontecimentos.
O movimento � conservador. Al�m de sedimentar valores e cren�as em abaixo-assinados e redes sociais, tem o costume de entrar em ju�zo e protestar. Assim, inibe institui��es p�blicas e privadas, mobiliza parlamentares e ju�zes.
A censura � normalmente ef�mera porque � ilegal e encontra resist�ncia nos tribunais (em 2001, o Chile foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por vetar, durante anos, o filme "A �ltima Tenta��o de Cristo", de Martin Scorsese), mas seus efeitos culturais s�o cumulativos.
� verdade que estas for�as empenhadas em censurar sentem-se fortalecidas pelo impeachment e pela queda do PT, mas a acirrada contenda pol�tica atual n�o explica tudo. Encerrado o ciclo dos presidentes generais (1964-1985), sempre houve controv�rsias.
Antes da Constitui��o de 88, Sarney impediu, em nome da f�, a exibi��o de "Je Vous Salue, Marie" ("Eu Vos Sa�do, Maria"), filme de Jean-Luc Godard. Mas o que � mais compreens�vel para crian�as, a f�bula de Jesus de sexo trocado ou a de Jesus n�o nascido do sexo?
A Prefeitura de Mar�lia (SP) restringiu em 2016 o uso do Teatro Municipal a espet�culos de "alto n�vel" e que n�o contrariem a moral e a ordem p�blica.
A nudez � reprimida pela Pol�cia Militar como pervers�o: em Curitiba (2013) e Recife (2017) foi claro o prop�sito de interferir em roteiros art�sticos, modul�veis apenas pela classifica��o et�ria.
Pensamentos politicamente corretos e progressistas tamb�m criam embara�os para as artes, para o jornalismo, para o conhecimento.
A pe�a "A Mulher do Trem" foi cancelada pela institui��o financeira que a patrocinava em S�o Paulo (2015) porque a t�cnica circense "blackface" (pintar o rosto de negro, com tinta ou carv�o) � racismo. O argumento de que artistas devem ser sens�veis a segmentos sociais eventualmente ofendidos pela representa��o (religiosos, feministas etc.) est� na g�nese dos patrulhamentos.
A ideologia cria fossos e incongru�ncias. Da mesma maneira que fecham os olhos para as atrocidades de Maduro na Venezuela, setores de esquerda permaneceram em sil�ncio diante da intensa persegui��o de homossexuais em Cuba –"maricones", agentes do imperialismo, fruto da decad�ncia burguesa.
Tem raz�o H�lio Schwartsman quando identifica nas decis�es judiciais e policiais o cerne do problema. Se artistas e institui��es privadas t�m a alternativa de submiss�o � patrulha e � autocensura, agentes p�blicos n�o s�o guardi�es de valores morais. Qualquer que seja o enredo, de bom ou mau gosto, � proibido proibir.
A censura deveria ser definida como delito. Abuso de autoridade se pune com a perda do cargo.
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